O uso dos contraceptivos pode interferir na paternidade responsável? Saiba como é possível viver o relacionamento conjugal de forma saudável e no amor fraterno, na reflexão de MARLI VIRGINIA LINS E NOBREGA*
Os métodos de planejamento familiar natural são métodos de regulação da fertilidade, que fazem parte de um estilo de vida cristão. Não são métodos contraceptivos, não são pílulas anti-bebês e não provocam abortos.
O primeiro desafio para utilização dos métodos naturais é a mentalidade contraceptiva. Falta aos cristãos a compreensão do valor, da beleza e da dignidade da vida humana, criada por Deus à sua imagem e semelhança. A pessoa é digna e boa, e o filho desta pessoa é digno e bom?
Muitos casais têm medo de ter um filho, ou têm medo de ter mais um filho, porque não veem este filho como um presente do amor de Deus, mas como um mal. A mentalidade contraceptiva os faz considerar o filho não concebido como uma “coisa indesejada”, e desta maneira, mesmo inconscientemente, desprezam o ser humano, desvalorizam a vida.
Deus cria a mulher com períodos de fertilidade, e causar uma disfunção nesta mulher, a infertilidade, ainda que temporária, é reduzir a sexualidade a um simples objeto de prazer, por isto, a mentalidade e os métodos contraceptivos são intrinsicamente ruins.
O segundo grande desafio é o conceito errôneo de paternidade responsável. Casais usam os métodos contraceptivos acreditando que eles são necessários para exercer a paternidade responsável, mas a paternidade responsável pressupõe uma abertura aos filhos, e os contraceptivos têm como finalidade excluir os filhos do relacionamento conjugal.
O ato matrimonial, ao unir intimamente os esposos, conserva o amor mútuo e recíproco, e os tornam aptos a gerarem uma nova vida, aptos a paternidade. Os esposos realizam a vocação matrimonial quando respeitam em cada ato conjugal esses dois aspectos essenciais: o unitivo e o procriativo . Realizam a missão a que foram chamados e exercem a paternidade de maneira responsável, mesmo quando com prudência e generosidade aceitam gerar e educar uma prole numerosa .
Na vida do casal podem existir circunstâncias sérias, tanto físicas quanto psicológicas, ou ainda circunstâncias externas, as quais impossibilitam a geração de um novo filho. Então, neste caso para exercer a paternidade responsável é lícito utilizar dos métodos de regulação da natalidade, mantendo as relações conjugais nos períodos de infecundidade da mulher.
O terceiro desafio é a falta de conhecimento dos métodos naturais. Os métodos de regulação da natalidade são métodos científicos muitos eficazes. Eles podem ser utilizados por mulheres em todas as fases da vida reprodutiva, da adolescência à menopausa. Podem ser utilizados por mulheres com ciclos regulares e irregulares.
Quando pensamos nos desafios podemos nos tornar pessimistas em relação à utilização dos métodos naturais. No entanto, já existe uma mudança de comportamento por parte dos cristãos, que compreendem a importância de estarem abertos à vida.
Podemos constatar esta nova realidade com a multiplicação de pedido de cursos sobre os métodos naturais e a quantidade de pessoas dispostas a serem instrutoras deles.
Também pessoas sem referência religiosa, mas em busca de uma vida saudável, procuram os métodos naturais para não ficarem expostas as doenças causadas pelo uso dos hormônios sexuais femininos.
O testemunho de jovens casais que viveram a castidade no namoro, e que por isso mesmo não encontram dificuldade em viver a castidade no matrimonio. Eles utilizam os períodos infecundos para o ato matrimonial, e os períodos de fecundidade para aprofundar o diálogo, o companheirismo, o amor fraterno, mostram a beleza da vida, de quem faz a experiência de um amor pleno.
Casais maduros, ao abandonarem os contraceptivos para serem fieis ao projeto de amor de Deus, descobrem o dom recíproco, e viverem o amor conjugal sem drogas e sem pecado.
A ciência tem mostrado a importância destes métodos, estudando em profundidade os ciclos femininos e colocando novos métodos a serviço dos casais.
O método Billings é o mais difundido e consiste na observação do muco cervical. O método da temperatura corporal basal é muito utilizado em associação ao método de Billings principalmente nos extremos da vida reprodutiva. O método sintotérmico Sensiplan, além da observação do muco e da temperatura, também orienta o toque do colo uterino como uma ajuda adicional.
Alternativa atraente para os apaixonados por tecnologia são os monitores de fertilidade. Dispositivos eletrônicos capazes de usar vários métodos para diagnostico de fertilidade podem analisar mudanças de níveis de hormônios, a temperatura corporal basal, a resistência elétrica de saliva e secreções vaginais, ou faz uma combinação desses métodos. Entre eles destacamos: Baby Comp que utiliza a temperatura corporal, Ovulens que mostra a cristalização da saliva, Persona que faz o teste do LH, e Ovacue que analisa a mudança dos eletrólitos na saliva e na secreção vaginal.
Os desafios para utilização dos métodos naturais são grandes, e as perspectivas são muito boas, mas é a liberdade de cada casal a grande responsável pela utilização ou não destes métodos.
*Médica Ginecologista e Obstetra, membro da Comissão de Bioética da CNBB.
Conf. Encíclica Humanae Vitae
Conf Gaudium et Spes, 50.
Conf. Encíclica Humanae Vitae 16