O Papa Francisco voltou a falar sobre as crianças na catequese da Audiência Geral desta quarta-feira (15), realizada na Sala Paulo VI. Na semana passada, o Pontífice focou na forma como, na sua obra, Jesus falou várias vezes sobre a importância de proteger, acolher e amar os mais pequenos.
“No entanto, ainda hoje no mundo, milhões de menores, mesmo não tendo a idade mínima para cumprir com as obrigações da vida adulta, são obrigados a trabalhar e muitos deles são expostos a trabalhos particularmente perigosos. Sem falar das crianças que são traficadas para prostituição ou pornografia, e dos casamentos forçados.”
“Infelizmente, nas nossas sociedades, existem muitas formas pelas quais as crianças são abusadas e maltratadas. O abuso infantil, de qualquer natureza, é um ato desprezível e atroz. Não é simplesmente um flagelo social e um crime; é uma violação muito grave dos mandamentos de Deus. Nenhuma criança deveria sofrer abusos. Mesmo um caso já é demais. Por isso, é necessário despertar consciências, praticar a proximidade e a solidariedade concreta com as crianças e os jovens vítimas de abusos e, ao mesmo tempo, construir confiança e sinergias entre aqueles que se comprometem a oferecer-lhes oportunidades e locais seguros para crescerem em paz”, disse Francisco.
Segundo o Papa, a pobreza generalizada, a falta de ferramentas sociais de apoio às famílias, o aumento da marginalização nos últimos anos, a par do desemprego e da precariedade laboral, são fatores que descarregam sobre os mais jovens o preço mais elevado a pagar. “Nas metrópoles, onde a exclusão social e a degradação moral são “gritantes”, existem crianças envolvidas no tráfico de droga e nas mais diversas atividades ilícitas”, destacou.
“Quantas destas crianças vimos cair como vítimas de sacrifício! Por vezes, tragicamente, são induzidas a se tornarem “carrascos” de seus semelhantes, além de se prejudicarem a si mesmas, sua própria dignidade e humanidade. No entanto, quando na rua, no bairro da paróquia, estas vidas perdidas se apresentam ao nosso olhar, olhamos muitas vezes para o outro lado”, afirmou o Papa.
Francisco prosseguiu a catequese, dizendo que é difícil reconhecer a injustiça social que leva duas crianças, talvez residentes no mesmo bairro ou prédio, a tomarem caminhos e destinos diametralmente opostos, porque uma delas nasceu numa família desfavorecida. “Uma fratura humana e social inaceitável: entre aqueles que podem sonhar e aqueles que devem sucumbir”. “Mas Jesus quer que todos sejamos livres e felizes e nos pede que paremos e ouçamos o sofrimento dos que não têm voz, dos que não têm escola. Combater a exploração, sobretudo a infantil, é a principal forma de construir um futuro melhor para toda a sociedade”, ressaltou Francisco, lembrando que “alguns países tiveram a sabedoria de incluir por escrito os direitos das crianças. As crianças têm direitos, pesquisem para descobrir quais são os direitos da criança”, apontou.
Perguntemo-nos: o que eu posso fazer? “Se queremos erradicar o trabalho infantil, não podemos ser cúmplices dele. E quando o somos? Por exemplo, quando compramos produtos que utilizam trabalho infantil. Como posso comer e vestir-me sabendo que por detrás daquela comida ou daquela roupa estão crianças exploradas, que trabalham em vez de irem à escola?” Perguntou o Papa.
“Ter consciência do que compramos é o primeiro passo para não sermos cúmplices. Veja de onde vêm esses produtos. Alguns podem dizer que, como indivíduos, não podemos fazer muito. É verdade, como indivíduos não podemos fazer muito, mas cada um de nós pode ser uma gota que, juntamente com muitas outras gotas, se pode transformar num mar.”
No entanto, é também necessário lembrar as instituições, incluindo as eclesiásticas, e as empresas da sua responsabilidade: podem fazer a diferença transferindo os seus investimentos para empresas que não utilizam nem permitem o trabalho infantil.
*Com informações do Vatican News