Sian-Pierre Regis, de 35 anos, está acostumado a morar com colegas de quarto. Nos últimos dez anos, ele dividiu o aluguel de seu apartamento no bairro de Chelsea, em Nova York, com dois (em alguns casos, três) amigos. Mas, em junho, ele vai receber um tipo diferente de companhia: sua mãe de 78 anos, Rebecca Danigelis.
“Acho que nenhum de nós esperava estar nessa situação”, disse Regis, cineasta freelancer. Sua mãe trabalhou por mais de 40 anos como governanta de hotel, chegando a um cargo de gerência, até que, de repente, três anos atrás, ficou sem trabalho.
Desde então, ela tem vivido com suas parcas economias de aposentadoria e alguns trabalhos de limpeza de meio período que consegue encontrar. Quando a pandemia de coronavírus chegou, ela novamente se viu desempregada, e, no fim de maio, o aluguel de sua casa subsidiada em Boston vai expirar. Ela não pode pagar o aluguel.
“Não sei o que ela poderia ter feito melhor ou como poderia ter evitado isso. Ela trabalhava longas horas, nunca faltava e limpava casas para ganhar dinheiro extra quando não estava no hotel. Não tinha vícios”, afirmou Regis.
Ainda assim, como mãe solteira criando dois filhos, ela lutou para poupar. “Quando ela perdeu o emprego, tinha US$ 600 na poupança. Não tinha a quem recorrer”, contou ele.
Apenas ao filho. O que faz de Regis um dos millennials que sustentam financeiramente seus pais e, em alguns casos, lhes dão um lugar para viver. Conhecido como efeito bumerangue reverso, o fenômeno dos pais que se mudam para a casa dos filhos adultos está em ascensão. De acordo com uma análise do Centro de Pesquisas Pew sobre dados populacionais, 14 por cento dos adultos que viviam na casa de outra pessoa em 2017 eram pais do chefe de família, contra apenas sete por cento em 1995. E essa tendência deve aumentar nas próximas décadas, à medida que os baby boomers deixam a força de trabalho, mas não conseguem se sustentar.
Expresso em termos mais acentuados, o Centro de Pesquisa de Aposentadoria do Boston College previu que metade dos trabalhadores atuais não terá economias suficientes para sustentar seu padrão de vida quando se aposentar. De acordo com o Instituto de Políticas Públicas da Associação Americana de Aposentados (AARP, na sigla em inglês), um em cada cinco americanos terá mais de 65 anos até 2030 (em comparação com um em sete em 2017), “e nossa nação enfrentará uma grave escassez de moradias acessíveis para atender às suas necessidades”.
E eis que ressurge a habitação multigeracional, quando adultos de pelo menos duas gerações compartilham a mesma casa. Depois de cair para seu ponto mais baixo em 1980, essa modalidade está agora perto de seu pico de 1950, representando 20 por cento da população total dos EUA em 2016, de acordo com outra análise do Pew.
Embora essa tendência seja em grande parte impulsionada por jovens de 20 e poucos anos que vivem com seus pais de meia-idade, os pesquisadores do Pew descobriram que os idosos também estavam significativamente mais propensos a viver com seus filhos adultos nos últimos anos do que na década de 1990.
Os americanos mais jovens devem levar esse padrão a sério, disse Georgia Lee Hussey, planejadora financeira em Portland, no Oregon. “A maioria dos meus clientes tem pelo menos um pai que precisa ser levado em conta em seu plano financeiro. O que é complicado é que, para algumas famílias, pode ser inesperado. Especialmente na cultura branca americana, as pessoas com mais de 60 anos muitas vezes se sentem desconfortáveis ao falar de suas finanças e envergonhadas de pedir ajuda aos filhos.”
E não subestime o poder da negação. Hussey observou que muitos baby boomers viram seus próprios pais desfrutar de uma era de planos de aposentadoria mais saudáveis e custos mais baixos de cuidados de saúde. Muitos americanos trabalham duro a vida toda, mas ainda não têm economias suficientes para se aposentar. “Então, de repente, o filho percebe: ‘É, vou ter de cuidar do meu pai.’ Isso pode levar a conversas incrivelmente difíceis.”
