O relatório ‘Família e pobreza relacional’, do Observatório Internacional da Família (Family International Monitor), publicado no fim de abril, aponta que as famílias bem estruturadas e estáveis têm uma garantia maior contra a vulnerabilidade social e a pobreza extrema. Além disso, o documento ressalta que é necessário implementar urgentemente políticas públicas de combate às desigualdades sociais e que apoiem pais solteiros e mães adolescentes, por exemplo.
Nos últimos três anos, a pesquisa reuniu dados oficiais de 12 países, incluindo o Brasil, em quatro continentes, e destaca a situação de desigualdade socioeconômica sofrida por muitas famílias, além de alertar para a tendência demográfica negativa na Europa. O estudo é o primeiro realizado pelo Observatório, que integra o Instituto João Paulo II de Roma, a Universidade Católica de Múrcia, na Espanha, e o Centro Internacional de Estudos da Família de Milão, na Itália.
O levantamento utilizou 90 indicadores agrupados em oito diferentes áreas temáticas que poderiam fornecer uma referência estatística geral para cada país, utilizando o Banco Mundial e as Nações Unidas como fontes prioritárias. Em cada um dos países, também foi identificado um centro de pesquisa, que desenvolveu um Relatório nacional com base em um questionário, levando em conta quatro aspectos em particular: a família como ator econômico, como sujeito educacional, como sujeito de cuidado e reciprocidade, e como sujeito de cidadania ativa.
No Brasil, foram utilizadas as bases de informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), além de outros órgãos governamentais e outras bases de dados.
O diretor da Seção Brasileira do Pontifício Instituto Teológico João Paulo II para as Ciências do Matrimônio e da Família, Pe. Rafael Fornasier, que apoiou o levantamento em solo brasileiro, destaca a importância do panorama realizado, para a atuação da Igreja e das autoridades. “O panorama aponta para a necessidade, por um lado, de se cuidar das relações, dos vínculos familiares, pois seu fortalecimento ou sua fragilidade pode ser decisivo para a vida familiar. O relatório indica a necessidade de melhorias socioeconômicas para que também as relações familiares possam se realizar de modo mais digno”, afirmou.
“A Igreja pode dar a sua contribuição para que os governos criem políticas públicas que visem a promoção, a manutenção, o cuidado e, quando necessário, a restauração dos vínculos familiares”, disse Rafael Fornasier. “O Papa Francisco, em mensagem enviada aos participantes na abertura do Ano Família Amoris Laetitia, promovida pela sede central do Instituto em Roma, disse claramente que o Instituto deve procurar dar a sua contribuição no campo dos estudos e da pesquisa se colocando em relação com outros centros, faculdades, universidades, institutos, etc. O relatório provoca o instituto a dar continuidade aos aprofundamentos neste campo, trazendo mais subsídios de reflexão para a Igreja e para a sociedade no que concerne às relações familiares na atualidade”, completou o diretor da seção brasileira.
Em seu relatório, o Observatório reforça o pedido aos governos para aprovarem políticas públicas que aliviem a situação das famílias estruturalmente mais frágeis (monoparentais ou que têm um ou ambos os pais adolescentes, entre outras) e enfatiza a promoção de redes relacionais ampliadas como vizinhança, amizade, associativismo e solidariedade.
Tendência demográfica negativa na Europa
O levantamento também apontou que o tamanho da família também é um fator de vulnerabilidade potencial. Na Europa (Espanha e Itália foram os países analisados) verifica-se uma tendência demográfica negativa, associada sobretudo ao envelhecimento da população e à queda da natalidade, com uma taxa de fecundidade de 1,3 membros por família, enquanto no Brasil é de 3,3.