O Papa Bento XVI explicou hoje que o jejum não é um fim em si mesmo, mas o “sinal externo” de uma “realidade interior”, que é saber “viver do Evangelho”.
O Pontífice quis dedicar sua catequese de hoje, Quarta-Feira de Cinzas, a refletir sobre a Quaresma e sobre as práticas de piedade ligadas a ela: o jejum, a oração e a esmola.
O jejum “significa abster-se de comida, mas inclui outras formas de privação que visam a uma vida mais sóbria”.
No entanto, “tudo isso não é ainda a realidade plena do jejum: é o sinal exterior de uma realidade interior, do nosso compromisso, com a ajuda de Deus, de abster-nos do mal e de viver o Evangelho”. Não jejua de verdade quem não sabe se nutrir da Palavra de Deus”, acrescentou.
“O jejum, na tradição cristã, está intimamente ligado à esmola”, afirmou o Papa.
Neste sentido, recordou, com Santo Agostinho, que, tanto o jejum como a esmola são “as duas asas da oração”, que lhe permitem ganhar maior impulso e chegar a Deus. “A Igreja sabe que, pela nossa fraqueza, é muito fatigante fazer silêncio para colocar-se diante de Deus e tomar consciência da nossa condição de criaturas que dependem d’Ele e de pecadores que precisam do seu amor”, sublinhou o Santo Padre.
Por isso, “na Quaresma, ela nos convida a uma oração mais fiel e intensa, e a uma meditação prolongada sobre a Palavra de Deus”.
Mas, antes de tudo, em linha com a sua Mensagem para a Quaresma deste ano, o Pontífice convidou todos os fiéis a “reviver” o próprio Batismo, pois a Quaresma, especialmente neste ciclo litúrgico A, foi, na tradição da Igreja, o itinerário que os catecúmenos percorriam antes de receber o sacramento na noite da Páscoa.
O Papa convidou todos a viver este “itinerário batismal”, para “reavivar em nós este dom e fazê-lo de maneira que nossas vidas recuperem as exigências e os compromissos deste Sacramento, que está na base da nossa vida cristã”.
“A Igreja sempre associou a Vigília Pascal à celebração do Batismo, passo a passo: nele, realiza-se esse grande mistério pelo qual o homem, morto para o pecado, torna-se partícipe da vida nova em Cristo ressuscitado e recebe o Espírito de Deus.”
As leituras dos próximos domingos, explicou o Pontífice, “são tomadas precisamente da tradição antiga, que acompanha o catecúmeno na descoberta do Batismo: são o grande anúncio do que Deus faz neste sacramento, uma magnífica catequese batismal dirigida a cada um de nós”.
O Papa foi detalhando, um por um, o significado dos Evangelhos de cada domingo da Quaresma, explicando também quais eram os passos (escrutínios, adesão ao Credo, iniciação na oração cristã) que o catecúmeno seguia durante este itinerário.
Exortou os fiéis a estarem “atentos para acolher o convite de Cristo a segui-lo de maneira mais determinada e coerente, renovando a graça e os compromissos do nosso Batismo, para abandonar o homem velho que está em nós e revestir-nos de Cristo”.
A Quaresma, acrescentou, “é um caminho, é acompanhar Jesus que sobe a Jerusalém, lugar do cumprimento do seu mistério de paixão, morte e ressurreição”.
Assim, explicou, “nos recorda que a vida cristã é um ‘caminho’ a ser percorrido, que consiste não tanto em uma lei a ser observada, mas na própria pessoa de Cristo, a quem vamos encontrar, acolher, seguir”.
“É, sobretudo na liturgia, na participação dos santos mistérios, que somos levados a percorrer este caminho com o Senhor; é um colocar-nos na escola de Jesus, percorrer os acontecimentos que nos trouxeram a salvação.”
Mas esta vivência não é “uma simples comemoração, uma lembrança de fatos passados”, senão que, “nas ações litúrgicas, Cristo se faz presente através da obra do Espírito Santo, e esses acontecimentos salvíficos se tornam atuais”.
Participar da Liturgia, concluiu, significa “submergir a própria vida no mistério de Cristo, na sua presença permanente, percorrer um caminho pelo qual entramos em sua morte e ressurreição para ter a vida”.