Por padre Rodolfo Chagas Pinho, assessor nacional da Comissão Episcopal para a Vida e a Família da CNBB [1]
RESUMO
A celebração litúrgica cristã desempenha um papel fundamental na evangelização das famílias, promovendo a vivência da fé e fortalecendo os laços espirituais entre seus membros. A liturgia, ao articular a Palavra de Deus, os sacramentos e a oração comunitária, proporciona um ambiente propício para a experiência do sagrado e a transmissão dos valores cristãos. Nesse contexto, a participação familiar nas celebrações religiosas favorece a educação na fé, a partilha dos ensinamentos de Cristo e a vivência dos princípios morais que orientam a vida cristã. A Eucaristia, como ápice da liturgia, representa um momento central de comunhão com Deus e com a comunidade, incentivando a unidade e o compromisso com a missão evangelizadora. Além disso, ritos como o Batismo e o Matrimônio reforçam o papel da família como igreja doméstica, onde os valores cristãos são vividos e transmitidos de geração em geração. A celebração litúrgica também responde aos desafios contemporâneos enfrentados pelas famílias, proporcionando um espaço de acolhimento, reflexão e renovação espiritual. Assim, a liturgia não apenas celebra a fé, mas também se configura como um meio eficaz de evangelização, promovendo a transformação pessoal e comunitária. Ao integrar a família no contexto celebrativo, a Igreja fortalece sua missão de anunciar o Evangelho, formando discípulos comprometidos com a vivência cristã no cotidiano.
Palavras-chave: Liturgia, Evangelização, Família.
INTRODUÇÃO
A celebração litúrgica cristã ocupa um papel central na vida da Igreja, sendo um momento privilegiado de encontro com Deus e de fortalecimento da fé dos fiéis. Desde os primórdios do cristianismo, a liturgia tem servido como instrumento de evangelização, proporcionando um espaço no qual a comunidade cristã se reúne para celebrar os mistérios da fé. Dentro desse contexto, a família, considerada a célula fundamental da sociedade e da Igreja, encontra na liturgia uma fonte de renovação espiritual e de transmissão dos valores cristãos.
A liturgia não é apenas um conjunto de ritos e cerimônias, mas uma expressão da fé vivida e compartilhada. Por meio da celebração dos sacramentos, das leituras bíblicas e da oração comunitária, os fiéis são convidados a aprofundar sua relação com Deus e a fortalecer os vínculos entre si. A participação ativa da família nas celebrações litúrgicas possibilita que seus membros cresçam na fé e assumam de forma mais consciente sua missão evangelizadora.
No contexto da evangelização, a celebração litúrgica cristã desempenha um papel essencial na formação religiosa das famílias. Ao reunir pais e filhos em torno do altar, a liturgia proporciona um ambiente propício para a experiência do sagrado e para a interiorização dos ensinamentos de Cristo. Dessa forma, a fé não se limita ao ambiente eclesial, mas se estende ao cotidiano familiar, influenciando atitudes e comportamentos.
A Eucaristia, considerada o ápice da vida cristã, ocupa um lugar de destaque nesse processo evangelizador. Como memorial do sacrifício de Cristo, a missa é um convite à comunhão com Deus e com os irmãos, promovendo a unidade entre os membros da Igreja. Quando vivida em família, a celebração eucarística fortalece os laços familiares e reforça o compromisso com os valores do Evangelho.
Além da Eucaristia, outros sacramentos, como o Batismo e o Matrimônio, evidenciam a importância da família na vivência da fé. O Batismo insere a criança na comunidade cristã, enquanto o Matrimônio santifica a união entre os cônjuges, tornando-os corresponsáveis pela formação religiosa dos filhos. Dessa forma, a liturgia reafirma o papel da família como igreja doméstica, onde a fé é vivida e transmitida de geração em geração.
A celebração litúrgica também responde aos desafios enfrentados pelas famílias na sociedade contemporânea. Em um mundo marcado pelo individualismo e pela secularização, a liturgia oferece um espaço de acolhimento e renovação espiritual, ajudando os fiéis a enfrentarem as dificuldades do cotidiano com esperança e perseverança. Dessa maneira, a evangelização promovida pela liturgia não se restringe ao âmbito eclesial, mas se projeta para a vida familiar e social.
Outro aspecto relevante da celebração litúrgica é a sua dimensão comunitária. Ao participarem das celebrações em conjunto, as famílias experimentam o sentido de pertença à Igreja e fortalecem sua identidade cristã. A oração em comum, a escuta da Palavra e a vivência sacramental criam laços espirituais entre os fiéis, promovendo um espírito de solidariedade e fraternidade.
Dessa forma, a liturgia cristã não deve ser vista como um evento isolado, mas como parte integrante da vida de fé da família. Ao inserir-se na dinâmica litúrgica da Igreja, a família fortalece sua identidade cristã e assume seu papel na missão evangelizadora. A experiência de fé vivida na liturgia se reflete na formação moral e espiritual de seus membros, influenciando a maneira como se relacionam entre si e com a sociedade.
