CNBB – Brasília
Aplicar imediatamente a visão de Igreja contida no Documento de Aparecida no enfrentamento dos desafios da realidade latino-americana, acolher aos que sofrem ou que têm suas vidas ameaçadas e assumir um compromisso com a defesa da vida em todas as suas etapas foram os objetivos do Encontro Nacional para Multiplicadores de Comissões pela Defesa da Vida, ocorrido na Casa de Retiros Assunção, em Brasília (DF), de 30 de maio a 1º de junho.
Promovido pela Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e a Família, Comissão de Bioética da CNBB e Núcleo Fé e Cultura da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), o encontro reuniu 46 agentes de diversas pastorais e profissionais da área da saúde, que se responsabilizaram por constituir, em todo o Brasil, comissões regionais, diocesanos e paroquiais, pela Defesa da Vida. Entre as propostas também está a criação, em âmbito nacional, de um fórum em Defesa da Vida. Estas iniciativas dão continuidade ao trabalho iniciado com a Campanha da Fraternidade deste ano, que aborda o tema Fraternidade e Defesa da Vida.
Motivações do encontro
O encontro, embora previamente agendado, ocorreu há apenas um dia após a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) ter julgado constitucional o artigo 5º e seus parágrafos da Lei de Biossegurança, que permite o uso de embriões, criados a partir da fecundação in vitro e congelados há mais de três anos, em pesquisas científicas e terapêuticas.
“A questão da defesa da vida, o julgamento do Supremo sobre o uso de embriões e os resultados da Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados em torno do Projeto de Lei 1135/91 nos introduzem numa nova etapa da luta. Quanto mais tivermos capilaridade na luta em defesa da vida, tanto mais essa luta vai ser frutuosa”, afirmou o secretário-geral da CNBB, dom Dimas Lara Barbosa, ao falar sobre a importância do Encontro de Multiplicadores para a Igreja no Brasil. Dom Dimas presidiu a abertura do evento, no dia 30.
Para o professor do Núcleo de Fé e Cultura da PUC-SP, Francisco Borba, um dos palestrantes, “a grande questão da Igreja na atualidade é saber como se opor a essa cultura de morte e anunciar Cristo para que nele todos tenham vida”, dentro de um contexto em que as pessoas vivem “uma suposta liberdade individual”, uma “assimilação não crítica dos valores e da mentalidade dominante”. Portanto, segundo Borba, a defesa da vida apresenta as seguintes dimensões: cultural e educativa, voltada à formação das consciências e que produz resultados a médio e longo prazo; política e jurídica, voltadas às leis que regem a vida social e que são mais imediatas.
Borba ressaltou ainda que a Conferência de Aparecida “ilumina a defesa da vida pela positividade de sua postura”. De acordo com o professor, a Conferência não apresenta uma postura moralista, “mas uma permanente resposta amorosa a Cristo, através do compromisso concreto com as situações de sofrimento e injustiça no cotidiano”.
Já o membro da Comissão de Bioética da CNBB, frei Antônio Moser, lembrou que ao longo de seus dois milênios de existência, o cristianismo “enfrentou muitas situações adversas e sempre conviveu com uma série de outras expressões religiosas e éticas”. Conforme o religioso, “o que causa preocupação é que aquilo que se apresentava como uma espécie de exceção, agora seja proposto como norma”. E acrescentou que, diante deste quadro, a Igreja tem de saber discernir “onde se encontra o joio e onde se encontra o trigo. A Igreja não pode deixar de localizar bem os desafios para poder dar sua contribuição indispensável”.