Dulcinea Myers-Newcomb, de 45 anos fez essa constatação quando seu pai de 80 anos veio visitá-la em sua casa em Portland, onde mora com seus dois filhos – e nunca mais saiu. “Ele disse: ‘Bom, não estou realmente de visita. Moro aqui agora.’ Eu sabia que meu pai nunca planejou essa fase em sua vida, mas meu marido e eu não estávamos preparados para ele se mudar para cá tão cedo.”
Para dar espaço ao novo habitante da casa, Myers-Newcomb, corretora imobiliária, providenciou a instalação, em seu pequeno quintal, do que é conhecido como uma unidade de habitação acessória – um apartamento secundário construído em um lote residencial unifamiliar. Mas o preço – cerca de US$ 110 mil – colocou a família em uma posição difícil. Como muitos americanos, ela e o marido já estavam com dívidas estudantis persistentes e tentando economizar para sua própria aposentadoria. Eles refinanciaram a casa para cobrir os custos, e seu pai contribui com pouco menos de US$ 1.000 por mês para ajudar nas contas.
“Espero que meus filhos não tenham de fazer isso por mim algum dia, mas gosto que vejam que estamos cuidando dos nossos velhos. Estou vendo isso cada vez mais no meu trabalho também: pessoas da minha idade e mais jovens acolhendo seus pais”, afirmou Myers-Newcomb.
Para outras famílias, o tema nunca foi tabu. “Meus pais eram bem explícitos quando diziam que meus irmãos e eu éramos o plano de aposentadoria deles”, disse Ka Po Lam, analista de tesouraria de 28 anos que trabalha para um banco em Nova York. Sua família se mudou para os Estados Unidos quando ele era menino, e ele começou a dar metade de seu salário para o pai aos 15 anos, quando conseguiu seu primeiro emprego no McDonald’s.
“Sendo de Hong Kong, faz parte da nossa cultura ajudar a família. Como imigrantes, meus pais lidavam com trabalhos manuais. Eles não recebem aposentadoria. As formas tradicionais de pagar a aposentadoria não estão realmente disponíveis para eles”, resumiu ele.
Lam agora envia cerca de US$ 800 por mês a seus pais, que vivem com sua irmã mais velha em Boston. “Estou basicamente pagando aluguel duplo – meu e dos meus pais –, por isso tenho muito cuidado com dinheiro”, disse. Durante algum tempo, ele teve um segundo emprego em um café nos fins de semana para garantir dinheiro extra – um estilo de vida diferente do da maioria de seus colegas bancários. “Não é algo que eu esconda. Por mais que possa ser um fardo, acho que isso valida o fato de que posso sustentar minha família.”
Ainda assim, a responsabilidade financeira com os pais idosos pode ser assustadora, não importa quanto você se planeje, afirmou Athena Valentine Lent, de 34 anos, gerente de programa de uma organização sem fins lucrativos em Phoenix. “Sou latina, e as famílias multigeracionais são normais em nossa cultura. Eu sempre soube que meu pai viria morar comigo algum dia e trabalhei duro para me preparar, mas mesmo assim não é fácil.”
Embora seu pai tenha apenas 53 anos, ela acha que uma combinação de seus problemas de saúde e financeiros o trará para sua casa nos próximos cinco anos. “Tenho um ‘fundo para meu pai’ e coloco algumas centenas de dólares por mês nele. Isso afeta muitas das minhas decisões de vida. Se meu parceiro e eu decidirmos comprar uma casa, terá de ser grande o suficiente para meu pai morar lá conosco. É muita coisa para pensar, especialmente porque eu gostaria de ter meus próprios filhos nos próximos dois anos.”
Sian-Pierre Regis, de 35 anos, está acostumado a morar com colegas de quarto. Nos últimos dez anos, ele dividiu o aluguel de seu apartamento no bairro de Chelsea, em Nova York, com dois (em alguns casos, três) amigos. Mas, em junho, ele vai receber um tipo diferente de companhia: sua mãe de 78 anos, Rebecca Danigelis.
