O bispo auxiliar de Curitiba (PR) e presidente da Comissão Especial de Bioética da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Reginei Modolo, em uma breve entrevista, avalia os 30 anos de publicação da Carta Encíclica Evangelium vitae, de São João Paulo II, que trata sobre o valor e a inviolabilidade da Vida Humana. Ele ressalta a cultura de morte presente em nossa sociedade e destaca a importância de continuar a lutar em defesa da vida.
Porque a Evangelium Vitae continua sendo considerada um documento importante no que se refere à defesa da vida? Quais seus principais ensinamentos?
A Carta Encíclica Evangelium Vitae, sobre o valor e a inviolabilidade da vida humana é um documento de singular importância porque rompe com muitas leituras incompletas e falsas acerca dos vários atentados e relativização do valor da vida humana. Oferece denúncia e clareza acerca da existência e propagação de uma cultura da morte, que, por vezes, disfarçada de bondade e compaixão, promove a eliminação da vida humana mais vulnerável. Além disso, e sobretudo, a Evangelium Vitae – e daí o seu nome – anuncia o Evangelho da Vida, o qual está no centro da mensagem de Jesus Cristo.
O documento, já há 30 anos destacava o aborto e a eutanásia como manifestações da cultura da morte. E esses dois problemas continuam crescentes na sociedade. O que explica essa dificuldade tanto da comunidade científica, quanto das pessoas, de defender a inviolabilidade da vida humana?
A dificuldade está na discriminação, no ofuscamento das consciências. Para alguns, existem vidas humanas, pessoas humanas mais valiosas do que outras. Então, propõem organizar a sociedade, a economia, o Estado, a saúde, a cultura… em função daquelas pessoas que consideram mais valiosas e, por isso, mais plenas de direitos. A vida humana é sempre um bem e não se pode admitir hierarquizações e existência de graus na dignidade da vida humana. Isso é romper com o princípio da igualdade, princípio ético e jurídico basilar da vida social, reconhecível também pela pura razão. Desafia-nos todos a superação deste tipo de discriminação, do qual pouco se fala, porque, ou se o disfarça ou se o nega.
Em que medida a Evangelium Vitae é utilizada dentro dos movimentos pró-vida e pastoral familiar na igreja?
Veja bem, hoje mesmo – 25 de março, 2025 –, trigésimo aniversário da Encíclica, o Dicastério para os Leigos, Família e Vida emitiu o Documento, “A VIDA É SEMPRE UM BEM, iniciar processos para uma Pastoral da Vida Humana”. Documento que pretende propor uma metodologia de planejamento pastoral à luz do Discernimento no Espírito, aplicável nas Igrejas Locais. Destaco este fato para evidenciar que a Evangelium Vitae foi e permanece de relevância ímpar para a vida pastoral da Igreja, principalmente em temas referentes ao cuidado, promoção e defesa da vida humana. Por isso, a Pastoral Familiar, os movimentos pró-vida e tantas outras iniciativas pastorais da Igreja se inspiraram e continua a inspirar-se na certeira via apresentada pela Evangelium Vitae: cuidar, promover a vida humana, sobretudo as que mais precisam.
Aproveito para convidar quem ainda não leu este presente deixado por São João Paulo II, que o leia. Além de auxiliá-lo(a) a entender o pensamento da Igreja, seguramente lhe será humana e espiritualmente edificante.