O ano de 2020 vai chegando ao fim e já está marcado na história pela pandemia do novo coronavírus, surgido ainda em 2019 com as implicações sentidas globalmente a partir de fevereiro deste ano. Ao recordar este tempo, não é possível esquecer-se das perdas, das dores, das dificuldades e das consequências que devem se estender por um período ainda desconhecido.
A Igreja, chamada a sempre dar a razão da sua esperança, tem apontado por gestos e palavras que “devemos manter o nosso olhar fixo firmemente em Jesus e com esta fé abraçar a esperança do Reino de Deus que o próprio Jesus nos traz”, como afirmou o Papa Francisco na primeira catequese da série “Curar o mundo”, nas quais refletiu sobre a pandemia do novo coronavírus.
A pandemia do novo coronavírus trouxe consigo o isolamento, as perdas, o luto, a mudança na rotina das famílias com crianças longe da escola, desafios para os casais e a solidão dos idosos. Muitos projetos foram adiados, novas adaptações foram necessárias aos trabalhadores que conseguiram continuar com seus empregos.
Também foram muitos os impactos socioeconômicos. De acordo com Unicef, o número de brasileiros sem dinheiro para comprar comida dobrou de julho a novembro. Em sua reflexão, o Papa Francisco afirmou que a pandemia continua a causar feridas profundas, “desmascarando as nossas vulnerabilidades. Há muitos mortos, muitos doentes, em todos os continentes. Muitas pessoas e tantas famílias vivem um tempo de incerteza, devido a problemas socioeconômicos, que atingem especialmente os mais pobres”.
Mas, diante de tudo isso, a esperança, o testemunho cristão e o amor de Cristo sobressaem.
Esperança e oportunidades
As virtudes teologais na tradição cristã – fé, esperança e caridade – “são dons que curam e nos fazem curar, dons que nos abrem novos horizontes, até quando navegamos nas difíceis águas do nosso tempo”, afirma o Papa Francisco.
São essas virtudes que têm auxiliado na busca de saídas criativas para a crise, de novas visões diante das dificuldades, de restauração diante das perdas.
De Norte a Sul do Brasil, as famílias empenharam-se em mobilizações de oração e de caridade para aliviar o sofrimento espiritual e físico da pandemia. A Pastoral Familiar, em diferentes regionais, promoveu a escuta ativa, além de ações de arrecadação de alimentos, como as prateleiras solidárias e o envolvimento na ação emergencial “É tempo de cuidar”.
De acordo com a psicóloga portuguesa Marta Pimenta, as sucessivas perdas e adaptações por conta da pandemia “requerem da nossa parte um esforço muito grande para lidar com estas situações”. Tal esforço se reflete em algumas fases: raiva, negação, depressão, negociação. “A pessoa só está bem psicologicamente quando aceita e consegue perceber que essa perda existiu e consegue ter um novo funcionamento saudável no seu dia a dia”, explica.
Pode ajudar nesse processo um novo olhar para a realidade, enxergando, além das dificuldades, as oportunidades. O tempo de pandemia, por exemplo, foi de redescoberta da Igreja doméstica e de possibilidade de crescimento na família.
“Todas as situações de sofrimento são oportunidades para as pessoas se conhecerem a si próprias, aos outros, oportunidades de aprendizagem, de crescimento”, salienta Marta. Diante do ritmo acelerado pelo qual o mundo passava, a psicóloga acredita que a pandemia tem sido oportunidade para as famílias reverem padrões de relacionamento e comunicação.
Um mundo novo e melhor
Em suas catequeses durante este período de pandemia, o Papa Francisco quis refletir, à luz do Evangelho, sobre como curar o mundo que sofre de um mal-estar “que a pandemia realçou e acentuou”. Francisco destacou a dignidade humana, a solidariedade e a subsidiariedade, “caminhos indispensáveis para promover a dignidade humana e o bem comum”.
Como discípulos de Jesus, o convite é seguir os passos de Cristo, “optando pelos pobres, reconsiderando o uso dos bens e cuidando da casa comum”.
O Papa também destacou em suas catequeses que, no meio da pandemia que nos aflige, é preciso estar ancorado nos princípios da doutrina social da Igreja, “deixando-nos guiar pela fé, pela esperança e pela caridade”.
Nas virtudes teologais, “encontramos uma ajuda sólida para sermos agentes de transformação que fazem sonhos grandiosos, que não se detêm nas mesquinharias que dividem e magoam, mas encorajam a gerar um mundo novo e melhor”.