O Brasil entrou em 2021 prestes a alcançar a triste marca de 200 mil mortos pela covid-19. Os efeitos da pandemia do novo coronavírus são sentidos nas várias áreas da vida já alguns meses, causando inúmeras consequências que também terão impactos no futuro. Mas, mesmo com o cansaço em relação às medidas necessárias para conter a disseminação do vírus, é preciso ter consciência de que a pandemia não acabou.
E a Igreja novamente chama a responsabilidade para si por meio de iniciativas que buscam preservar o dom precioso dado por Deus a cada um: a vida. De forma muito particular, padres, bispos e o próprio Papa Francisco têm exortado os fiéis a persistirem firmes no cuidado e preservação da vida.
O assessor da Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e a Família da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e secretário executivo da Comissão Nacional da Pastoral Familiar (CNPF), padre Crispim Guimarães, enviou mensagem pedindo aos agentes da Pastoral Familiar que colaborem na conscientização sobre a covid-19.
“Nos últimos 30 dias perdi vários amigos para esta doença, inclusive 4 padres, vários outros irmãos sacerdotes já foram acometidos e sofreram muito, 3 deles permanecem em UTIs há mais de 15 dias. Na paróquia onde fui pároco e estou agora me refugiando até voltar os trabalhos presenciais na CNBB, várias lideranças já morreram, acabo de receber a notícia de mais uma pessoa querida que veio a óbito, assim tem sido com pessoas conhecidas em outros lugares do Brasil”, lamenta.
A indicação é que “sem alarde, mas com responsabilidade” seja lembrada a campanha “É tempo de cuidar”. Como prevenção, padre Crispim considera a conscientização como o melhor remédio. “Se não fizermos nada, vamos ter um colapso na rede de saúde, nos cemitérios, além de problemas psicológicos os mais variados”, alerta.
Ele indica que as famílias, os vizinhos, outros agentes da Pastoral Familiar do seu Regional sejam comunicados sobre os riscos e a importância de redobrar os cuidados. “Contudo, ao trabalhar na conscientização não devemos cair nos extremismos, deixando as pessoas paranoicas. É importante reiterar que só saiam de casa para as necessidades básicas: trabalho, mercado, missa etc., mesmo assim, sigam todas as orientações das autoridades sanitárias”, orienta.
“Evitem aglomeração, mesmo que seja com pessoas da mesma família, pois conheço inúmeros amigos, hoje, infectados frutos das confraternizações do Natal, como aconteceu com uma família inteira que exatamente na Ceia de Natal se infectou com a covid-19 e agora sofre as consequências”, partilha.
Também é importante, segundo padre Crispim ajudar os jovens, sobretudo, a perceberem a gravidade da pandemia, usando do diálogo e apontando os riscos que correm para si mesmos e para os seus. “Se cada um fizer a sua parte podemos salvar muitas vidas”, garante.
Pedido de união
Na tarde de ontem, a Presidência da CNBB divulgou mensagem a respeito do momento atual da pandemia no Brasil, pedindo união e corresponsabilidade no enfrentamento deste desafio sanitário e social. “Não se vence uma pandemia isoladamente”, afirmaram os bispos.
“Não podemos nos render à indiferença de alguns, negacionismos de outros ou à tentação de nos aglomerarmos, permitindo que nos contaminemos e nos tornemos instrumentos de contaminação, sofrimento e morte de outras pessoas. Não deixemos que o cansaço e a desinformação nos levem a atitudes irresponsáveis. Sejamos fortes! Permaneçamos firmes!“, motivou a CNBB.
Evitar a tentação do hedonismo
No domingo, ao final do Angelus, ao renovar os “melhores votos” para este ano que acaba de começar, o Papa Francisco procurou ajudar a colocar a mão na consciência de cada cristão que vive este período nebuloso do coronavírus: se preocupar com os mais necessitados e trabalhar juntos pelo bem comum; evitando “a tentação de cuidar apenas dos próprios interesses, de continuar fazendo a guerra – por exemplo – de se concentrar apenas no perfil econômico, de viver hedonisticamente, ou seja, buscando apenas satisfazer o próprio prazer”.
Em seguida, partilhou algo que o deixou triste:
“Li nos jornais algo que me entristeceu bastante: em um país, não me lembro qual, para fugir do lockdown e ter boas férias, mais de 40 aviões saíram naquela tarde. Mas essas pessoas, que são boas pessoas, não pensaram naquelas que ficaram em casa, nos problemas econômicos de tantas pessoas que o lockdown derrubou, nos doentes? Apenas, tirar férias e dar prazer a si mesmo. Isso me entristeceu muito.”
Foto de capa: Roberto Parizotti/FotosPublicas