O contexto da pandemia do novo coronavírus trouxe consigo diversas mudanças na vida das pessoas do mundo inteiro. Nas famílias, a nova realidade desafiou para um novo contato entre os esposos e também nas relações entre pais e filhos. Na vida de oração, há famílias que aproveitaram para estabelecer novas rotinas, fortalecendo a Igreja doméstica.
São famílias que celebram a Palavra em suas casas, grupos de oração via internet, leitura orante da Palavra de Deus, crianças da infância missionária rezando o terço, oração diária dos pais com os filhos e tantas outras experiências de fé em todo o país.
Em Mafra (SC), o professor universitário Eduardo Silva, que é ministro extraordinário da Eucaristia e membro da Comissão de administração econômica pastoral da comunidade Santa Cruz de Avencal do Meio, encontrou uma maneira de animar sua família e sua comunidade:
“Desde que iniciou a pandemia, nos preocupamos em como nossa comunidade, pequena e interiorana, conseguiria se manter ‘conectada’. Embora moremos na área rural, quase todas as famílias têm internet. Dessa forma, constitui um grupo privado no Facebook e convidei as pessoas da comunidade para participar. Fizemos a primeira transmissão ao vivo da celebração da Palavra no dia 22 de março e, de lá para cá, com raras exceções, realizamos a celebração dominicalmente”, conta Eduardo.
A comunidade foi motivada pela instrução da CNBB, que oferece o roteiro “Celebrar em família” para que “vivendo a dignidade de povo sacerdotal que nosso batismo nos conferiu, possamos não só acompanhar, mas CELEBRAR com nossas famílias o Dia do Senhor”.
“Nas primeiras celebrações, dividíamos a leitura entre nós, mas após começamos a convidar os demais membros da comunidade a gravar vídeos fazendo as leituras. Desta forma, os vídeos são exibidos durante a celebração, mas a reflexão e as orações são sempre feitas de forma ‘síncrona’. Temos uma média de 20 pessoas acompanhando ao vivo a celebração, mas em geral os vídeos têm sempre mais de 70 visualizações, ou seja, alcançamos sempre a maior parte dos membros de nossa comunidade”, conta Eduardo.
Celebração é transmitida pelas redes sociais com participação dos filhos e de membros da comunidade | Reprodução: Facebook
Pai de cinco filhos, sendo dois adotados, Eduardo foi seminarista antes de seguir a vocação para a vida familiar. Em sua atuação pastoral, também foi catequista. Neste tempo de pandemia, a experiência tem ajudado na relação com os filhos.
“Diariamente rezamos juntos, costumamos fazer algumas novenas durante o ano. Em função da pandemia, passei a dar a catequese aos meus dois filhos que estão em idade de primeira eucaristia. Costumamos também, desde que as meninas (por adoção) chegaram a fazer ‘reuniões’ de auto avaliação, em que cada um tem um momento para falar de si e para dizer ao outro o que não gostou e o que precisa melhorar. Esta prática, aprendida no seminário durante o tempo em que fui seminarista, nos ajudou muito a desenvolver o autoconhecimento e a melhorar o relacionamento e a adaptação de todos no processo de adoção”, partilha.
Famílias e comunidades fortalecidas
“Sem dúvida as orientações da Igreja foram fundamentais. Manter a celebração da Palavra tem sido uma forma de manter viva a nossa comunidade”, conta Eduardo.
Na rotina semanal, mesmo estando todos em casa, o domingo continua uma dinâmica especial.
“Como sou professor e todos os meus filhos estão em idade escolar, nossa rotina tem sido muito ‘isolada’ de fato. A escola dos meus filhos tem mantido aulas síncronas pela internet, bem como a Universidade onde trabalho também. Desta forma, estamos ativos, mas em casa. Domingo era o dia que saímos para ir à Igreja, como não podemos mais fazer isso, ‘transformamos nosso lar em Igreja’, a igreja doméstica, e assim o domingo tem ‘cara de domingo’”, partilha Eduardo.
Um incentivo
“Celebrar em família é fundamental, uma família que ora junto fortalece os lações de comunhão com Deus e entre si. Partilhar a reflexão é também uma oportunidade de desenvolver a catequese familiar, sempre lembrando que os pais são os primeiros catequistas. Dessa forma, certos elementos e textos litúrgicos que passariam talvez despercebidos pelas crianças passam a ser mais vivenciados e compreendidos”, considera.