Preparação para o matrimônio e acompanhamento nos primeiros anos da vida familiar. Essas são as principais recomendações do secretário do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida do Vaticano, padre Alexandre Awi Mello, para a Pastoral Familiar no Brasil durante o Ano Família Amoris Laetitia. Em entrevista exclusiva para o Portal Vida e Família, o padre brasileiro falou da oportunidade de redescobrir a beleza do documento que é resultado de dois sínodos sobre a realidade e a beleza do amor na família.
Para o padre Alexandre, o Ano Família Amoris Laetitia é oportunidade para “tomar o documento novamente em mãos, lê-lo, descobrir como aplicá-lo da melhor maneira possível nas nossas famílias, nas nossas comunidades, nas nossas dioceses”.
O período de 19 de março de 2021 a 26 de junho de 2022, “é um tempo para aprofundar na riqueza da vida familiar” e das recomendações práticas e concretas que o Papa dá para cada família: “viver a alegria do amor, do perdão, da entrega, da missão, justamente no dia-a-dia, na nossa vida cotidiana”.
Padre Alexandre também comenta sobre as iniciativas voltadas para os jovens, aos quais é destacada a vocação para o matrimônio, e dos materiais e iniciativas preparadas pelo Dicastério.
Ao comentar sobre as realidades que chamam atenção e das experiências exitosas, padre Alexandre ressalta as iniciativas de preparação para o matrimônio e acompanhamento “para que depois o casamento possa dar seus frutos e que os jovens esposos possam ser fiéis àquele sim e perceber realmente a vida familiar como um caminho de santidade”. Sua recomendação para o Ano Família Amoris Laetitia é que a Pastoral Familiar possa investir e acentuar a preparação dos jovens, dos casais ao matrimônio e também o acompanhamento nos primeiros anos da vida familiar.
Confira a entrevista na íntegra.
A proposta do Ano Família Amoris Laetitia marca os cinco anos do documento que é fruto de dois sínodos que trataram de temas delicados sobre a situação da família no mundo atual. A celebração também é um relançamento do texto?
A proposta do ano Família Amoris Laetitia marca os cinco anos do documento que é fruto de dois sínodos que trataram sobre a realidade e a beleza do amor na família, especialmente no mundo atual. A oportunidade que temos é justamente de redescobrir a beleza desse documento, tomar o documento novamente em mãos, lê-lo, descobrir como aplicá-lo da melhor maneira possível nas nossas famílias, nas nossas comunidades, nas nossas dioceses. Esse é o objetivo deste ano, que possamos realmente redescobrir, revalorizar, ler com mais atenção e tirar todas as consequências possíveis desse documento que é fruto de um longo trabalho, uma longa reflexão e, sobretudo, uma ação especial do Espírito Santo para que a família possa ser vista como Deus a vê no mundo de hoje.
O Dicastério fala em colocar a família no centro da solicitude pastoral e da atenção de cada realidade pastoral e eclesial. Esse desejo revela que ainda não houve a possibilidade de real aplicação desse documento em muitas Igrejas particulares?
Um dos objetivos deste Ano Famílias Amoris Laetitia é justamente colocar a família no centro da atenção pastoral da Igreja e fazer das famílias protagonistas realmente da Pastoral Familiar, protagonistas da sociedade, de um mundo novo. Não é necessariamente que o documento não tenha sido aplicado em muitos lugares, mas, de fato percebemos que em muitos lugares ficou talvez mais a impressão somente de uma dimensão do documento, que era a dimensão de acolhida, de abertura a tantas famílias que têm dificuldade de viver a beleza e a grandeza da vocação matrimonial. Mas, por outro lado, o documento traz tantas riquezas, especialmente, por exemplo, nos capítulos 3 e 4, que o Papa coloca como o centro, o coração desse documento, que são muitas recomendações práticas para viver a alegria do amor, do perdão, da entrega, da missão, justamente no dia-a-dia, na nossa vida cotidiana. Certamente é um tempo pra redescobrir a beleza de todos esses aspectos da vida familiar. É um tempo para aprofundar na riqueza da vida familiar e dessas recomendações tão práticas, concretas que o Papa dá para cada família.
Quais as perspectivas em relação às iniciativas voltadas para os jovens?
Em relação aos jovens, nós gostaríamos realmente que este fosse um ano onde cada jovem pudesse se perguntar sobre a beleza da vocação matrimonial. Talvez quando se fala de vocação se pensa imediatamente no ministério sacerdotal ou na vida religiosa, e poucas vezes na vida do jovem se apresenta realmente a beleza, a riqueza da vocação matrimonial como um chamado de Deus, como uma vocação específica para construir a Igreja e a sociedade.
