O Movimento dos Focolares realizou Assembleia Geral entre o final de janeiro e o início de fevereiro e elegeu nova diretoria. Com membros reunidos em Roma e muitos outros de forma virtual, o Movimento definiu diretrizes para a atuação nos próximos anos.
O documento aprovado influenciará na atuação em mais de 180 países, somando mais de dois milhões de integrantes. O texto parte da “escuta do grito da humanidade, da Criação e das novas gerações” e do compromisso do “abraço a todo tipo de dor e desunião”, para em seguida traçar um “mapa de navegação” orientando os seus membros a viverem ainda mais a proximidade com “aqueles que não contam, que vivem em condições desfavorecidas ou sofrem sistemicamente”, atuando uma opção preferencial pelos mais pobres e excluídos.
Com forte atuação com as famílias, especialmente no Brasil, os Focolares têm pela frente o pedido da Assembleia por uma “atenção prioritária à realidade da família, ‘primeira célula da sociedade’, para que ela seja promovida e valorizada em sua atuação enquanto sujeito social e político”.
Sobre a assembleia e a eleição da nova presidente, Margaret Karram, nascida em Haifa (Israel), e da nova diretoria do Movimento dos Focolares, o Portal Vida e Família entrevistou Klaus Brüschke, brasileiro que foi um dos 22 conselheiros gerais eleitos na assembleia.
– O movimento dos Focolares elegeu uma nova presidente após mais de uma década com a condução de Maria Voce. Uma senhora que não é da Europa, mas da Terra Santa. O que representa essa eleição?
Uma das tarefas da Assembleia Geral é eleger a presidente do Movimento (que, pelos seus Estatutos, é sempre uma mulher) para um mandato de seis anos. Maria Voce foi a presidente a suceder a fundadora, Chiara Lubich, conduzindo com sabedoria o Movimento na fase sempre delicada após a morte do(a) fundador(a) de uma obra de Deus, e também ante os desafios cada vez mais urgentes em todo o planeta evidenciados no século XXI. A nova presidente, Margaret Karram, natural da Terra Santa – região significativa para as três religiões monoteístas e, ao mesmo tempo, marcada pela violência – e de origem palestina, especialista em diálogo inter-religioso, de um lado representa bem a vocação dos Focolares à unidade (“Pai, que todos sejam um”, cf. Jo 17,21), de outro bem representa a atual fase do Movimento, que é a concretização de seu carisma nos diversos contextos geográficos e culturais, no atual momento histórico da humanidade, evidenciados pelo Papa Francisco, especialmente em suas encíclicas Laudato si’ e Fratetti tutti.
Quais temáticas foram debatidas durante a Assembleia?
A Assembleia, encerrada no domingo, dia 8 de fevereiro, aprovou um documento contendo as diretrizes para o Movimento dos Focolares nos próximos anos. Vale destacar que se tratou de um processo sinodal que começou bem antes dela, envolvendo todas as comunidades do Movimento no mundo e também nas próprias dinâmicas do evento. Aqui, os recursos virtuais mostraram quanto podem ser úteis para a comunhão e participação. O documento parte da “escuta do grito da humanidade, da Criação e das novas gerações” e do compromisso do “abraço a todo tipo de dor e desunião”, para em seguida traçar um “mapa de navegação” orientando os seus membros a viverem ainda mais a proximidade com “aqueles que não contam, que vivem em condições desfavorecidas ou sofrem sistemicamente”, atuando uma opção preferencial pelos mais pobres e excluídos. Para tanto, convida a todos eles a um estilo de vida simples, sóbrio e comprometido em todos os campos, tanto na Igreja quanto na sociedade. E, para tanto, “agir mais em ‘redes vivas’, permeadas de relações de confiança, e colaborar com quem trabalha pelas mesmas finalidades”. A Assembleia pede uma atenção prioritária à realidade da família, “primeira célula da sociedade”, para que ela seja promovida e valorizada em sua atuação enquanto sujeito social e político. Tudo como fruto de uma vivência cada vez mais intensificada da Palavra de Deus.
– Nesse momento de pandemia, como o movimento tem realizado seu trabalho com as famílias?
A pandemia desencadeou uma autêntica rede de solidariedade, ou melhor, de amor recíproco evangélico particularmente no nível das comunidades locais. A “família do Movimento” foi ao encontro das necessidades concretas das famílias que mais sofrem o impacto da crise sanitária das mais variadas maneiras: a solidão e a angústia, o “isolamento” dos idosos, a perda de emprego ou redução do sustento econômico, o luto pela perda de pessoas queridas e tantas outras.
Ao mesmo tempo, foi realizada uma grande comunhão de bens mundial. Com atos generosos de renúncias na esfera pessoal ou familiar, foi possível arrecadar e distribuir somas financeiras para atender a inúmeras urgências em todo o Planeta.
– Quais perspectivas podem ser apontadas para os Focolares no Brasil?
O documento aprovado pela Assembleia aponta questões de grande relevância no Brasil: os excluídos, a desigualdade social, o cuidado com a “casa comum”, a juventude, as famílias. Cada comunidade local, a partir das diretrizes do documento, é convidada a fazer um “discernimento comunitário” e identificar, na diversidade de contextos que esse grande e rico País apresenta, que situações requerem ainda mais nosso testemunho e nossa presença de amor atuante, na Igreja e na sociedade. Já há inúmeras iniciativas, como obras sociais, a Economia de Comunhão, o Movimento Político pela Unidade, que ainda – como frisou o Papa Francisco – estão no início e precisam crescer e frutificar. Certamente surgirão também outras iniciativas inspiradas pelo Espírito Santo, junto com outros movimentos e associações da Igreja Católica, com outras Igrejas e religiões e mesmo pessoas sem um referencial religioso, a fim de testemunhar o Evangelho e contribuir para a realização do “testamento de Jesus”, “Pai, que todos sejam um”.
Audiência com o Papa Francisco
No dia 6 de fevereiro, integrantes do movimento que estavam em Roma foram recebidos pelo Papa Francisco em audiência, ocasião na qual a nova presidente foi apresentada.
Francisco convidou o Movimento a continuar seu caminho na “fidelidade dinâmica” ao carisma deixado pela fundadora Chiara Lubich e recomendou a fuga de toda a autorreferencialidade. Saiba mais.
Confira como foi a audiência: