Nesta sexta-feira (12), o Papa Francisco participou da 3ª edição dos encontro “Estados Gerais da Natalidade”, evento promovido pelo Fórum das Associações Familiares, dedicado ao destino demográfico da Itália e do mundo. O objetivo da ação é incentivar pelo menos 500 mil novos nascimentos por ano naquele país por ano para combater o declínio demográfico – já descrito em muitas oportunidades pelo Pontífice como ‘inverno demográfico’. Em 2022, por exemplo, foram registrados apenas 393 mil recém-nascidos.
De acordo com o Pontífice, o nascimento dos filhos é o principal indicador para medir a esperança de um povo. “Se nascem poucos, significa que há pouca esperança. E isto não só tem repercussões do ponto de vista econômico e social, mas prejudica a confiança no futuro”, comentou.
O Santo Padre destacou ainda que a situação é preocupante. “Hoje, colocar filhos no mundo é visto como uma tarefa a ser assumida pela família. Isso, infelizmente, condiciona a mentalidade das novas gerações, que crescem na incerteza, quando não na desilusão e no medo. Vivem num clima social em que constituir família está se transformando num esforço titânico, ao invés de um valor compartilhado que todos reconhecem e apoiam”, ressaltou.
“Sentir-se sozinho e obrigado a confiar exclusivamente nas próprias forças é perigoso: significa desgastar lentamente a vida comum e resignar-se a existências solitárias, nas quais cada um tem que fazer por si. Com a consequência de que apenas os mais ricos podem, graças aos seus recursos, ter maior liberdade para escolher que forma dar à sua vida. E isso é injusto, além de humilhante”.
Papa Francisco
Dificuldades
Mesmo com tantas situaçoes, como guerras, pandemias, deslocamentos em massa e crises climáticas, Francisco convida as famílias a não desanimar. “Dificuldade em encontrar trabalho estável, dificuldade em mantê-lo, moradias muito caras, aluguéis altos e salários insuficientes são problemas reais. São problemas que desafiam a política, porque está à vista de todos que o mercado livre, sem as indispensáveis medidas corretivas, torna-se selvagem e produz situações e desigualdades cada vez mais graves”, avaliou.
Francisco avaliou que a cultura atual não é amiga, senão inimiga, da família, centrada nas necessidades do indivíduo, onde direitos individuais contínuos são reivindicados e os direitos da família não são mencionados, principalmente prejudicando as mulheres. “Em particular, existem condicionamentos quase intransponíveis para as mulheres. As mais prejudicadas são elas, mulheres jovens muitas vezes obrigadas a escolher entre carreira e maternidade, ou esmagadas pelo peso de cuidar de suas famílias, principalmente na presença de idosos frágeis e pessoas não autônomas”, disse.
Futuro
“São necessárias políticas voltadas para o futuro”, frisou o Papa. “É preciso preparar um terreno fértil para florescer uma nova primavera e deixar este inverno demográfico para trás. E, dado que o terreno é comum, a sociedade e o futuro, é preciso enfrentar o problema juntos, sem barreiras ideológicas e posições pré-concebidas. É necessário mudar a mentalidade: a família não é parte do problema, mas parte da solução”, apontou.
Ao finalizar o discurso, o Papa Francisco reforçou a palavra esperança. “A esperança não é, como muitas vezes se pensa, otimismo, não é um vago sentimento positivo sobre o futuro. Não é ilusão ou emoção. É uma virtude concreta e tem a ver com escolhas concretas. Alimentar a esperança é uma ação social, intelectual, artística, política no mais alto sentido da palavra. É colocar as próprias capacidades e recursos a serviço do bem comum, é semear o futuro. A esperança gera mudança e melhora o futuro. A esperança nos chama a buscar soluções que deem forma a uma sociedade à altura do momento histórico que vivemos, um tempo de crises atravessado por tantas injustiças”.