O mundo foi, mais uma vez, surpreendido por atos de terrorismo em Paris, na França. O terrorismo impõe uma crueldade implacável, assustadora. Assassina selvagemente inocentes!
O terrorismo é um modo de impor a própria vontade por meio de atos de terror. Ele emprega sistematicamente a violência para fins políticos, promovendo a desorganização da sociedade e desejando a tomada do poder. Diante da violência absurda por ele produzida, somos, mais uma vez, convocados a construir percursos de compreensão, diálogo franco e cidadania, fundados em valores comuns, base de toda a convivência pacífica.
O que move grupos humanos a agir guiados por ideologias que defendem práticas terroristas? Como compreender os discursos construídos a partir de práticas terroristas? Somos surpreendidos por notícias sobre atos de terror! Permanecemos sem palavras, acuados e receosos, apavorados diante da possibilidade de sermos, também nós – ou pessoas queridas e respeitadas –, atingidos por semelhante violência.
Acompanhando as notícias destes últimos dias sobre atos de terror, talvez respondamos como o Papa Francisco, no último domingo, durante a oração do Angelus, na Praça de São Pedro: “Diante de tais atos, não se pode deixar de condenar a inqualificável afronta à dignidade da pessoa humana. Quero reafirmar, com veemência, que o caminho da violência e do ódio não resolve os problemas da humanidade e que utilizar o nome de Deus para justificar esse caminho é uma blasfêmia!”
Porém, pode também acontecer que nos sintamos dispensados de manifestar nossa posição; afinal, tudo acontece tão longe de nós! Pode até ser! Entretanto o que dizer dos jovens que se sabem ameaçados pelo poder do tráfico de drogas que impõe o terror em nossas vilas e em nossos bairros? O que dizer de familiares que vivem diariamente aterrorizados pela possibilidade de perder um ente querido, sabidamente envolvido com a delinquência e que não encontra espaço para educação com qualidade, emprego digno, perspectiva de um futuro nobre, uma chance nova?
A violência a que assistimos ou sofremos é expressão de uma realidade social marcada pela falta de um projeto de nação, pela falta de ética em setores da sociedade, pelo descrédito nas instituições, pela falta de condições dignas e nobres de vida, pela banalização da vida humana. Já a violência produzida pelo terror pode ser expressão de ideologias e fanatismos de todo tipo, também do desespero de grupos e povos que não são respeitados e promovidos, da descrença na força do diálogo e do respeito mútuos…
Ambas as formas de violência são marcadas por ações de terror, baseadas em ideologias e fundamentalismos. Tanto os fundamentalismos quanto as ideologias são danosos à causa da paz. E o que mais desejamos é viver em paz!
Em tantas partes do mundo há um clamor por maior segurança. Esta, porém, só será autenticamente possível quando houver suficiente coragem para eliminar as exclusões e desigualdades dentro da sociedade e entre nações e povos. Enquanto não se favorecer a igualdade de oportunidades para todos, o acesso de todos aos bens da natureza e o cultivo do respeito pela diferença, as várias formas de agressão, de violência e de guerra encontrarão terreno fértil. Enquanto sociedades e governos lançarem à margem parte de seus membros e governados, não haverá poder político, exército ou serviços secretos que possam garantir a segurança e a paz para todos.
Diante da comoção gerada, nestes dias, pelos atos de terror perpetrados em território francês, somos convidados a rejeitar veementemente toda forma de violência como solução dos problemas, a resistir à tentação do ódio e da vingança, a superar ideologias e fundamentalismos e a nos engajar em prol de uma sociedade marcada pela solidariedade, pela inclusão e pelo respeito às diferenças, à justiça e à paz.
Dom Jaime Spengler
Arcebispo de Porto Alegre (RS)