Irmão Silvio da Silva
Secretário executivo da CNBB Oeste 1
Assessor Eclesiástico da Pastoral Familiar no Oeste 1
Não há dúvida que, cada vez que alguém se sente em perigo, seu pensamento e pedido de socorro sempre se dirige à família, mesmo quem não tem uma para lhe ajudar. A família, e aqui não importa a sua configuração, sempre é o porto onde as pessoas ancoram a embarcação das suas vidas. Quem tem uma família, tem referência e deferência, e ninguém fica metrificando o padrão da sua família, ainda que em situações precárias, ninguém aceita, que sua base seja destratada.
No dia da valorização da família, fico pensando nos milhares de famílias desvalorizadas, porque não se encaixam nos padrões estabelecidos pelas convenções sociais ou pelos dogmas religiosos, que sob uma moral rígida e pesada, esmagam as famílias de tantas pessoas, que não tiveram a doce ventura de nascerem em berços de ouro cravejados de ternura.
A família, o porto seguro de todos, nunca esteve tão insegura e ameaçada como nos dias de hoje. Para desencargo de consciência, e para manter o comodismo de não fazermos nada, sempre se aponta os Meios de Comunicação, principalmente as novelas, como o principal monstro destruidor de famílias. Mas, enquanto se aponta as novelas, no Brasil existem 19 milhões de desempregados, e a grande maioria destes, literalmente passando fome, e entre eles, estão pessoas que nunca veem televisão, não acessam redes sociais e nem sequer manipulam celulares. No entanto, estão jogadas à própria sorte, que não é tão boa com eles.
Se debate demais ideologia de gênero, se perde muito tempo e dinheiro em conversas vazias e ideológicas sobre família bem estruturadas, enquanto famílias tidas como não estruturadas disputam, nos grandes lixões da vida, restos para alimentar seus rebentos, que não aceitaram abortar. Enquanto ficamos presos à sacramentalização das famílias “amadas por Jesus”, pais e mães da famílias fora dos padrões se enfileiram às portas dos açougues do Brasil para, com sorte, conseguirem um osso, com o qual alimentam os filhos, que não tiveram receio de gerarem, mesmo sob os olhares de desdenho e de frases de condenação: “pra quê tanto filho?”, “seria bom operar para não colocar mais filhos no mundo!”
No dia da valorização da família, não deveríamos cercear o desejo de ser pai ou de ser mãe, pelo contrário, nossa missão é incentivar para que as famílias tenham seus filhos e os criem com dignidade. Mas, para isso, precisamos mudar o nosso jeito de ser família cristã, ou seja, precisamos ser de verdade cristãos. Se sua família se ama de verdade, e educa como deve seus filhos, e você acha isso tão importante, por que não ampara uma família que você julga como incapaz? Se a sua família é tão bem estruturada e sacramentalizada, por que não se aproxima de uma família que você julga sem estrutura e sem Deus, para que, através do amor de sua família, ela também possa sentir nem que seja de apenas fagulhas do seu amor?
Como se pode negar o status de família a pais e mães que amam tanto seus filhos, que morreriam por eles, só porque a vida, a historia de cada um não lhes permitiram viverem segundo determinadas convenções?
No dia da valorização da familia, é bom que se diga, que não está em jogo a geometria estrutural da família, mas o que vale de verdade é a intensidade do amor, que a envolve.
E quando dissermos que a família, porto seguro de toda pessoa, está ameaçada, é preciso ter a consciência de que as maiores ameaças contra a família vem exatamente de pessoas que se sentem abençoadas em seu ninho perfeito, que amaldiçoam quem não conseguiu fazer o seu ninho tão perfeito por não terem acesso a material de qualidade e em quantidade suficiente. Nunca na família o teto de vidro foi ou será mais importante que o cobertor de amor que, mesmo sob o relento, é capaz de aquecer, não só os filhos gerados no ventre, mas também aqueles gerados nas trilhas da vida.
Neste dia e em qualquer outro, a família, porto seguro, só vai continuar ameaçada se a gente seguir julgando-a como um elemento morto, que deva caber em nossos padrões, às vezes tão estreitos e não raros tão cruéis. Se mudarmos nossos parâmetros, estabelecermos outros paradigmas, principalmente de justiça e solidariedade, as famílias, serão o que sempre foram, lugar de aconchego e calor, espaço para onde se volta após uma dura jornada, para se recompor e seguir rumo aos sonhos, que a vida proporciona, seja para chegar no topo da montanha, ou para se abrigar no seu sopé.
A família ainda é o melhor lugar para amar e se sentir amado. Portanto, valorizar a família é lhe permitir viver com dignidade uma história de amor, que não é um conto de fadas, e sim, vida real, feita por mulheres e homens de verdade, e que acontecem em castelos, mansões ou em um barraco de lona ou de taipa, onde o interior é um ninho de um verdadeiro amor.