A Igreja Católica beatificou a primeira noiva em toda a sua história. É a italiana Sandra Sabattini, que morreu aos 22 anos em um acidente de carro. A cerimônia de beatificação ocorreu no último domingo (24), em Rimini, na Itália, e foi presidida pelo prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, o cardeal Marcello Semeraro. Sandra foi estudante de medicina e dedicou sua breve vida a ajudar as pessoas com deficiência física e dependentes químicos.
“O traço em evidência é antes de tudo o da “jovem alegre, animada por grande caridade e oração quotidiana”, a “serviço dos mais fracos” com entusiasmo, “na esteira do carisma do Servo de Deus padre Oreste Benzi”, disse o Papa Francisco ao pedir uma salva de palmas para a nova beata durante a oração do Angelus.
“Amar é levar o sofrimento do outro”, destacou o cardeal Semeraro durante a homilia da Missa de beatificação. Ele ainda lembrou ainda o desejo de servir os pobres da nova beata, que não era apenas caridade, mas fruto do amor sem limites de Deus. “Seu coração estava mergulhado no mar sem fundo do amor de Deus pelos pobres e ela via que a solução para os problemas é a ressurreição de Jesus”, contou. A sua santidade foi “vivida em todos os âmbitos da sua vida, com os últimos, colocando ao serviço de Deus todo o seu entusiasmo e simplicidade”, completou.
O cardeal Semeraro recordou o que o pai de Sandra disse sobre a filha. “Dava um testemunho que surpreendia a mim e a sua mãe e víamos como dava seu dinheiro aos mais necessitados. Minha filha não oferecia apenas ajuda material, mas dava a quem precisava acolhida, sem nenhum julgamento pois desejava comunicar a voz do Senhor”, disse.
Por fim, o prefeito da Congregação para as Causas dos Santos concluiu sua homilia com os versos de uma oração escrita pela própria Sandra em 7 de setembro de 1982, dois anos antes de sua morte: “Senhor, que cada ação minha seja determinada pelo fato de querer o bem dos jovens, cada minuto é uma ocasião para amar, a ser aproveitada”.
Vida
Sandra nasceu em 19 de agosto de 1961, em Riccione, e viveu seus primeiros anos no município de Misano Adriático, na província de Rimini.
Aos 4 anos, ela e sua família se mudaram para a casa paroquial da paróquia de San Girolamo, onde seu tio, padre Giuseppe Bonini, irmão de sua mãe, era o pároco.
Sandra começou a escrever um diário pessoal em 24 de janeiro de 1972. Três anos depois, conheceu o padre Oreste Benzi, fundador da Comunidade Papa João XXIII, que se dedicava aos “últimos” da sociedade.
Aos 16 anos escreveu: “Senhor, tu me deste um grande presente, o de querer dar a minha vida aos mais pobres. Agradeço por isso, porque, embora eu ainda não o tenha explorado, depositaste em mim este grande presente. Espero poder fazê-lo frutificar e espero poder entender como”.
Quando uma pessoa pobre batia na porta de sua casa, se ela considerasse que sua família não lhe havia dado o suficiente, ela corria atrás da pessoa para completar a doação com suas economias.
Em 1982, trabalhou como voluntária em uma comunidade terapêutica para dependentes químicos.
“Se eu realmente amo, como posso suportar que um terço da humanidade morra de fome, enquanto mantenho minha segurança ou minha estabilidade financeira? Serei uma boa cristã, mas não uma santa. Hoje há uma inflação de bons cristãos enquanto o mundo precisa de santos!”, dizia Sandra.
Depois de terminar o ensino médio, Sandra ficou na dúvida entre ir imediatamente para a África ou fazer medicina, mas finalmente se matriculou na Universidade de Bolonha, onde tinha notas muito boas.
No dia 29 de abril de 1984, a caminho de um encontro da Comunidade Papa João XXIII, Sandra foi atropelada por um carro. Ela ficou em coma por três dias e morreu no dia 2 de maio.
Na última página de seu diário, dois dias antes do acidente, Sandra escreveu: “Esta vida não é minha. Esta vida, que vai evoluindo por um sopro que não é meu, passa num caminho sereno que não é meu”.