“Acho que nenhum de nós esperava estar nessa situação”, disse Regis, cineasta freelancer. Sua mãe trabalhou por mais de 40 anos como governanta de hotel, chegando a um cargo de gerência, até que, de repente, três anos atrás, ficou sem trabalho.
Desde então, ela tem vivido com suas parcas economias de aposentadoria e alguns trabalhos de limpeza de meio período que consegue encontrar. Quando a pandemia de coronavírus chegou, ela novamente se viu desempregada, e, no fim de maio, o aluguel de sua casa subsidiada em Boston vai expirar. Ela não pode pagar o aluguel.
“Não sei o que ela poderia ter feito melhor ou como poderia ter evitado isso. Ela trabalhava longas horas, nunca faltava e limpava casas para ganhar dinheiro extra quando não estava no hotel. Não tinha vícios”, afirmou Regis.
Ainda assim, como mãe solteira criando dois filhos, ela lutou para poupar. “Quando ela perdeu o emprego, tinha US$ 600 na poupança. Não tinha a quem recorrer”, contou ele.
Apenas ao filho. O que faz de Regis um dos millennials que sustentam financeiramente seus pais e, em alguns casos, lhes dão um lugar para viver. Conhecido como efeito bumerangue reverso, o fenômeno dos pais que se mudam para a casa dos filhos adultos está em ascensão. De acordo com uma análise do Centro de Pesquisas Pew sobre dados populacionais, 14 por cento dos adultos que viviam na casa de outra pessoa em 2017 eram pais do chefe de família, contra apenas sete por cento em 1995. E essa tendência deve aumentar nas próximas décadas, à medida que os baby boomers deixam a força de trabalho, mas não conseguem se sustentar.
Expresso em termos mais acentuados, o Centro de Pesquisa de Aposentadoria do Boston College previu que metade dos trabalhadores atuais não terá economias suficientes para sustentar seu padrão de vida quando se aposentar. De acordo com o Instituto de Políticas Públicas da Associação Americana de Aposentados (AARP, na sigla em inglês), um em cada cinco americanos terá mais de 65 anos até 2030 (em comparação com um em sete em 2017), “e nossa nação enfrentará uma grave escassez de moradias acessíveis para atender às suas necessidades”.
E eis que ressurge a habitação multigeracional, quando adultos de pelo menos duas gerações compartilham a mesma casa. Depois de cair para seu ponto mais baixo em 1980, essa modalidade está agora perto de seu pico de 1950, representando 20 por cento da população total dos EUA em 2016, de acordo com outra análise do Pew.
Embora essa tendência seja em grande parte impulsionada por jovens de 20 e poucos anos que vivem com seus pais de meia-idade, os pesquisadores do Pew descobriram que os idosos também estavam significativamente mais propensos a viver com seus filhos adultos nos últimos anos do que na década de 1990.
Os americanos mais jovens devem levar esse padrão a sério, disse Georgia Lee Hussey, planejadora financeira em Portland, no Oregon. “A maioria dos meus clientes tem pelo menos um pai que precisa ser levado em conta em seu plano financeiro. O que é complicado é que, para algumas famílias, pode ser inesperado. Especialmente na cultura branca americana, as pessoas com mais de 60 anos muitas vezes se sentem desconfortáveis ao falar de suas finanças e envergonhadas de pedir ajuda aos filhos.”
E não subestime o poder da negação. Hussey observou que muitos baby boomers viram seus próprios pais desfrutar de uma era de planos de aposentadoria mais saudáveis e custos mais baixos de cuidados de saúde. Muitos americanos trabalham duro a vida toda, mas ainda não têm economias suficientes para se aposentar. “Então, de repente, o filho percebe: ‘É, vou ter de cuidar do meu pai.’ Isso pode levar a conversas incrivelmente difíceis.”
