A cidade de Changanassery, Kerala (Índia), sedia nesta semana o curso para especialistas em pastoral familiar, organizado pelo Instituto João Paulo II para Estudos sobre o Matrimônio e a Família, vinculado à sede em Roma. A abertura foi realizada pelo presidente da Pontifícia Academia para a Vida, Dom Vicenzo Paglia, que afirmou que há muito mais a fazer para proclamar o evangelho da família.
“A teologia a partir do Magistério do Papa Francisco e das grandes mudanças da era atual, está enfrentando um novo desafio para falar sobre a família de maneira adequada e renovada. Infelizmente, a reflexão teológica sobre a família, entendida como um conjunto de relacionamentos, ainda é fraca. Muito se tem pensado sobre a união marido/mulher, sobre a dimensão do amor conjugal, e há numerosos estudos sobre o matrimônio – entendido em sua realização como casal – especialmente no aspecto jurídico-canônico, embora o direito de família esteja praticamente ausente do Código de Direito. Mas ainda mais rara é uma verdadeira Teologia da Família, salvo algumas raríssimas exceções. Uma teologia mais profunda do matrimônio é indispensável e urgente”, destacou dom Paglia.
Trata-se do que propôs o Pontifício Instituto Teológico João Paulo II para as Ciências do Matrimônio e da Família. O novo plano de estudos tem como objetivo decisivo resgatar a densidade cristã e humana da instituição familiar, reconhecendo nela o lugar real da própria fecundidade do sacramento cristão. A ideia que orienta o projeto tem um objetivo claro: a família, com toda a sua constelação de relações, internas e externas, não é a mera “consequência” do matrimônio, mas sim o seu “desdobramento” e a sua continuação na sociedade, na Igreja.
“A teologia, que justamente redescobriu o caráter fundante do amor íntimo e fecundo do casal humano, com sua capacidade de remeter às profundezas cristológicas e trinitárias do mistério do amor de Deus, permaneceu decididamente pobre em referência à família na complexidade de suas relações. É um vazio que deve ser preenchido”, disse o presidente da Pontifícia Academia para a Vida.
Em sua exposição, o arcebispo reforçou que é um erro grave suprimir a diferença entre homem e mulher. “Isso não significa negar, é claro, o fato de que a interpretação dessa diferença e de suas figuras sociais e culturais permanece atribuída à nossa liberdade e responsabilidade. Mas as características fundamentais dessa diferença e do pacto ao qual ela está primariamente destinada devem ser apreciadas como um dom, e não concebidas como um obstáculo”, apontou.
Segundo ele, a mensagem bíblica é clara: o homem e a mulher vêm de Deus e estão inextricavelmente ligados um ao outro. Para ambos, é impossível viver sem o outro. “De acordo com a narrativa bíblica, a aliança de Deus é homem e mulher juntos. O fim do processo criativo é a humanidade: homem e mulher como guardiões da criação, entendida como um lar comum. E se é verdade que ‘o matrimônio é indissolúvel, ainda mais verdadeira é a indissolubilidade do vínculo da Igreja com seus filhos e filhas: pois é como aquele que Cristo estabeleceu com a Igreja, cheia de pecadores que foram amados quando ainda eram pecadores. E eles nunca são abandonados”, explicou.
*Com informações da Vatican News