O substituto da Secretaria de Estado do Vaticano, dom Angelo Becciu, em entrevista ao jornal italiano Avvenire, revela que o Papa sentiu-se surpreso e triste diante das repercussões de sua declaração sobre a paternidade responsável durante a coletiva de imprensa no voo de volta a Roma, após a visita às Filipinas.
O arcebispo Becciu, um dos mais próximos colaboradores do Papa – e que estava presente no encontro com os jornalistas – disse que Francisco sentiu-se surpreso ao ler os jornais do dia seguinte nos quais “as suas palavras, voluntariamente expressas com a linguagem de todos os dias, não tivessem sido plenamente contextualizadas”, disse Becciu. Francisco teria ainda expresso sua tristeza “pela desorientação” causada especialmente às famílias numerosas.
“Ao ler as manchetes dos jornais, o Papa, com quem eu falei ontem, sorriu e ficou um pouco surpreso com o fato de que suas palavras – propositalmente simples – não tivessem sido completamente contextualizadas de acordo com um trecho claríssimo da Encíclica Humanae Vitae sobre a paternidade responsável”, afirmou Becciu diante da interpretação dos jornais para as palavras do Papa que dominou as manchetes: “para ser bons católicos não é necessário fazer filhos como coelhos”.
Pensamento claro
Uma vez que o raciocínio do papa era claro, mas a leitura fornecida pelos jornais, isolando uma só frase, nem tão clara assim, dom Becciu esclarece: “A frase do Papa deve ser interpretada no sentido de que o ato de procriação no homem não pode seguir a lógica do instinto animal, mas deve ser fruto de um ato responsável com raízes no amor e na doação recíproca de si mesmo. Infelizmente, com muita frequência, a cultura contemporânea tende a diminuir a autêntica beleza e o valor do amor conjugal, com todas as consequências negativas que disso derivam”.
Portanto, dom Becciu oferece uma interpretação correta sobre a paternidade responsável à luz da Humanae Vitae: “aquela que nasce do ensinamento do Beato Paulo VI e da tradição milenar da Igreja reiterada na Casti Connubii (encíclica publicada por Pio XI, em 1930). Ou seja: que, sem jamais dividir o caráter unitivo e procriativo do ato sexual, este deve se inserir sempre na lógica do amor na medida que a pessoa como um todo (física, moral e espiritual) abre-se ao mistério da doação de si mesma no vínculo do matrimônio.
Número ideal
Dom Becciu ressalta ainda que não existe um número “ideal” de filhos por casal, negando que o Papa teria expresso um conceito taxativo de “três filhos por casal”. “O número três refere-se unicamente à quantidade mínima indicada pela sociologia e demografia para assegurar a estabilidade da população. De nenhuma maneira o Papa quis indicar que representasse o número ‘justo’ de filhos para cada matrimônio. Cada casal cristão, à luz da graça, é chamado a discernir de acordo com uma série de parâmetros humanos e divinos aquele que seria o número de filhos que deve ter”, arrematou o arcebispo.
Desorientação
Diante da desorientação provocada nas famílias numerosas à frente das versões fornecidas pelos jornais, dom Becciu disse que o Papa ficou “realmente triste” com a inexatidão. “Francisco não queria absolutamente renegar a beleza e o valor das famílias numerosas”, declarou o substituto da Secretaria de Estado, lembrando que na Audiência Geral após o retorno da Viagem Apostólica, Francisco disse que “a vida é sempre um bem e que ter tantos filhos é um dom de Deus para o qual devemos agradecer”.
Fonte: Rádio Vaticano.