Famílias de todo o Brasil têm aproveitado o período da pandemia para fortalecer as relações e viver melhor a fé, mesmo com as Igrejas fechadas ou com restrições. A família Schila, de Dourados (MS), por exemplo, aprimorou os momentos de oração neste período em que todos estão em casa.
“O contexto da pandemia fortaleceu, colabora por estarmos mais juntos, fortaleceu nessa questão da celebração em família, nessa questão da reflexão, principalmente, e a oração em família”, considera Alisson Roberto Schila, que junto com sua esposa Solange Gregory, coordena o Setor Pré-Matrimonial da Pastoral Familiar em âmbito nacional.
Mas foi e tem sido preciso modificar rotinas neste tempo de pandemia. Primeiro, a família buscou organizar um ambiente para estar no clima da celebração acompanhada pela internet. Agora, com a reabertura gradual das Igrejas, os filhos mais novos, de 9 e 4 anos, ainda não podem participar e acompanham as missas com os avós on-line.
O casal e os três filhos têm vários momentos de celebração, reflexão e oração familiar, que vão desde a leitura do Evangelho do dia até um domingo voltado para o convívio em família.
Evangelho
O dia começa e a família se prepara para as atividades cotidianas. Na hora do café da manhã, todos à mesa e é o momento de ler e refletir sobre a Palavra de Deus. Antes da pandemia, este momento ocorria no trajeto entre a casa e a escola das crianças.
“Nesse ponto, a pandemia favoreceu esse momento, porque agora a gente pode fazer no café da manhã. Nós temos um pouco mais de tempo com eles de manhã e conseguimos sentar à mesa e ali fazer esse momento de oração, onde sempre um deles vai ler a Palavra do dia na Bíblia, o Evangelho. A gente faz questão de que eles encontrem na Bíblia a passagem do dia, até para que eles tenham a experiência no manuseio da Bíblia“, conta Solange.
A família que ilustra a capa do Hora da Família Mensal, cujo título é “Família Casa da Palavra”, acompanha a reflexão Viver a Palavra, oferecida por dom Mário Spaki e divulgada na página da CNBB no Facebook, considerada “lúdica” e que “traz a pergunta de como viver esse Evangelho no dia de hoje”. “A gente troca uma ideia, sempre transformando aquela Palavra na nossa vida, o que podemos nos propor a ser melhores naquele dia”, conta Solange.
Recanto da fé
Outra iniciativa da família que ganhou mais destaque neste período foi o chamado “Recanto da fé”. É o local onde estão os referenciais do Sagrado, como água benta, o crucifixo, um santo de devoção, a Sagrada família, a Bíblia.
Segundo Alisson Schila, este ambiente tomou um lugar mais central na casa: “A gente conseguiu fazer com que ele ficasse mais em evidência. Nós acabamos usando mais esse espaço no nosso cotidiano e eles [os filhos] também entram em contato com esses sacramentais mais vezes por dia”.
O pai acredita que o período de isolamento social favoreceu para que tivessem um olhar diferenciado para o espaço, fazendo com que os filhos pudessem também usufruir com maior clareza do significado da proposta e “possam levar isso para a vida deles”.
O recanto da fé também é ambiente de aprender sobre a vida em comunidade e sobre a solidariedade. Há uma caixa que é colocada no local para que as crianças coloquem roupas, calçados ou brinquedos que não utilizam mais. Também há um pequeno cofre para, a partir das pequenas renúncias do cotidiano, os filhos depositarem algum valor que é direcionado à comunidade numa iniciativa chamada “dízimo mirim”. As doações da caixa são encaminhadas para os Vicentinos.
Tudo isso gera um aprendizado, segundo Alisson: “Para que eles aprendam desde cedo esse sentido de pertença à comunidade na questão do dízimo e possam colaborar em todas as dimensões que a Igreja atua. E no sentido de poder perceber que o que talvez não sirva para eles, pode ser doado a outro, gerando assim esse sentimento de altruísmo, amor ao próximo, que possa ser alimentado e gerado no coração deles”.
Oração do Terço
Gabriela e Vinícius com o terço montado com flores e corações
A oração do Terço Mariano também ganha uma dinâmica especial na família Schila. Para garantir a participação das crianças, são preparadas flores e corações de E.V.A. e, enquanto se reza, as crianças vão montando o terço no chão, com os corações nas conta do Pai-Nosso e as flores oferecidas a Nossa Senhora, “para criar neles esse amor por Maria e essa devoção também”, explica Solange.
Dia da Família
No segundo domingo de cada mês, a família reserva um momento especial, o Dia da Família. Neste dia, evita-se o uso de celular, internet e outros aparelhos eletrônicos para que o dia seja realmente voltado para o convívio familiar. Solange conta que eles buscam proporcionar um momento de oração, no qual “cada um possa colocar um pouco das suas alegrias, das suas angústias, para que possamos nos conhecer sempre mais”.
A mãe acredita que com isso seja possível “tratar algumas feridas das famílias dentro da própria casa e um vai ajudando e conhecendo cada vez melhor o outro, e a si mesmo também”.
Para colocar em prática
Alisson e Solange acreditam que é possível às famílias colocarem em prática esses gestos e momentos que aprimoram a vivência da fé e fortalecem os vínculos familiares.
“Nós acreditamos que as famílias podem colocar em pratica em suas casas a partir do momento em que elas se abrem pra proporcionar mais momentos de oração, de diálogo, para que realmente consigam estar próximos dentro da própria casa“, consideram.
Para o Regional Oeste 1, o casal propôs como itinerário a aplicação de algumas ações nos próximos meses. Neste mês de agosto, as famílias são chamadas a criar o espaço a exemplo do “recanto da fé”. Em setembro, o segundo passo, fazer a reflexão diária do Evangelho, lendo na própria Bíblia. E no terceiro mês, a indicação é estipular um dia para ser dedicado à convivência familiar.
Solange revela que a Pastoral Familiar no regional pretende, junto com outras pastorais, a Catequese e a Infância Missionária, propor outros passos para ajudar as famílias a fortalecer e cultivar a fé em família.
Ela também ressalta que o importante em sua casa foi criar rotinas. “A oração da manhã e a reflexão do Evangelho do dia são sempre logo cedo. Temos que estabelecer dia, hora, aí é muito mais fácil fazer com que isso aconteça na dinâmica da casa”, indica.