Em suma, a celebração litúrgica cristã representa uma fonte inesgotável de evangelização para a família. Por meio da oração, dos sacramentos e da comunhão com a comunidade, a liturgia fortalece a fé dos fiéis e os impulsiona a viver os valores do Evangelho em sua vida cotidiana. Nesse sentido, a participação ativa na vida litúrgica da Igreja se torna um caminho essencial para a renovação espiritual e para a construção de uma sociedade fundamentada na fé e no amor cristão.
O que é Liturgia?
Diversos estudiosos da teologia e da pastoral ressaltam que a liturgia não é apenas um conjunto de ritos e cerimônias, mas um espaço privilegiado de encontro com Deus e de fortalecimento da identidade cristã. A liturgia, como expressão da fé comunitária, é um dos principais meios pelos quais a Igreja cumpre sua missão evangelizadora, promovendo a integração das famílias na vida eclesial. Segundo Bouyer:
A liturgia não é um simples conjunto de ritos que se repetem mecanicamente ao longo do tempo, mas a própria expressão da fé da Igreja, que convida os fiéis a uma participação ativa e consciente no mistério de Cristo. A celebração litúrgica, quando vivida em plenitude, torna-se um espaço privilegiado de evangelização, pois nela a Palavra de Deus é proclamada, os sacramentos são celebrados e a comunidade se fortalece na comunhão fraterna. Para a família cristã, a liturgia representa um momento essencial de encontro com Deus, de transmissão da fé aos filhos e de renovação do compromisso com os ensinamentos de Cristo. Assim, longe de ser um mero formalismo, a liturgia se revela como um caminho de santificação e uma fonte inesgotável de evangelização para toda a Igreja. [2]
No contexto da evangelização, a participação da família na liturgia tem sido amplamente estudada. A Constituição sobre a Sagrada Liturgia do Concílio Vaticano II, define a liturgia é a “fonte e o ápice da vida cristã”, e nela os fiéis são chamados a uma participação ativa e consciente. Essa participação inclui não apenas a presença física nas celebrações, mas também a compreensão e a vivência dos ritos litúrgicos no dia a dia. Estudos recentes indicam que as famílias que mantêm um vínculo forte com a liturgia apresentam maior engajamento na vida comunitária e um compromisso mais sólido com a missão evangelizadora da Igreja.
A Eucaristia é um dos aspectos mais abordados na literatura sobre evangelização familiar. Segundo Cantalamessa, a missa não é apenas uma celebração ritual, mas um momento de encontro profundo com Cristo e com a comunidade. A participação da família na celebração eucarística fortalece os laços familiares, pois ensina valores como a partilha, a comunhão e o perdão. O Catecismo da Igreja Católica também destaca que a Eucaristia é o centro da vida cristã e que sua celebração em comunidade reforça a identidade dos fiéis como Corpo de Cristo.
Além da Eucaristia, outros sacramentos desempenham um papel fundamental na evangelização das famílias. O Batismo, por exemplo, é o primeiro sacramento da iniciação cristã e insere a criança na comunidade de fé. De acordo com Ratzinger, o Batismo não deve ser visto apenas como um rito de passagem, mas como um compromisso permanente de viver a fé cristã no seio da família. Da mesma forma, o Matrimônio cristão é apresentado como um sacramento que fortalece a família como igreja doméstica, onde os valores do Evangelho são ensinados e praticados no cotidiano.
Segundo Jungmann, a catequese não deve ser separada da liturgia, pois ambas se complementam no processo de formação cristã. A liturgia, ao tornar visível a fé através dos ritos e símbolos, reforça o aprendizado doutrinal da catequese e permite que as famílias vivenciem os ensinamentos de Cristo de maneira concreta. Por isso, muitas paróquias têm investido em uma catequese litúrgica, incentivando as famílias a participarem mais ativamente das celebrações.
Dessa forma, fica evidente que a celebração litúrgica cristã é um elemento central na evangelização das famílias, proporcionando um espaço de encontro com Deus, fortalecimento da fé e vivência comunitária. Os estudos demonstram que a participação ativa das famílias na liturgia favorece a educação religiosa, a transmissão dos valores cristãos e a construção de uma espiritualidade sólida. Diante dos desafios contemporâneos, a pastoral litúrgica tem a missão de criar estratégias que incentivem uma vivência litúrgica mais profunda e transformadora, garantindo que a celebração continue sendo uma fonte eficaz de evangelização.
A Liturgia como Meio de Evangelização Familiar
A liturgia desempenha um papel central na evangelização familiar, pois é por meio dela que a fé cristã é transmitida, vivida e aprofundada no seio das comunidades e das famílias. A celebração litúrgica não se restringe a um conjunto de ritos e cerimônias, mas constitui uma experiência viva de encontro com Deus e com os irmãos na fé. Desde os primeiros séculos do cristianismo, a liturgia tem sido o principal meio pelo qual os ensinamentos de Cristo são comunicados e assimilados, tornando-se uma verdadeira escola de vida cristã.
