A partir da fala do Papa Francisco de que “tomar a vacina é uma ação ética”, o médico Silvio Omar Macedo Prietsch, pediatra e doutor em Ciências Pneumológicas, que coordena a Pastoral Familiar da diocese do Rio Grande (RS), apresentou em artigo várias informações e esclarecimentos sobre as vacinas que estão sendo preparadas para proteger a população mundial contra a covid-19 e sobre o processo de vacinação. Para Silvio, como Igreja, “precisamos orientar os irmãos quanto à urgência deste ato de cidadania e amor ao próximo que, em poucos dias, deveremos praticar”.
O doutor salienta que nunca houve na ciência médica uma situação semelhante ao que se vê atualmente em relação ao desenvolvimento de vacinas para evitar uma doença causada por um vírus. “Em média, uma vacina demora 10 anos para estar disponível, a mais rápida a passar por todas as etapas de produção foi a do vírus Ebola, que demorou cinco anos para ficar pronta e ser aprovada pela agência reguladora dos Estados Unidos, em 2019”, explica.
O desenvolvimento de uma vacina passa por uma série de regras de segurança e diversas etapas de testes: pré-clínicos, com animais; a fase 1, para comprovar a segurança nas pessoas; a fase 2, para verificar a produção de imunidade; e a fase 3, que busca demonstrar eficácia da imunização. Uma quarta fase ocorre após o início da imunizçaão em massa e estuda a duração do tempo de proteção contra o vírus.
Segundo doutor Silvio, mais de 200 iniciativas de desenvolvimento de vacinas contra o Sars-Cov2 (o novo coronavírus) estão em curso em diferentes países. “Dessas, menos de 50 devem ter seus registros aprovados pelas agências reguladoras”, pondera. Atualmente as vacinas que estão finalizando a fase 3 são:
- Oxford & AstraZeneca, do Reino Unido;
- CanSino com o Instituto de Beijing, na China;
- Janssen, da Johnson & Johnson, nos Estados Unidos;
- Instituto Gamaleya, na Rússia;
- Pfizer & BioNTech, nos Estados Unidos e Alemanha;
- Moderna da NIAID, nos Estados Unidos;
- Coronavac, da Sinovac & Butantan, na China e Brasil;
- Instituto de Wuhan & Sinopharm, da China;
- Instituto de Beijing& Sinopharm, da China;
- Novavax, dos Estados Unidos.
No Brasil, duas vacinas já pediram autoriação para uso emergencial pela Anvisa: a CoronaVac e Oxford. “As companhias Pfizer & BioNTech e Janssen, que também realizam testes no Brasil, já apresentaram dados de eficácia e segurança à agência, mas ainda não fizeram pedido de excepcionalidade”, informa Silvio. O Ministério da Saúde prevê começar a vacinação contra a Covid-19 nos próximos dias.
Confira a seguir 14 pontos importantes destacados por Silvio Prietsch sobre as vacinas e a vacinação:
1) TODOS DEVEM SE VACINAR DE ACORDO COM O PLANO DE IMUNIZAÇÃO DO MINISTÉRIO DA SAÚDE!
A vacina vai ajudar a superar a pandemia de Covid-19. Individualmente protegendo contra a doença e, especialmente, contra as formas mais graves. Na comunidade, diminuindo o número de enfermos e a necessidade de atendimento hospitalar, reduzindo o número de casos e, principalmente, de óbitos. Possibilitando a retomada gradual da normalidade, de modo que quanto maior for o número de pessoas vacinadas, maiores serão as possibilidades da retomada dos nossos encontros, passeios e reuniões em grupos, sem a preocupação da doença.
As duas vacinas aprovadas emergencialmente serão administradas em duas doses e é importante que as duas doses sejam da mesma vacina. Cada Secretaria de Saúde Estadual vai elaborar um calendário específico com as datas e os grupos prioritários para a vacinação. Devemos ficar atentos e fazer a vacina quando chegar a nossa vez.
2) COMO SERÁ FEITO ESSE CONTROLE? PRECISA CADASTRO EM ALGUM LUGAR PARA RECEBER A VACINA?
