Há exatos 10 anos escrevi um artigo motivado pelo resultado da então recém pesquisa divulgada pelo IBGE sobre dados coletados em 2013, mas somente processados e publicados em 2015, que constatou que de cada 100 famílias, 44 possuem cachorros e somente 36 tinham crianças até doze anos de idade. Destaca-se que esta estatística diz respeito apenas aos cães, pois, se considerado os gatos e outros animais a diferença é ainda maior. O resultado de tal pesquisa apontava para a preocupante diminuição dos índices de natalidade.
Passados 10 anos, tal desassossego ainda persiste, somada à novas realidades igualmente preocupantes. Tem sido comum nos deparamos com notícias relacionadas à novidade dos chamados “bebês reborn”. Bonecos feito à mão que se assemelham a um bebê humano com o máximo de realismo possível. A palavra “reborn” em inglês significa “renascido”.
Sabemos que uma nova vida humana nasce da vontade de Deus em comunicar o seu infinito amor, tendo o homem e a mulher como coparticipantes. O ser humano é dotado de corpo, alma e espírito, e sim, é possível renascermos para uma nova vida em Cristo, pelas águas do batismo, pelo caminho da conversão. Essa “modinha” de “bebês reborn”, fere a dignidade do ser humano, criado à imagem e semelhança de Deus, desvalorizando a vida real.
A sociedade que antes se preocupava com a substituição dos filhos por animais de estimação agora se vê diante de algo ainda mais inquietante: a substituição das crianças por bonecos de plástico. Não se trata de uma simples brincadeira de boneca, mas da atribuição de características e cuidados que no passado eram reservados exclusivamente a bebês humanos.
Não se pode olvidar do drama real que muitos casais enfrentam, desejando terem filhos biológicos e por motivos de saúde, não lhes é possível.
É preciso compreender que há em nosso coração um espaço reservado que só pode ser ocupado por Deus, e que para tanto, as relações humanas são fundamentais. Nenhum tipo de “plástico”, por mais que se assemelhe à forma humana, é capaz de preencher o vazio de um coração angustiado e sem propósito.
Não se trata de se promover um debate moralista, visando acusar tutores de animais de estimação, que se diga de passagem são criaturas criadas por Deus para nos entreter, ou visando acusar pessoas que gostem de bonecas realistas. Trata-se de trazer à lume as palavras de São Paulo na Carta aos Romanos, que para cada época da sociedade e nos mais diferentes aspectos, roga-nos a não nos conformarmos com um mundo que visa nos afastar daquilo que realmente têm valor, daquilo que é transcendente, daquilo que nos aproxima de Deus e do nosso próximo (cf. Rm 12,2), daquilo que é real.
Jeandré C. Castelon
Casado, pai de dois filhos, membro da Pastoral Familiar, Advogado e Mestre em Teologia Pastoral.