O secretário-geral da Conferência nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Ricardo Hoepers, e o casal coordenador nacional da Pastoral Familiar, Alisson e Solange Schila, participam do seminário “Evangelizar com as famílias de hoje e de amanhã. Desafios eclesiológicos e pastorais”, que se encerra nesta terça-feira (3), em Roma. O evento é promovido pelo Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida. O bispo de Ponta Grossa (PR) e presidente da Comissão Episcopal para a Vida e a Família da CNBB, dom Bruno Elizeu Versari, teve que cancelar a sua participação após assumir temporariamente também a Diocese de Paranaguá (PR).
Aos participantes, o Papa Leão XIV enviou uma mensagem na qual impulsiona bispos e fiéis a se tornarem pescadores de famílias em meio a tantas dificuldades no mundo atual.
Leia o texto na íntegra:
MENSAGEM DE SUA SANTIDADE O PAPA LEÃO XIV
AOS PARTICIPANTES DO SEMINÁRIO
“EVANGELIZAR COM AS FAMÍLIAS DE HOJE E DE AMANHÃ.
DESAFIOS ECLESIOLÓGICOS E PASTORAL”,
ORGANIZADO PELO DICASTÉRIO PARA OS LEIGOS, A FAMÍLIA E A VIDA[2 a 3 de junho de 2025]
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Queridos irmãos e irmãs!
Alegro-me que, no dia seguinte à celebração do Jubileu das Famílias, das Crianças, dos Avós e dos Idosos , um grupo de especialistas se tenha reunido no Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida para refletir sobre o tema: Evangelizar com as famílias de hoje e de amanhã. Desafios eclesiológicos e pastorais .
Este tema exprime bem a solicitude materna da Igreja pelas famílias cristãs presentes em todo o mundo: membros vivos do Corpo Místico de Cristo e primeiro núcleo eclesial ao qual o Senhor confia a transmissão da fé e do Evangelho, especialmente às novas gerações.
A profunda questão do infinito inscrita no coração de cada homem confere aos pais e às mães a tarefa de fazer com que seus filhos tomem consciência da Paternidade de Deus, segundo o que escreveu Santo Agostinho: “Assim como em Ti temos a fonte da vida, assim na Tua luz veremos a luz” ( Confissões , XIII, 16).
Vivemos um tempo marcado por uma crescente busca pela espiritualidade, especialmente entre os jovens, ávidos por relacionamentos autênticos e mestres para a vida. Justamente por isso, é importante que a comunidade cristã saiba lançar o olhar para longe, tornando-se guardiã, diante dos desafios do mundo, do anseio de fé que habita o coração de cada um.
E é particularmente urgente, neste esforço, dedicar especial atenção às famílias que, por várias razões, estão espiritualmente mais distantes: aquelas que não se sentem envolvidas, que dizem não estar interessadas, ou que se sentem excluídas dos caminhos comuns, mas que, no entanto, gostariam de fazer parte de uma comunidade, na qual possam crescer e caminhar. Quantas pessoas hoje ignoram o convite para encontrar Deus!
Infelizmente, diante dessa necessidade, uma “privatização” da fé cada vez mais difundida muitas vezes impede esses irmãos e irmãs de conhecer as riquezas e os dons da Igreja, lugar de graça, fraternidade e amor!
Assim, mesmo com desejos sadios e santos, ao buscarem sinceramente pontos de apoio para galgar os belos caminhos da vida e da plena alegria, muitos acabam se apoiando em falsas sustentações que, não suportando o peso de suas necessidades mais profundas, os fazem deslizar para baixo, distanciando-os de Deus e fazendo-os naufragar num mar de solicitações mundanas.
Entre eles, encontram-se pais e mães, crianças, jovens e adolescentes, por vezes alienados por modelos ilusórios de vida, onde não há espaço para a fé, para cuja difusão contribui não pouco o uso distorcido de meios potencialmente bons em si mesmos – como as redes sociais – mas nocivos quando se tornam veículos de mensagens enganosas.
Pois bem, o que move a Igreja em seu esforço pastoral e missionário é justamente o desejo de ir “pescar” esta humanidade, de salvá-la das águas do mal e da morte através do encontro com Cristo.