O plano de imunização do Ministério da Saúde prevê que todas as pessoas, nos grupos pré-estabelecidos, serão imunizadas mesmo sem portarem nenhum documento. Há, no entanto para um controle efetivo, recomenda que seja portado um dos seguintes documentos: CPF; RG ou cartão do SUS.
3) DEPOIS DE RECEBER A VACINA, A PESSOA ESTÁ LIVRE PARA ANDAR SEM MÁSCARA, IR ONDE QUISER E FAZER TUDO COMO FAZIA ANTES DA PANDEMIA?
Duas coisas são importantes observar: Primeiro, ao receber a vacina, o organismo desenvolve uma resposta imunológica com produção de anticorpos e produção de células especializadas para combater o vírus quando este chegar. Para que este processo se desenvolva são necessários alguns dias, dependendo de características individuais e de acordo com cada vacina, mas – em geral – a imunidade acontece entre 10 a 20 dias após a segunda dose.
Segundo, é preciso aguardar que uma boa parte da população seja imunizada, de modo que se observem os efeitos da redução da transmissão do vírus na comunidade. Essa situação depende fundamentalmente do número de pessoas que recebem a vacina e, por isso, é importante que se encare o estimulo à vacinação como uma missão social.
Por esses dois motivos será necessário, por algum tempo, continuar observando as medidas rigorosas de higiene, o distanciamento social equilibrado e uso de máscara.
4) AS PESSOAS QUE TEM ALGUM TIPO DE ALERGIA PODEM RECEBER A VACINA?
As pessoas que têm história de alergias graves necessitam consultar o seu médico antes de receberem qualquer dose da vacina. Esse procedimento é normal em qualquer vacina. O médico da pessoa saberá informar se é possível ou não usar o imunizante.
5) CRIANÇAS E MULHERES GRÁVIDAS SERÃO INCLUÍDAS?
Até o momento, poucos estudos incluíram crianças e não há estudos com mulheres grávidas, assim não se pode ter certeza de ausência de risco. O laboratório Pfizer & BioNTech é, ate agora, o único que incluiu na bula que mulheres grávidas ou amamentando não devem receber a vacina.
Quanto às crianças, atualmente estão sendo incluídas nos estudos e possivelmente serão vacinadas mais tarde, até porque parecem constituir um grupo de menor risco.
6) PESSOAS QUE USAM MEDICAÇÃO CRÔNICA PODEM RECEBER VACINA?
A princípio sim. A maioria dos idosos usa medicações cronicamente, mas é sempre prudente aconselhar-se com seu médico. No caso de pessoas que usam medicamentos imunossupressores como indivíduos com câncer ou transplantados pode existir um problema adicional. Nesses, a resposta do organismo à vacina pode não ser satisfatória para produzir anticorpos suficientes.
7) QUEM JÁ TEVE COVID-19 E TEM ANTICORPOS DEVE RECEBER
A VACINA?
Sim. É possível que pessoas que contraíram formas mais leves da doença não desenvolvam anticorpos de forma suficientemente eficaz para combater a doença. Além disso, há casos, controversos, de reinfecção ou recaída em pessoas que apresentaram sintomas novamente, após ter tido Covid-19.
8) APÓS RECEBER A VACINA É POSSÍVEL TER A DOENÇA, FICAR ASSINTOMÁTICO E TRANSMITIR?
É preciso esclarecer que nenhuma das vacinas causa doença. Algumas, como a CoronaVac, são feitas de vírus inativados como a vacina da hepatite A e da raiva. Outras usam outros vírus como carregador de um fragmento do Coronavírus. Esse é o caso da vacina de Oxford que usa o Adenovírus do resfriado comum.
Assim a função de uma vacina é provocar uma resposta imune de forma
a evitar que o verdadeiro vírus da doença penetre nas células e se multiplique.
No entanto, esse efeito não é 100% garantido em nenhuma vacina, então a possibilidade de pegar o vírus e ter uma forma mais branda da doença, existe. Os estudos feitos até agora demonstram que as vacinas são eficazes na redução global dos sintomas e na morte por Covid-19, mas ainda não se sabe se impedem a infecção e a transmissão do vírus. Será necessário um grande número de pessoas vacinadas na comunidade para se ter um impacto real na transmissão e isto é mais um motivo importante para se vacinar e entusiasmar os outros a receber a vacina.
