Terminou nesta quarta-feira (12), em Roma, o Congresso Internacional “IA e Medicina: O Desafio da Dignidade Humana”, organizado pela Federação Internacional das Associações Médicas Católicas (FIAMC) e pela Pontifícia Academia para a Vida (PAV). O encontro reúne especialistas, médicos, teólogos, pesquisadores e representantes de diversas áreas para discutir as oportunidades e os desafios éticos do uso da inteligência artificial (IA) na medicina contemporânea.
Entre os participantes estava o médico Pedro Pimenta de Mello Spineti, professor de Cardiologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, especialista em Bioética pela PUC Rio, membro do Comitê de Bioética da Conferência Nacional dos Bispos do Brasi (CNBB) e vice-presidente da Associação Brasileira de Médicos Católicos. Segundo ele, o congresso foi importante para refletir sobre as potencialidades do uso IA na área da saúde, assim como os seus riscos. “A Igreja enquanto mãe e mestra nos ensina a examinar todas as coisas e guardar aquilo que é bom”, afirmou.
Confira a entrevista que o Portal Vida e Família fez com o Dr. Pedro Spineti.
Como a discussão pode contribuir para uma melhor prática da medicina?
A IA e a revolução digital têm um potencial enorme para o avanço da ciência médica. Hoje, a gente consegue, através da computação, analisar uma infinidade de dados que anteriormente era muito difícil. Isso pode contribuir para acelerar métodos diagnósticos, como hoje a radiologia digital, desenvolvimento de novos medicamentos, uma medicina de precisão nas doenças raras. A revolução digital em países continentais, como o Brasil, permite que você atenda populações isoladas através de telemedicina, de teleorientação e até mesmo cirurgia robótica, que tem IA dentro dela. Então, esses são potenciais de avanço que tem muito a contribuir para a população de uma forma geral.
Quais as oportunidades e os desafios éticos do uso da inteligência artificial (IA) na medicina contemporânea?
A grande questão é você desumanizar a ciência da saúde ou você ter ferramentas digitais e tecnológicas que são guiadas apenas pelo lucro. Ferramentas digitais que são focadas apenas na maioria e que não atendem a particularidades de algumas populações. Grande parte dos estudos são feitos sobretudo com a população americana, com a população europeia, e as características de alguns grupos populacionais não são levados em conta. Então, para esses, algumas ferramentas não performam bem.
A outra questão é o custo que chega a tudo isso e como isso vai chegar a uma população com menores recursos. A gente teve dentro do congresso um painel interessante de uma professora de direito da Argentina pontuando que muitos países da América Latina só incorporam tecnologia que chega através de grandes institutos de financiamento de apoio como a fundação como Organização Panamericana de Saúde (OPAS) a fundação Bill e Melinda Gates, que tem uma agenda própria, e só trazem aquilo que lhes interessa e nem sempre é o mais interessante para aquele país e para aquela população. A discussão foi muito no sentido de como a gente usar o que essas ferramentas tem de bom, evitando esses riscos.
Qual a responsabilidade que os avanços tecnológicos trazem para os profissionais de saúde?
O uso dessas novas ferramentas traz uma grande responsabilidade para os profissionais de saúde, primeiro para entender como elas funcionam, e uma grande discussão que a gente teve em relação à segurança de dados. O que essas ferramentas estão fazendo com os dados dos nossos pacientes?
Então a curadoria dos dados, das informações clínicas dos nossos pacientes, é algo muito importante e devemos entender como isso funciona e ter o cuidado para não desumanizar o médico. Conversamos muito no congresso que a gente cada vez mais quer transformar a inteligência artificial em mais humana, a gente corre um risco cada vez maior da desumanização do profissional de saúde, que cada vez mais se torna uma máquina. Então, esse é um outro grande desafio.
Como aplicar o conteúdo discutido entre os médicos católicos brasileiros?
Nesse evento, a gente teve uma delegação brasileira composta por cinco profissionais, três de Brasília, dois do Rio de Janeiro, e foi uma oportunidade de anunciar o próximo Congresso Mundial de Médicos Católicos, que vai acontecer na cidade de Brasília no ano que vem, em 2026, entre os 30 de julho e 1º de agosto. O tema será “O Médico Católico entre duas revoluções (Revolução Industrial e Revolução Digital). Lá, continuaremos a reflexão que foi iniciada agora aqui em Roma.






