A Igreja na Irlanda celebrou, no último domingo, 4 de outubro, o “Dia pela Vida”. A iniciativa teve como tema “O bom Samaritano: exemplo de compaixão”. A celebração ocorreu no contexto da recente proposta do Parlamento irlandês de introduzir o suicídio assistido, tanto na Irlanda como no Reino Unido. Desse modo, o “Dia pela Vida” deste ano convidou os católicos a levar em consideração uma resposta positiva e compassiva na assistência aos doentes em fase terminal.
São João Paulo II, em sua encíclica “Evangelium vitae”, de 1995, incentivou a Igreja a promover e celebrar a sacralidade da vida. No documento, o Papa Wojtyla fez a seguinte proposta: “Todos os anos, em todos os países, fosse celebrado um ‘Dia pela Vida’, a fim de suscitar nas consciências, nas famílias, na Igreja e na sociedade civil, o verdadeiro sentido e valor da vida humana, em todas as suas fases e condições”.
No Brasil, a Semana Nacional da Vida, de 1º a 8 de outubro, e o Dia do Nascituro são respostas a este convite do Papa com programações em todo o país e crescente envolvimento das paróquias e dioceses nas celebrações.
Bom samaritano
O bispo presidente da Comissão para a Vida da Conferência Episcopal da Irlanda, dom Kevin Doran, recordou o documento “Samaritanus bonus” da Congregação para a Doutrina da Fé, sobre o cuidado das pessoas nas fases críticas e terminais da vida, e afirmou: “Jesus propôs a imagem do Bom Samaritano como exemplo de compaixão e solidariedade com os mais vulneráveis e os que temem ser abandonados na fase terminal. Para promover uma cultura da vida, é preciso, antes de tudo, superar o medo de falar da morte. Neste sentido, os cristãos são sustentados pela fé na ressurreição de Jesus e que a oração e a partilha da fé podem servir de grande ajuda”.
Em sua mensagem pastoral, por ocasião do “Dia pela Vida”, a Conferência Episcopal recorda que “a pandemia da Covid-19 trouxe à tona a fragilidade da vida e a realidade da morte”. As vítimas da pandemia na Irlanda foram mais de 8 mil.
Os bispos observam que, enquanto surgia um incrível espírito de solidariedade, em hospitais, centros de saúde, clínicas, escolas, igrejas, supermercados e muitos outros lugares, e aumentava a tensão de maior risco de contágio, o Parlamento decidiu discutir uma legislação sobre o suicídio assistido. Este ato legislativo foi rejeitado pela Comissão Parlamentar de Justiça por ser incompleto.
Por sua vez, a Conferência Episcopal expressa sua preocupação por não ter sido rejeitado o princípio do suicídio assistido, ao invés, foi proposto que esta questão fosse estudada por uma comissão especial, que deverá apresentar um relatório.
Falência da compaixão
“A compaixão – segundo os bispos irlandeses – é quase sempre apresentada para justificar o suicídio assistido; mas, a palavra ‘compaixão’ significa ‘sofrer com alguém’. O suicídio assistido reflete uma falência da compaixão por parte da sociedade. Os que assistem a um suicídio, sejam quais forem as suas motivações, contribuem para a autodestruição da pessoa: uma coisa é deixar a vida seguir seu curso natural, sem prolongá-la artificialmente com tratamentos penosos; outra é a participação ativa e deliberada no final da vida humana”.
Em sua mensagem, a Conferência Episcopal acrescenta que “o suicídio assistido pressupõe a presença de alguém com competências específicas, um agente no campo da saúde, pronto para assistir a morte de uma pessoa, curar e aliviar a dor e não pôr um ponto final na vida de alguém”.
Por fim, os bispos irlandeses elogiam o trabalho do Movimento “Hospice Care”, que promove a cultura de viver bem até o fim. E concluem sua mensagem recordando que “a atitude de Jesus para com os enfermos e marginalizados, tem muito a nos ensinar sobre o valor do tempo que dedicamos aos cuidados dos outros”.