Começou, nesta quinta-feira (2), o II Congresso Internacional sobre a Pastoral da Pessoa Idosa, em andamento na Cúria Jesuíta, em Roma. Para o cardeal Kevin Joseph Farrell, prefeito do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, o aumento da expectativa de vida é um dos sinais da “mudança de época” em curso. Por um lado, o crescimento da população idosa é percebido como uma “emergência a ser administrada”, um fardo para a sociedade. Por outro, a Igreja nos convida a reconhecer a longevidade como um “dom” divino, que exige “respostas pastorais adequadas”, capazes de valorizar a contribuição dos idosos.
“A riqueza dos anos”
O purpurado recordou a intuição amadurecida há cinco anos com o primeiro congresso, intitulado “A riqueza dos anos”, que se revelou uma resposta concreta a “uma necessidade real e crescente” da comunidade eclesial: desenvolver uma pastoral dedicada à terceira idade.
“Experimentar em primeira mão”
O trabalho dos agentes do setor é “essencial”, enfatizou Farrell, porque para desenvolver intervenções adequadas, é necessário “experimentar em primeira mão” o cotidiano dos idosos: suas alegrias, suas esperanças, mas também suas lutas. Somente assim se pode desenvolver uma pastoral “radicada na escuta”, capaz de reconhecer a “contribuição única” da terceira idade, evitando iniciativas “de cima para baixo”.
A atenção do Papa Francisco
O cardeal lembrou a constante atenção do Papa Francisco aos idosos: desde as audiências a eles dedicadas, passando pelo ciclo de catequeses sobre a velhice — “ricas em sabedoria humana e espiritual” — até a instituição do Dia Mundial dos Avós e dos Idosos e as mensagens difundidas em tal ocasião.
No entanto, a atenção à terceira idade não é recente. Já durante sua Viagem Apostólica à Espanha, em 1982, São João Paulo II havia defendido uma pastoral capaz de valorizar o “papel criativo” dos idosos. Uma reflexão desenvolvida pelo Pontifício Conselho para os Leigos com o documento A dignidade do idoso e a sua missão na Igreja e no mundo (1998) e pelo próprio Pontífice com a “comovente” Carta aos anciãos (1999). Bento XVI continuou nessa linha, visitando a casa da família Viva gli Anziani em 2012 e oferecendo uma reflexão que permanece atual: “A qualidade de uma sociedade também se julga pela forma como os idosos são tratados. Quem dá espaço aos idosos, dá espaço à vida.”
“Os idosos são o futuro”
A reflexão eclesial sobre a pastoral da terceira idade tem suas raízes no Concílio Vaticano II, quando a Igreja se reconheceu como “Povo de Deus a caminho”, reafirmando a dignidade batismal de todos os fiéis e sua corresponsabilidade na missão. É dessa visão que surge o reconhecimento do papel ativo dos idosos na vida eclesial. Na esteira das Constituições Conciliares Lumen Gentium e Gaudium et Spes, o Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida renovou seu compromisso com esta fase da vida. O Papa Francisco já havia reiterado isso no primeiro congresso: “Os idosos são o futuro da Igreja, não apenas o seu passado: sua experiência, sua fé arraigada e sua sabedoria são um tesouro inestimável para todo o Povo de Deus a caminho.”
“Longevidade generalizada”
A realidade social, no entanto, está mudando rapidamente: pela primeira vez na história, registra-se uma “longevidade generalizada”. Essa transição demográfica faz com que os idosos constituam uma “parte grande e crescente” da sociedade. Os dados relatados por Farrell confirmam isso: na Europa, mais de um quinto da população tem mais de 65 anos; em países como Japão, Itália e Alemanha, essa faixa etária já representa um quarto da população. As causas deste fenômeno são múltiplas: de um lado, o “bem-estar generalizado”, de outro, o despovoamento das áreas do interior, as migrações e as crises econômicas e políticas que obrigam os jovens a abandonar seus territórios. Mesmo na África, um continente tradicionalmente caracterizado por uma baixa média de idade, os idosos estão se tornando uma presença estável e significativa.
Oportunidades de uma vida mais longa
O Concílio nos exortou a “ler os sinais dos tempos à luz do Evangelho”. Nessa perspectiva, a atual “vida mais longa” deve ser acolhida como uma graça, uma “nova oportunidade”. Mais anos de vida, interpretados à luz da fé, significam mais tempo para se abrir “com entusiasmo” ao anúncio do Evangelho, enriquecendo toda a comunidade.
Pastorais sinodais, não “pré-confeccionadas”
As paróquias, concluiu o prefeito, já são animadas pela presença ativa da terceira idade. A aposentadoria não é mais sinônimo de inatividade, mas frequentemente um período repleto de compromissos e interesses. Isso requer uma abordagem pastoral que acompanhe e potencialize essas energias, evitando “receitas prontas” e, em vez disso, promovendo caminhos compartilhados, “num espírito autenticamente sinodal”.
*Com informações do Vatican News