A vocação materna é dom concedido por Deus à cada mulher, que torna-se responsável por gerar em seu ventre a vida. A importância das mãe como referência de amor ao mundo é abordado por ROSEANA BARONE MARX*
O valor da mãe na família está quase sempre relacionado à sua importância, ao seu lugar, a um papel desempenhado. O quanto vale ou como vale, são indagações quase sempre coerentes com nossa experiência em família naquilo que se refere ao vínculo mãe-filho.
Mas de fato o que é o valor? Ele existe mesmo, está sempre atrelado a uma experiência pessoal ou há valor independente da minha própria experiência, há valor que sempre vale, há valor relativo, subjetivo, há valor absoluto, mas de fato o que é valor?
Podemos defini-lo como aquilo que favorece a realização do ser humano. O valor pode também favorecer o encontro do sentido da vida, tanto nos seu aspecto imanente, no que se refere ao fazer diário da vida, no cumprimento de tarefas que parecem encomendadas a cada um de nós, quanto no seu aspecto transcendente que nos faz perguntar sobre um sentido maior da nossa única vida, no para quê viver. De um aspecto imanente a um transcendente os valores transitam.
Os valores são qualidades do ser que convertem pessoas e coisas em “bem-querer” e objetivos desejáveis.
Traduzindo numa linguagem entre mãe e filho, no dia a dia, seria mais o menos assim:
– “Ô menino vai fazer tua lição de casa, e faz bem feita… anda, anda, anda, logo! Já te falei tem que estudar para ser um médico para ajudar as pessoas, ou vai ser advogado para defendê-las, ou ser um administrador de empresas para ajudá-las a se organizarem, ou quem sabe um chefe de cozinha para fazer bonito, ou um nutricionista para indicar o que é melhor para se alimentar, tem que se esforçar como eu, ou…ou quem sabe…um homem de bem, um homem realizado, por exemplo, um pai de família para proteger e amar seu filho, meu neto…anda menino!”
É verdade que o homem é fruto do seu tempo, assim como também é verdade que vivemos, hoje, num tempo onde os noticiários não se cansam de nos contar que crianças foram abandonadas por suas mães, estão desprotegidas, trabalham como escravas, expostas a abusos, perversões etc. São condicionamentos de época, patologias de época, ou condicionamentos psíquicos graves onde parece que o ser humano perdeu sua liberdade. Que palavra difícil para se compreender.
Liberdade encerra um paradoxo, ou seja, duas coisas que caminham em paralelo, lado a lado, e parecem que se contradizem e valem ao mesmo tempo. De fato, não estamos livres de tudo isso que mencionamos, mas estamos livres para sempre buscarmos o melhor para o homem, o melhor para nós mesmos independente dos condicionamentos que sofremos. Só aí o homem é verdadeiramente livre, no “apesar de”…
Se pudéssemos estar livres desses condicionamentos e pudéssemos agir como Deus teria pensado para nós, com certeza seríamos perfeitos. Agiríamos de maneira perfeita apesar de todos os condicionamentos.
O que sempre vale e que se espera do amor de uma mãe por seu filho é a perfeição. A nostalgia de Deus que nos ama por primeiro, nos faz pensar que Ele derrama esse amor no coração de cada mãe e a gente ama. É um absurdo, não cabe no tempo nem no mundo!
Quando tive minha primeira filha senti uma profunda decepção com o mundo. Decepção por perceber que para as pessoas, à minha volta, o dia seguiu em frente e só me davam os parabéns pelo meu bebê, não podiam compreender que o mundo, para mim, estava totalmente diferente, ela tinha chegado! Assim se seguiu com meu segundo bebê e com o terceiro, apesar de mais preparada ainda assim não cabia no coração testemunhar o dom da vida!
Louis Lavelle mencionou que conforme uma criança é recebida nos braços de sua mãe ao nascer, já está condicionado na vida adulta, a desenvolver um eu forte ou frágil.
Agora que conseguimos localizar mãe, valor e filho podemos ir concluindo, cada um a seu tempo, o valor da mãe na família.
A mãe na família acolhe, cuida, projeta, acompanha e lança o filho para o melhor de si mesmo. Podemos afirmar que, a ela é dada a permissão de educar, cercear e frustrar quando preciso, trabalhar, servir de modelo, apostar, ver e rever até a morte aquilo que intui ser um bem para seu filho. Convoca, é firme, repete, insiste e apela para o seu melhor e por isso tem autoridade legítima de quem ama.
Quem perde uma mãe, perde a referência no mundo, assim também, uma mãe que perde um filho perde o chão do mundo! No entanto precisamos nos lembrar que o fruir desse amor sempre é mais forte que a própria morte.
Um amigo que leu esse texto me fez lembrar de Isaías: “Pode uma mulher esquecer-se daquele que amamenta? Não ter ternura pelo fruto de suas entranhas? E mesmo que ela o esquecesse, eu não te esqueceria nunca!”.
*Doutora em Psicologia Clínica com diversos estudos desenvolvidos em Logoterapia.