A edição deste mês setembro da Revista Ave Maria traz em sua matéria de capa a preocupação com a saúde mental dos jovens. A reportagem apresenta um panorama sobre a situação dos jovens no Brasil e como a escuta solidária pode salvar vidas. Destaque para o planejamento da Comissão para a Juventude da CNBB, que considera o tema, e as experiências de escuta do Centro de Valorização da Vida e do Serviço Diocesano de Escuta.
Confira um trecho da matéria da jornalista Cíntia Lopes (leia na íntegra aqui):
O assunto ainda hoje é tabu. Gera desconforto e muitas vezes é evitado. Há casos subnotificados e tampouco abordados nos noticiários. O silêncio também costuma rondar os familiares e pessoas do círculo de contatos da vítima. O fato é que os casos de suicídio no Brasil não param de crescer, especialmente entre os jovens. Segundo dados da Secretaria de Vigilância em Saúde divulgados pelo Ministério da Saúde em setembro do ano passado, entre 2016 e 2021 houve um aumento de 49,3% nas taxas de mortalidade de adolescentes de 15 a 19 anos, chegando a 6,6 por 100 mil, e de 45% entre adolescentes de 10 a 14 anos, chegando a 1,33 por 100 mil. Entre os jovens de 15 a 29 anos, o suicídio foi a quarta causa de morte depois de acidentes no trânsito, tuberculose e violência interpessoal. É um fenômeno complexo, que pode afetar indivíduos de diferentes origens, sexos, culturas, classes sociais e idades.
Setembro Amarelo é a maior campanha antiestigma do mundo e o dia 10 setembro é o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. Neste ano, o lema define muito bem a principal indicação para aqueles que sofrem ou passam por momentos de dificuldade: “Se precisar, peça ajuda!”.
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A preocupação é de toda a sociedade. Para a Comissão Episcopal para a Juventude, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a pauta também é prioridade, como afirma Dom Vilsom Basso, scj, que é bispo de Imperatriz, no Maranhão, e presidente da comissão. “A saúde mental e física é uma preocupação para a Comissão Episcopal para a Juventude dar atenção a esse elemento tão importante na vida dos jovens, especialmente a questão da saúde mental, que com a pandemia se acentuou muito”, frisa. Dom Vilsom também reforça que a Comissão Episcopal para a Juventude, em seu plano quadrienal para todo o país, tem o projeto para dar atenção à saúde mental para a juventude chamado “Ao seu lado”: “Ele tem como inspiração a passagem bíblica dos Discípulos de Emaús (cf. Lc 24,13-35). O plano traz reflexões e propõe linhas de ações a partir dos eixos formação, vocação e missão, estruturas de acompanhamento e assessoria e cidadania, casa comum e dignidade humana”.
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Dom Vilsom Basso traz dados importantes de uma pesquisa realizada em São Paulo (SP) e no Rio de Janeiro, que indica que 30% são considerados “jovens desigrejados”. O que isso significa? Para esses jovens, a Igreja não faz falta, não faz sentido, não há necessidade dela em suas vidas. “Temos esse grande desafio para a comissão que é repensar a nossa linguagem, nossas ações e planejamento para que a Boa-Nova e o Nosso Senhor Jesus Cristo possam ser semeados e cheguem ao coração da juventude de nosso país”, planeja o religioso.
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A escuta solidária também faz parte da vida de Rozane Margarete de Oliveira Santos, coordenadora diocesana da Diocese de Luz, em Minas Gerais. Lá, o projeto “Serviço da Escuta” funciona desde 2019. Rozane está à frente da equipe, que atua principalmente em espaços geográficos onde há maior índice de dificuldades econômicas. “A função do ‘Serviço da Escuta’ é acolher o outro em suas fraquezas, em suas periferias humanas. Espera-se que ele seja eficiente na acolhida da dor do outro e que possamos ajudá-lo a ressignificar seus anseios e fraquezas”, explica. O serviço é aberto a todos e pode ser feito de forma sigilosa se for da preferência de quem o procura. “Se é aberto à família fazemos o acompanhamento e as orientações junto ao núcleo familiar. O norte do trabalho é sempre ressignificar os aspectos subjetivos”, frisa ela.
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Revitalizar a esperança por meio da Palavra do Senhor é uma das possibilidades para dias melhores. “Por intermédio dos evangelhos, destacar a importância e as delícias do perdão a si mesmo e, assim, perdoar ao outro. No contato com o outro, na convivência com nossas periferias humanas, pode-se regatar a nossa utilidade, o nosso potencial. Quando acredito em mim me reconheço enquanto pessoa, eu me reconheço como filho de um Pai que ama num amor sem medidas”, finaliza Rozane.