Um nova “encíclica social”, que visa promover uma aspiração mundial à fraternidade e à amizade social a partir da pertença comum à família humana e do reconhecer-se irmãos.
Em “Fratelli tutti”- cujo motivo inspirador é o Documento sobre a fraternidade humana assinado por Francisco e o Grande Imam de Al-Azhar em fevereiro de 2019 – é destacado como estamos todos no mesmo barco e ninguém se salva sozinho.
O Santo Padre destaca aquelas partes da humanidade que “parecem dispensáveis em benefício de uma seleção que favorece um setor humano digno de viver sem limites. Afinal, as pessoas não são mais sentidas como um valor primordial a ser respeitado e protegido, principalmente se são pobres ou deficientes, se ainda não são necessárias – como o nascituro – ou não são mais necessárias – como os idosos” (18).
A cultura do descarte é global e atinge muito de perto as nossas famílias e comunidades: “A falta de filhos, que provoca o envelhecimento da população, aliada ao abandono dos idosos a uma dolorosa solidão, afirma implicitamente que tudo acaba em nós, que apenas nossos interesses individuais importam. Assim, ‘o objeto de descarte não é apenas comida ou bens supérfluos, mas freqüentemente os próprios seres humanos’. Não nos damos conta – continua o Papa – que isolar os idosos e abandoná-los aos outros sem um acompanhamento adequado e atencioso da família mutila e empobrece a própria família. Além disso, acaba privando os jovens do contato necessário com suas raízes e com uma sabedoria que os jovens sozinhos não conseguem alcançar”(19).
O convite de Francisco é a cuidar “da fragilidade de cada homem, de cada mulher, de cada criança e de cada idoso, com aquela atitude solidária e atenta”, a exemplo daproximidade do Bom Samaritano. (79)
Mais uma vez, a memória desses “exilados ocultos” que “são tratados como corpos estranhos da sociedade. Muitas pessoas com deficiência que ‘sentem que existem sem pertencer e sem participar’. Ainda há muitas coisas ‘que [os impedem] de atingir a cidadania plena’. O objetivo – escreve o Papa – não é apenas assisti-los, mas sua “participação ativa na comunidade civil e eclesial”. (98)
Depois, a referência direta às famílias, “chamadas a uma missão educativa primária e essencial. Eles constituem o primeiro lugar onde são vividos e transmitidos os valores do amor e da fraternidade, da convivência e da partilha, da atenção e do cuidado pelo outro. São também o ambiente privilegiado para a transmissão da fé, a partir daqueles primeiros simples gestos de devoção que as mães ensinam aos seus filhos”. (114)
“Na família – continua o Santo Padre – os pais, os avós, os filhos estão em casa; ninguém está excluído. […] Nas famílias, todos contribuem para o projeto comum, todos trabalham pelo bem comum, mas sem anular o indivíduo; pelo contrário, eles o apoiam, eles o promovem. Eles discutem, mas há algo que não se move: aquele vínculo familiar. As brigas em família depois se reconciliam. As alegrias e tristezas de cada um são de todos. Isso é ser família! Se pudéssemos ver o adversário político ou o vizinho com os mesmos olhos com que vemos filhos, esposas, maridos, pais e mães. Que bom seria!”. (230)
Como leigos, engajados em nossas sociedades, finalmente “nos é oferecida uma nova oportunidade, uma nova etapa. […] Temos um espaço de corresponsabilidade capaz de iniciar e gerar novos processos e transformações. Devemos ser parte ativa na reabilitação e no apoio às sociedades feridas. Hoje estamos diante da grande oportunidade de expressar nosso ser irmãos, de ser outros bons samaritanos que assumem a dor dos fracassos, ao invés de fomentar ódio e ressentimento. Como o viajante ocasional da nossa história, só falta o desejo livre, puro e simples de ser um povo, de ser constante e incansável no empenho de incluir, de integrar, de elevar os caídos; […] Alimentemos o que é bom e nos coloquemos a serviço do bem”.