9) QUANTO TEMPO DURARÁ A PROTEÇÃO CONFERIDA PELA VACINA?
Ainda não é possível responder essa pergunta. Os voluntários que fizeram parte dos estudos de fase 3 continuarão a ser acompanhados, ao longo do tempo, com o intuito de determinar a duração da imunidade. Este é um procedimento normal em qualquer vacina, de forma que só mais tarde saberemos qual a necessidade real de reaplicação de novas doses e qual a sua periodicidade.
10) ESSAS VACINAS TERÃO EFEITOS COLATERAIS?
Os estudos mostraram um índice muito pequeno de efeitos colaterais e muito leves. Os poucos efeitos apresentados foram dor no local da aplicação por algumas horas, febre baixa e dor no corpo. Nenhuma das 10 vacinas que estão na fase 3 apresentaram efeitos colaterais suficientemente graves para que as pesquisas viessem ser interrompidas.
11) AS VACINAS CONTRA A COVID-19 VÃO ACABAR COM O VÍRUS?
Nenhuma vacina tem o poder de destruir totalmente um vírus. O objetivo da vacinação é controlar as doenças provocadas pelos vírus na população através da interrupção das cadeias de transmissão e da disseminação viral na comunidade. Para que isso ocorra é preciso que a população colabore, participando das campanhas de vacinação.
A previsão da Organização Mundial da Saúde é que o coronavírus, como a maioria dos vírus que causam males à humanidade, torne-se endêmico – ou seja – continuará circulando e provavelmente deverá ser necessária vacinação periódica a exemplo da Influenza.
12) FOI ANUNCIADO QUE A CORONAVAC TEM 50,38% DE EFICÁCIA, ELA SERÁ UMA BOA VACINA?
Essa é uma probabilidade estatística de eficácia global. Entre os indivíduos que usaram a vacina e tiveram a enfermidade, 22% tiveram casos leves e nenhum teve casos moderados ou graves. Nunca nos preocupamos com a eficácia das vacinas que usamos nas últimas décadas, mas agora estamos preocupados com esses números que revelam probabilidades estatísticas.
O que devemos nos preocupar é com a eficiência das vacinas. Quanto a isso, provavelmente a CoronaVac tem eficiência muito maior que outras vacinas, considerando a capacidade de produção e a simplicidade de distribuição, para que chegue de forma adequada às pessoas.
13) SERÁ OBRIGATÓRIO, NO FUTURO, TOMAR A VACINA?
De uma maneira geral é pratica comum a obrigatoriedade da realização de algumas vacinas para determinadas atividades, no mundo inteiro. Por exemplo: é necessário estar imunizado para a febre amarela para viajar para muitos países; é necessário também ter a carteira de vacinação em dia na maioria das cidades brasileiras para fazer matrícula dos filhos em escolas públicas.
Precisamos lembrar que vacinação obrigatória não é a mesma coisa que vacinação forçada, ou seja, as pessoas podem não tomar a vacina, mas estarão sujeitas a determinadas regras que venham a ser criadas a nível nacional ou internacional.
14) HAVERÁ A POSSIBILIDADE DE FAZER A VACINA EM CLINICA PARTICULAR?
A orientação dos órgãos de saúde nacionais e internacionais é que, neste momento, não haja disponibilização de vacinas para uso privado. Isto porque todas as doses produzidas devem ser dirigidas aos governos com a finalidade de garantir que as pessoas dos grupos de risco sejam imunizadas o mais rapidamente possível.
O Brasil é um país extenso. Vacinar a maior parte da população é uma tarefa imensa que só será concluída satisfatoriamente com a participação de todos. Este é um momento ímpar na nossa história, pois cada um de nós pode, efetivamente, contribuir com o próximo independente da sua renda, cor, sexo ou religião.
Doutor Silvio Prietsch utilizou as seguintes referências:
ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária
BUTANTAN – Instituto Butantan
FIOCRUZ – Fundação Oswaldo Cruz
https://g1.globo.com
https://www.ccnbrasil.com.br
MS – Ministério da Saúde
OMS – Organização Mundial da Saúde
Pfizer Inc. – Ian Read