Esperamos que algumas das iniciativas nas paróquias e até mesmo os vídeos e subsídios que nós vamos produzir durante este ano possam ser usados pelos grupos de jovens, porque assim eles vão tendo a possibilidade de se fazer essa pergunta de descobrir realmente que o chamado ao matrimônio não é algo que simplesmente se tem que fazer – se casa porque todo mundo se casa -, mas, pelo contrário, a beleza do casamento, da vida matrimonial, é Jesus que se faz presente na vida do casal, na vida da família e assim renova a sociedade a partir de dentro.
Assim a gente espera que os jovens possam descobrir também, ao longo deste ano, que toda a pastoral em torno ao matrimônio seja transversal, comece lá na infância, lá na catequese, já quando as crianças começam a participar da vida da Igreja, que escutem falar da beleza da vocação matrimonial. Depois isso nos grupos de jovens, nos grupos de namorados, de noivos, e assim seja um tema permanente na vida eclesial.
Dessa forma, os materiais, os eventos e as iniciativas do Ano Família Amoris Laetitia pretendem ajudar na implementação das indicações do Papa Francisco?
Os materiais, eventos e iniciativas do ano Família Amoris Laetitia certamente estão pensados para ajudar na implementação das indicações do Papa. Alguns materiais serão produzidos pelo próprio Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, mas certamente esses vão ser uma minoria, comparado com todas as iniciativas que se podem tomar em nível paroquial, diocesano, no nível das conferências episcopais.
De fato, o nosso convite é que as famílias sejam criativas, possam ser protagonistas de iniciativas ao longo deste ano para justamente revitalizar todas as recomendações que o Papa dá nessa exortação apostólica. O Dicastério vai produzir alguns materiais, como, por exemplo, uma série de vídeos onde o Papa Francisco vai estar recordando elementos principais de cada um dos capítulos da exortação Amoris Laetitia. E esses vídeos virão junto com subsídios para que possam ser trabalhados, vistos em família. Seja em casa, como nas comunidades paroquiais. Essa é uma das muitas iniciativas que teremos ao longo do ano.
Mas também estamos muito abertos e ficaremos muito felizes de que cada uma das dioceses, paróquias, ali onde existe a Pastoral Familiar que possam sentir realmente esse convite do Papa Francisco a revitalizar, a implementar com mais força todas as recomendações da exortação.
5. Pensando numa perspectiva até pessoal, o que o senhor, na sua percepção como brasileiro, o que tem observado em relação à situação da família no país? E em relação à aplicação pastoral da Amoris Laetitia, o que destaca de experiências exitosas e quais realidades precisam de mais atenção?
Durante o caminho sinodal, nós percebemos que os jovens e a sociedade têm uma grande valorização, graças a Deus, pela realidade familiar. A grande maioria valoriza as suas famílias e quer ter uma família. Nesse sentido, também no Brasil nós percebemos essa força da família como célula básica da sociedade – obviamente muito atacada, muito desestruturada em muitos lugares, com muitas dificuldades para viver em plenitude a vocação familiar matrimonial. Por isso, aplicar a exortação apostólica Amoris Laetitia nesse contexto, e no contexto especificamente brasileiro, é um grande desafio. Mas, por outro lado, nós vemos muitas iniciativas positivas, bonitas, encontros de casais, atividades onde os casais reveem a sua própria vida, fazem uma revisão da sua própria vida familiar. E talvez um dos pontos que precisamos neste ano redescobrir e acentuar novamente é o valor da preparação ao matrimônio. Nesse sentido, todas as iniciativas que puderem ser feitas para preparar os jovens no noivado, no namoro inclusive, sem ainda na perspectiva do casamento, mas já começando a educar o tema da afetividade, da sexualidade, depois a importância de acompanhar bem para o casamento, ter muita consciência do que estão fazendo, inclusive há iniciativas muito positivas de um acompanhamento personalizado, como existe aí no Brasil.
Eu acho que essas iniciativas são absolutamente muito importantes para que depois o casamento possa dar seus frutos e que os jovens esposos possam ser fiéis àquele sim e perceber realmente a vida familiar como um caminho de santidade. Por isso, recomendo que durante esse ano, no Brasil, também na nossa Pastoral Familiar se possa investir, se possa acentuar a preparação dos jovens, dos casais ao matrimônio e também o acompanhamento nos primeiros anos da vida familiar. Desejo a todos um ano muito abençoado para todas as famílias do Brasil.
Fotos: Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida