Com mais cinco milhões de pessoas tendo recebido ao menos a primeira dose da vacina contra o coronavírus no Brasil, ainda há um longo caminho até chegarmos a ver toda a nossa população imunizada. No entanto, é importante estar atento ao que a Igreja Católica diz sobre a importância da vacinação e sobre a pesquisa e o desenvolvimento delas – se são moralmente aceitas. É possível que em meio à enxurrada de informações recebidas pelas redes sociais possamos ficar receosos sobre a participação ou não nas campanhas de vacinações. Por isso, é necessário esclarecer dúvidas em relação ao tema.
De acordo com nota divulgada pelo Vaticano, em dezembro de 2020, as vacinas que vêm sendo aplicadas no Brasil e no exterior são moralmente aceitáveis. Isto porque dúvidas foram levantadas sobre algumas delas que utilizam linhas celulares de fetos abortados no seu processo de pesquisa e produção. É importante deixar claro que crianças não estão sendo abortadas agora para desenvolver as doses. São células de crianças das décadas de 70 e 80 que foram modificadas geneticamente e reproduzidas. Logo, também não estaremos recebendo células de fetos abortados, pois elas foram modificadas e replicadas.
A nota da Congregação para a Doutrina da Fé disse que no caso da atual pandemia, “podem ser usadas todas as vacinas reconhecidas como clinicamente seguras e eficazes com a consciência certa de que o uso de tais vacinas não significa cooperação formal com o aborto do qual derivam as células com as quais as vacinas foram produzidas”.
O documento “sobre a moralidade do uso de certas vacinas anti-Covid 19” recorda três pronunciamentos anteriores sobre o mesmo tema: o da Pontifícia Academia para a Vida, em 2005; a Instrução da Congregação para a Doutrina da Fé Dignitas Personae, em 2008; e também uma outra nota da Pontifícia Academia para a Vida, de 2017. Este último, em um trecho, diz que “as linhas celulares usadas atualmente estão muito distantes do aborto original e já não implicam a cooperação moral indispensável para uma avaliação ética negativa sobre seu uso.”
A razão do consentimento do publicado pelo Vaticano no fim do ano passado é que a cooperação ao mal do aborto, no caso daqueles que se vacinam, é “remota” e estamos na presença de “um perigo grave, como a propagação, de outra forma incontrolável, de um agente patógeno grave”. A Congregação esclareceu que o uso desses tipos de vacinas, não pode, por si só, constituir uma legitimação, mesmo indireta, da prática do aborto.
A Congregação da Fé também destacou que “a vacinação não é, como regra, uma obrigação moral e que, portanto, deve ser voluntária”, mas ressalta que temos o dever de buscar o bem comum. “É lícito recorrer a essas vacinas enquanto não houver uma alternativa. Mas se a consciência de alguém o proíbe de usar uma vacina feita a partir das linhagens celulares de fetos abortados, essa opção tem de ser respeitada, e a pessoa tem de estar consciente dos riscos de saúde que isso envolve.” Dom Ricardo Hoepers, presidente da Comissão Espiscopal para a Vida e Família da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Dom Ricardo acredita que no Brasil deveria ocorrer o mesmo que em outros países, onde os bispos pediram aos governos que ofereçam também as vacinas produzidas sem o uso de linhagens celulares oriundas de abortos.
A fé e a ciência
O assunto também foi motivo de discussão promovida pela CNBB transmitida pelas redes sociais. Dom Francisco Agamenilton, bispo da Diocese de Rubiataba (GO), ressaltou que a vacina é uma escolha pessoal, no entanto, é necessário estar atento ao que significa não ser imunizado. “Quando falamos em vacina, falamos em questão de vida, vida comunitária. A pessoa humana sempre foi objeto de cuidado, de atenção da Igreja”, destacou.
Para o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cientistas Católicos (SBCC), Dr. Deivid Carvalho, reforçou a importância de fazer o bem ao próximo, à vida em comunidade. “A nossa posição não pode ser desconectada da forma de compreendermos o mundo. A abertura à vacina anti-covid é uma tradução daquilo que queremos como civilização do amor, da fraternidade”, disse. Membro da Pontifícia Academia Pro Vita, Pe. Aníbal Lopes, alertou ainda para os males que o coronavírus vem causando na humanidade. “Estamos diante de uma calamidade global, que afeta a humanidade. representa também todo um descompasso social e econômico que tem consequências tão ou mais graves do que a própria doença”, apontou.