O Congresso da França aprovou, na segunda-feira, 4, por 780 votos, a inclusão na Constituição francesa da garantia da liberdade das mulheres de abortar. Uma declaração da Pontifícia Academia para a Vida reiterou apoio à posição da Conferência Episcopal Francesa: “precisamente na era dos direitos humanos universais, não pode haver um ‘direito’ de suprimir uma vida humana”. O presidente da Pontifícia Academia para a Vida, dom Vincenzo Paglia, disse que essa não é a maneira de defender as mulheres e seus filhos.
Após aprovação no Senado, o projeto foi para aprovação final que necessitava três quintos dos parlamentares. Na noite da segunda-feira, 780 deputados e senadores aprovaram a inserção no artigo 34 do texto básico da frase: “A lei determinará as condições em que será exercida a liberdade garantida à mulher de recorrer à interrupção voluntária da gravidez”. Apenas 72 deputados votaram contra.
Paglia: todos juntos devemos proteger cada vida
Entrevistado pela mídia do Vaticano, o presidente da Pontifícia Academia para a Vida, dom Vincenzo Paglia, reitera sua proximidade “aos bispos franceses que declaram sua tristeza”.
“Eu acredito que este não é o método ou estas não são as palavras com as quais podemos proteger e defender as mulheres e seus filhos. Diante de vidas marcadas pela dor e pelas dificuldades, devemos todos trabalhar juntos para que a vida seja sempre salvaguardada e preservada, a vida de todos, particularmente a dos mais fracos”, afirmou.
“É nesse sentido”, acrescenta o arcebispo, “que a Pontifícia Academia para a Vida continua a apoiar o compromisso de todos para que ela seja protegida em todo tempo, momento e situação. Nisso, nossa proximidade aos bispos franceses me parece ser um dever”.
Proteção da vida, o primeiro objetivo da humanidade
No início da tarde desta segunda-feira, a mesma Academia para a Vida – organismo encarregado de “estudar, informar e formar sobre os principais problemas da biomedicina e do direito, relacionados à promoção e defesa da vida” – disse que estava próxima aos bispos que, em um comunicado emitido há alguns dias, reiteraram que “o aborto, que continua sendo um ataque à vida desde o início, não pode ser visto exclusivamente da perspectiva dos direitos das mulheres”, lamentando o fato de que “o debate lançado não mencionou medidas de apoio para aquelas que gostariam de manter seu filho”.
Segundo dom Paglia, a Pontifícia Academia apela a todos os governos e a todas as tradições religiosas para que façam o melhor possível, “para que, nesta fase da história, a proteção da vida se torne uma prioridade absoluta, com passos concretos em favor da paz e da justiça social, com medidas eficazes para o acesso universal aos recursos, à educação e à saúde”.
“As situações particulares de vida e os contextos difíceis e dramáticos do nosso tempo devem ser enfrentados com as ferramentas de uma civilização jurídica que se preocupa, em primeiro lugar, com a proteção dos mais fracos e vulneráveis”, argumenta, acrescentando que “a proteção da vida humana é o primeiro objetivo da humanidade e só pode se desenvolver em um mundo livre de conflitos e lacerações, com a ciência, a tecnologia e a indústria a serviço da pessoa humana e da fraternidade”.
Não ideologia, mas realidade que envolve todos
Na nota, a Pontifícia Academia para a Vida ressalta que, para a Igreja Católica, “a defesa da vida não é uma ideologia”, como enfatizou o Papa Francisco na audiência geral de 25 de março de 2020, mas “uma realidade humana que envolve todos os cristãos, precisamente porque são cristãos e porque são humanos” e que “é uma questão de agir em nível cultural e educacional para transmitir às gerações futuras a atitude à solidariedade, ao cuidado, à acolhida”, conscientes “de que a cultura da vida não é patrimônio exclusivo dos cristãos, mas pertence a todos aqueles que, trabalhando para construir relações fraternas, reconhecem o valor de cada pessoa, mesmo quando frágil e sofredora”.