O Papa Francisco, nesta quarta-feira (8), durante a audiência geral, na Sala Paulo VI, no Vaticano, dedicou sua catequese – no contexto do Tempo do Natal – às crianças, em particular sobre o flagelo do trabalho infantil. Ele apontou que a sociedade tem capacidade de voltar o olhar para Marte ou para os mundos virtuais, mas temos dificuldade em olhar nos olhos de uma criança que foi deixada à margem e que é explorada e abusada.
“O século que gera inteligência artificial e planeia existências multiplanetárias ainda não ultrapassou a chaga da infância humilhada, explorada e mortalmente ferida”, disse.
O Pontífice ateve-se à mensagem que a Sagrada Escritura dá sobre as crianças, afirmando ser curioso notar como a palavra que mais ocorre no Antigo Testamento, depois do nome divino Jahweh (mais de seis mil e oitocentas vezes), é a palavra ben, “filho”: quase cinco mil vezes.
“Olhai! os filhos (ben) são herança do Senhor; o fruto das entranhas é recompensa” (Sal 127,3). Os filhos são uma dádiva de Deus. Infelizmente, esta dádiva nem sempre é tratada com respeito. A própria Bíblia conduz-nos pelas ruas da história onde ressoam os cânticos de alegria, mas também se elevam os gritos das vítimas”, explica.
“A tempestade da violência de Herodes, que massacra as crianças de Belém, irrompe imediatamente também sobre o recém-nascido Jesus. Um drama sombrio que se repete noutras formas da história. E aqui, para Jesus e para os seus pais, o pesadelo de se tornarem refugiados num país estrangeiro, como acontece hoje com muitas pessoas, muitas crianças”, continuou.
Francisco recordou que na vida pública Jesus andava a pregar pelas aldeias juntamente com os seus discípulos. Um dia, algumas mães aproximaram-se d’Ele e apresentaram-Lhe os seus filhos para que Ele os abençoasse; mas os discípulos repreenderam-nos. Então Jesus, quebrando a tradição que considerava a criança apenas como um objeto passivo, chama a si os discípulos e diz: “Deixai as crianças vir a mim, não as impeçais, pois dos que são como elas é o reino de Deus”. Numa passagem semelhante, Jesus chama uma criança, coloca-a entre os discípulos e diz: “se não vos converterdes e não vos tornardes como as crianças, jamais entrareis no reino dos céus”. Pensemos hoje nas crianças, exortou o Santo Padre.
“Ainda hoje, em particular, há demasiadas crianças forçadas a trabalhar. Mas uma criança que não sorri e não sonha não será capaz de conhecer ou deixar florescer os seus talentos. Em todas as partes do planeta existem crianças exploradas por uma economia que não respeita a vida; uma economia que, ao fazê-lo, queima o nosso maior depósito de esperança e amor”, refletiu.
“Aqueles que se reconhecem como filhos de Deus, e especialmente aqueles que são enviados para levar a boa nova do Evangelho aos outros, não podem ficar indiferentes; não podemos aceitar que as irmãzinhas e os irmãozinhos mais novos, em vez de serem amados e protegidos, sejam privados da sua infância, dos seus sonhos, vítimas da exploração e da marginalização”, afirmou o Santo Padre.
*Com informações do Vatican News