Sobre a família como igreja doméstica há uma seção no Catecismo da Igreja Católica, que abrange os números 1655 a 1658, com este mesmo título. Por isso, não repetiremos o que foi dito lá. Tentaremos explicar o fundamento teológico desta ideia, que permite entender seu significado.
Em primeiro lugar, é interessante observar que a expressão não é uma invenção teológica. Já está presente em São Paulo: no final da 1ª Carta aos Coríntios, ao enviar saudações, inclui esta: “Áquila e Prisca, com a comunidade que se reúne em sua casa, enviam-vos muitas saudações” (16, 19).
Trata-se, então, não de questionar a terminologia, mas de saber as razões que permitem falar dessa maneira. Para isso, é preciso conhecer os conceitos de “Igreja” e “família“, e adentrar no mundo das analogias, ou seja, das semelhanças. Os termos não se transladam com significado idêntico, mas semelhante.
A Igreja é o povo de Deus, a comunidade que se estabelece com a comunhão em Cristo – ou em Deus através de Cristo. Nela, o ser humano encontra os meios de salvação, principalmente a Revelação divina e a graça, cuja entrada é o Batismo e cujos principais canais são os sacramentos e a oração.
A família cristã é uma comunidade dentro desta comunidade, que também forma uma comunhão particular com Deus, desde o momento em que o matrimônio cristão é um sacramento. É o canal estabelecido por Deus para que, em seu interior, os homens e mulheres que chegam a este mundo – os filhos – encontrem a graça e a doutrina cristã.
Quem batiza é o sacerdote (ou diácono), mas são os pais que levam a criança para batizar e se comprometem a dar-lhe uma educação na fé. São eles os primeiros responsáveis pela catequese dos seus filhos, os que ensinam a rezar e introduzem seus filhos nas verdades da fé.
Não fazem isso por ordem da paróquia ou da escola. Ao contrário, podem (e muitas vezes convém fazer isso) pedir ajuda nesta tarefa, cuja responsabilidade é sua, em primeiro lugar. A tarefa dos pais é uma verdadeira missão eclesial: um trabalho que a Igreja lhes confia, assim como confia uma paróquia a um sacerdote.
A isso podemos acrescentar vários traços da Igreja que podem ser aplicados à vida de uma família cristã que vive como tal: a particular comunhão em Cristo dos seus membros, que se manifesta no acolhimento incondicional, na oração em comum e na projeção apostólica que deve ter frente ao exterior, pois uma família verdadeiramente cristã não vive centrada em si mesma.
Podemos concluir, assim, que a família está chamada a ser um lugar privilegiado de encontro com Cristo.
Ao refletir sobre tudo isso, percebemos que cada característica mencionada mantém um paralelo com os sinais de identidade da própria Igreja. Em seu conjunto, o que manifestam é que a família está chamada a ser um reflexo da Igreja universal, e inclusive da Santíssima Trindade, que é a família de Deus. Nela, reconhecemos a vida e a natureza da Igreja.
Portanto, como podemos ver, o qualificativo de “igreja doméstica” não obedece a uma ideia feliz ou a uma bela metáfora. Há razões de peso para utilizar este termo que, no demais, permite entender melhor por que Deus quis incluir o matrimônio entre os sacramentos.