Dulcinea Myers-Newcomb, de 45 anos fez essa constatação quando seu pai de 80 anos veio visitá-la em sua casa em Portland, onde mora com seus dois filhos – e nunca mais saiu. “Ele disse: ‘Bom, não estou realmente de visita. Moro aqui agora.’ Eu sabia que meu pai nunca planejou essa fase em sua vida, mas meu marido e eu não estávamos preparados para ele se mudar para cá tão cedo.”
Para dar espaço ao novo habitante da casa, Myers-Newcomb, corretora imobiliária, providenciou a instalação, em seu pequeno quintal, do que é conhecido como uma unidade de habitação acessória – um apartamento secundário construído em um lote residencial unifamiliar. Mas o preço – cerca de US$ 110 mil – colocou a família em uma posição difícil. Como muitos americanos, ela e o marido já estavam com dívidas estudantis persistentes e tentando economizar para sua própria aposentadoria. Eles refinanciaram a casa para cobrir os custos, e seu pai contribui com pouco menos de US$ 1.000 por mês para ajudar nas contas.
“Espero que meus filhos não tenham de fazer isso por mim algum dia, mas gosto que vejam que estamos cuidando dos nossos velhos. Estou vendo isso cada vez mais no meu trabalho também: pessoas da minha idade e mais jovens acolhendo seus pais”, afirmou Myers-Newcomb.
Para outras famílias, o tema nunca foi tabu. “Meus pais eram bem explícitos quando diziam que meus irmãos e eu éramos o plano de aposentadoria deles”, disse Ka Po Lam, analista de tesouraria de 28 anos que trabalha para um banco em Nova York. Sua família se mudou para os Estados Unidos quando ele era menino, e ele começou a dar metade de seu salário para o pai aos 15 anos, quando conseguiu seu primeiro emprego no McDonald’s.
“Sendo de Hong Kong, faz parte da nossa cultura ajudar a família. Como imigrantes, meus pais lidavam com trabalhos manuais. Eles não recebem aposentadoria. As formas tradicionais de pagar a aposentadoria não estão realmente disponíveis para eles”, resumiu ele.
Lam agora envia cerca de US$ 800 por mês a seus pais, que vivem com sua irmã mais velha em Boston. “Estou basicamente pagando aluguel duplo – meu e dos meus pais –, por isso tenho muito cuidado com dinheiro”, disse. Durante algum tempo, ele teve um segundo emprego em um café nos fins de semana para garantir dinheiro extra – um estilo de vida diferente do da maioria de seus colegas bancários. “Não é algo que eu esconda. Por mais que possa ser um fardo, acho que isso valida o fato de que posso sustentar minha família.”
Ainda assim, a responsabilidade financeira com os pais idosos pode ser assustadora, não importa quanto você se planeje, afirmou Athena Valentine Lent, de 34 anos, gerente de programa de uma organização sem fins lucrativos em Phoenix. “Sou latina, e as famílias multigeracionais são normais em nossa cultura. Eu sempre soube que meu pai viria morar comigo algum dia e trabalhei duro para me preparar, mas mesmo assim não é fácil.”
Embora seu pai tenha apenas 53 anos, ela acha que uma combinação de seus problemas de saúde e financeiros o trará para sua casa nos próximos cinco anos. “Tenho um ‘fundo para meu pai’ e coloco algumas centenas de dólares por mês nele. Isso afeta muitas das minhas decisões de vida. Se meu parceiro e eu decidirmos comprar uma casa, terá de ser grande o suficiente para meu pai morar lá conosco. É muita coisa para pensar, especialmente porque eu gostaria de ter meus próprios filhos nos próximos dois anos.”
Esses pioneiros do bumerangue reverso estão lançando importantes bases, disse Rodney Harrell, vice-presidente de família, casa e comunidade da AARP. “À medida que se torna mais normalizado, para os idosos, viver com seus filhos adultos, acho que vai ficar mais fácil para todos. Se seu vizinho constrói uma unidade de moradia acessória ou tem os pais morando com eles, você pode perceber que é uma opção viável para você e sua família também”, analisou.