Os casais têm percebido que o dinheiro é um tema sensível na vida conjugal, que provoca muitos conflitos entre os cônjuges. Essa percepção é confirmada em pesquisas, as quais identificaram que o estresse causado por questões financeiras é um dos principais fatores de divórcio. É comum encontrarmos pessoas que estão aborrecidas com a forma como o outro lida com o dinheiro, seja porque gasta demais, ou de menos, ou porque é desorganizado com as finanças.
Apesar dessas evidências, há uma boa notícia, os casais podem aprender a colocar o dinheiro a favor da relação e criar maior intimidade, trazendo um alto nível de satisfação para a vida a dois. Para isso, é preciso compreender as questões emocionais que estão envolvidas nas finanças e fazer alguns ajustes.
O dinheiro, do ponto de vista econômico, tem como uma das suas principais funções ser um meio de troca: vou ao mercado pego arroz e dou dinheiro. No entanto, temos ampliado suas funções e atribuído ao dinheiro a tarefa de suprir nossas necessidades afetivas. Por exemplo, uma pessoa que se sente insegura e com medo, pode querer trocar o dinheiro por segurança, evitando gastos e economizando de forma mais enfática. O dinheiro passa a ser a sua fonte de segurança, e os relacionamentos que poderiam ajudar a criar essa percepção de garantia ficam em segundo plano.
Quando um casal se une, coloca sob o mesmo teto duas histórias de vida distintas, com necessidades emocionais diferentes. Um pode sentir necessidade de maior segurança e o outro de liberdade, por exemplo. E cada um pode usar o dinheiro na busca por atender essa realidade: a esposa pode economizar para guardar dinheiro e se sentir segura, enquanto o marido gasta de forma mais displicente, tendo a sensação de liberdade que ele almeja. Temos nesses casos, um cenário propício para conflitos conjugais em que as finanças serão o eixo da discussão, enquanto na verdade, o conflito expressa necessidades pessoais não atendidas.
É como se duas pessoas estivessem no mesmo barco, cheias de boa intenção, mas cada um remando para um lado. O que vai acontecer com o barco? não vai sair do lugar. Para dar certo e o barco navegar no rio, os dois precisarão conversar sobre a direção, ter claro onde querem chegar, estabelecerem a rota para alcançar esse objetivo e se comprometerem a caminhar juntos.
Na vida financeira a dois é a mesma coisa, os dois precisarão ter objetivos em comum, pode ser uma viagem, a compra de uma casa, um curso profissionalizante, a quitação das dívidas…. É importante que os dois possam expressar os seus desejos, prioridades e necessidades (físicas e emocionais), construindo um clima de cumplicidade e de acolhimento. Todos têm necessidade de serem amados, aceitos e de fazer parte do grupo (pertencimento), portanto esse é o clima que deve reger a conversa a dois que definirá os objetivos.
Para alcançar os objetivos será necessário viabilizá-los financeiramente, portanto, o dinheiro precisa deixar de ser um tabu na sua casa. Conversem, conversem e conversem sobre dinheiro até que ele deixe de ser um assunto desconfortável para vocês. Isso será mais fácil se o clima atender as necessidades afetivas que falamos logo acima. Criar um clima favorável é muito importante. Esteja atento ao seu próprio comportamento e sensações, perceba quando, ao longo da conversa, você se tranquiliza, se irrita, se assusta ou fica confiante. Essa observação ajudará você a ampliar seu autoconhecimento e poderá doar essas suas descobertas ao seu cônjuge, um presente precioso, afinal estará dando algo de muito íntimo.
Na mesma direção de construir um relacionamento cada vez mais íntimo, você pode contar ao outro as histórias da sua família acerca do dinheiro, lembre-se, o seu cônjuge não conhece essas histórias se você não as contar e também não saberá como elas te impactaram. Você poderá dizer “quando você diz que precisamos economizar mais, eu sinto que não poderei comprar coisas que para mim são importantes e isso me deixa nervoso. Lembro ainda do meu pai que não me deixava comprar nada que queria porque sempre dizia que não tínhamos dinheiro, mas eu o via gastando com o que queria”. O dinheiro está no seu dia a dia e perpassa o seu relacionamento conjugal. Você tem uma excelente oportunidade nas mãos de aprofundar a intimidade da vida a dois.