Talvez muitos jovens, que hoje optam pela coabitação em vez do matrimônio cristão, precisem de fato de alguém que lhes mostre de modo concreto e compreensível, especialmente com o exemplo de vida, o que é o dom da graça sacramental e que força dela provém; que os ajude a compreender “a beleza e a grandeza da vocação ao amor e ao serviço da vida” que Deus dá aos esposos (São João Paulo II, Exortação Apostólica Familiaris consortio , 1).
Da mesma forma, muitos pais, ao educarem os seus filhos na fé, precisam de comunidades que os apoiem na criação de condições para que possam encontrar Jesus, «lugares onde se realize aquela comunhão de amor que encontra a sua fonte última no próprio Deus» (Francisco, Audiência Geral , 9 de setembro de 2015).
A fé é, antes de tudo, uma resposta a um olhar de amor, e o maior erro que podemos cometer como cristãos é, nas palavras de Santo Agostinho, “fingir que a graça de Cristo consiste em seu exemplo e não no dom de sua pessoa “ ( Contra Iulianum opus imperfectum , II, 146). Quantas vezes, em um passado talvez não tão distante, esquecemos essa verdade e apresentamos a vida cristã principalmente como um conjunto de preceitos a serem respeitados, substituindo a experiência maravilhosa do encontro com Jesus, Deus que se entrega a nós, por uma religião moralista, pesada, pouco atraente e, de certa forma, inviável na concretude da vida cotidiana.
Neste contexto, cabe antes de tudo aos Bispos, sucessores dos Apóstolos e Pastores do rebanho de Cristo, lançar a rede ao mar, tornando-se «pescadores de famílias». Os leigos, porém, também são chamados a empenhar-se nesta missão, tornando-se, juntamente com os Ministros ordenados, «pescadores» de casais, jovens, crianças, mulheres e homens de todas as idades e condições, para que todos possam encontrar Aquele que só pode salvar. De facto, cada um de nós, no Batismo, é constituído Sacerdote, Rei e Profeta para os irmãos, e é feito «pedra viva» (cf. 1Pd 2, 4-5) para a construção do edifício de Deus «na comunhão fraterna, na harmonia do Espírito, na convivência das diversidades» ( Homilia , 18 de maio de 2025).
Peço-vos, portanto, que vos unais aos esforços com que toda a Igreja vai em busca destas famílias que, sozinhas, já não se aproximam; que entendais como caminhar com elas e como ajudá-las a encontrar a fé, tornando-se por vossa vez “pescadores” de outras famílias.
Não desanime diante das situações difíceis que você enfrentará. É verdade que hoje as famílias estão feridas de muitas maneiras, mas “o Evangelho da família também nutre aquelas sementes que ainda estão esperando para amadurecer e deve cuidar daquelas árvores que murcharam e não precisam ser negligenciadas” (Francisco, Exortação Apostólica Amoris laetitia , 76).
Por isso, há tanta necessidade de promover o encontro com a ternura de Deus, que valoriza e ama a história de cada pessoa. Não se trata de dar respostas precipitadas a perguntas desafiadoras, mas sim de nos aproximarmos das pessoas, ouvi-las, procurarmos entender com elas como enfrentar as dificuldades, estando também prontos a abrir-nos, quando necessário, a novos critérios de avaliação e a diferentes modos de agir, porque cada geração é diferente da outra e apresenta os seus próprios desafios, sonhos e interrogações. Mas, em meio a tantas mudanças, Jesus Cristo permanece “o mesmo ontem, hoje e sempre” ( Hb 13,8). Portanto, se queremos ajudar as famílias a viverem caminhos alegres de comunhão e a serem sementes de fé umas para as outras, é necessário que, antes de tudo, cultivemos e renovemos a nossa identidade de crentes.
Caros irmãos e irmãs, agradeço-vos pelo que fazeis! Que o Espírito Santo vos guie no discernimento dos critérios e métodos de compromisso eclesial para apoiar e promover a pastoral familiar. Ajudemos as famílias a ouvir com coragem a proposta de Cristo e os convites da Igreja! Recordo-vos na oração e, de coração, concedo a todos a Bênção Apostólica.
Do Vaticano, 28 de maio de 2025
Leão PP. XIV