Diante dessas reflexões, percebe-se que a liturgia é um meio eficaz de evangelização familiar, pois proporciona um espaço de encontro com Deus, fortalece os laços familiares e transmite a fé de maneira profunda e significativa. Como afirma Cantalamessa:
A liturgia é o lugar privilegiado onde a família cristã encontra forças para sua caminhada de fé. Não se trata apenas de um conjunto de ritos e tradições, mas de uma experiência real do mistério de Cristo, que deve ser vivida com intensidade e devoção. Quando a família participa ativamente da liturgia, ela não apenas fortalece sua identidade cristã, mas também se torna um canal de evangelização para as futuras gerações.[3]
A transmissão da fé ocorre de maneira especial por meio da participação ativa na liturgia, pois é na celebração dos sacramentos, na escuta da Palavra e na oração comunitária que os fiéis fortalecem sua identidade cristã. Essa participação não deve ser passiva, mas sim ativa, promovendo um envolvimento autêntico que favoreça o crescimento espiritual e a evangelização no contexto familiar.
A vida sacramental ocupa um espaço central na evangelização da família, uma vez que os sacramentos são sinais visíveis da graça divina. O Batismo, por exemplo, marca a inserção da criança na comunidade cristã e estabelece um compromisso dos pais em educá-la na fé. A Primeira Eucaristia e a Crisma reforçam esse compromisso, possibilitando um amadurecimento na caminhada cristã. A família que participa ativamente dos sacramentos se torna mais aberta à graça de Deus e mais disposta a testemunhar o Evangelho no dia a dia.
Os símbolos, ritos e orações desempenham um papel fundamental na formação cristã, pois ajudam a expressar e aprofundar o mistério da fé. Os gestos litúrgicos, como o sinal da cruz, a imposição das mãos e a proclamação da Palavra, possuem um significado profundo e educativo. Eles não apenas comunicam verdades doutrinais, mas também promovem uma experiência sensível da presença de Deus. Por meio desses elementos, a liturgia se torna um instrumento eficaz de evangelização, especialmente para as crianças, que aprendem a fé de maneira intuitiva e vivencial. Segundo Jungmann:
A liturgia tem um papel insubstituível na evangelização, pois nela a fé não apenas é anunciada, mas também vivida e celebrada. A família cristã, ao participar das celebrações litúrgicas, não apenas recebe o ensinamento da Palavra de Deus, mas é convidada a entrar em comunhão com Cristo e com a comunidade de fé. A experiência litúrgica, quando bem compreendida e vivenciada, fortalece os laços familiares, pois une pais e filhos em um mesmo espírito de oração e vivência cristã. Assim, a liturgia não é apenas um momento de culto, mas uma verdadeira escola de discipulado e compromisso com os valores evangélicos.[4]
A liturgia, portanto, não se limita a um conjunto de ritos, mas se configura como um verdadeiro caminho de discipulado cristão, em que a família é chamada a aprofundar sua fé e seu compromisso com Deus. Quando os membros de uma família participam juntos das celebrações, compartilham uma experiência de fé que fortalece os laços afetivos e espirituais. Esse envolvimento contribui para que os valores cristãos não fiquem restritos ao ambiente eclesial, mas sejam levados para a vida cotidiana, orientando atitudes e decisões conforme os ensinamentos de Cristo.
Além disso, a evangelização por meio da liturgia se torna mais eficaz quando as celebrações são compreendidas em sua profundidade e beleza. Para isso, é fundamental que haja uma catequese litúrgica contínua, ajudando as famílias a entenderem o significado dos gestos, orações e símbolos presentes no culto cristão. Dessa forma, a liturgia deixa de ser vista como uma simples formalidade religiosa e passa a ser vivida como um encontro transformador com Deus. A formação litúrgica das famílias, portanto, deve ser incentivada pelas pastorais, promovendo espaços de aprendizado e reflexão sobre a importância da participação ativa na vida da Igreja.
Diante desse contexto, percebe-se que a liturgia não apenas sustenta a fé da família cristã, mas também a impulsiona a ser missionária. A experiência celebrativa deve transbordar para a vida cotidiana, motivando gestos concretos de amor, serviço e testemunho cristão. Quando a família se deixa transformar pela liturgia, ela se torna, em si mesma, um sinal vivo do Evangelho, contribuindo para a renovação da comunidade e para a transmissão da fé às novas gerações.
A Influência da Celebração Litúrgica na Vida Doméstica
A celebração litúrgica exerce uma influência significativa na vida doméstica, pois a vivência dos ritos, orações e sacramentos se reflete no cotidiano das famílias cristãs. Ao participarem ativamente da liturgia, os membros da família encontram um espaço de fortalecimento espiritual e renovação da fé, o que contribui para a construção de um lar fundamentado nos valores evangélicos. A experiência litúrgica, quando bem compreendida e assimilada, não se restringe ao ambiente eclesial, mas se desdobra em atitudes concretas de amor, paciência, perdão e solidariedade dentro do lar.
Conforme destaca Guardini:
A liturgia não é apenas um conjunto de ritos e orações, mas uma verdadeira escola de espiritualidade que molda o coração humano e orienta a vida cotidiana. Quando a família participa ativamente das celebrações, absorve os valores cristãos que se refletem nas relações familiares, na educação dos filhos e na maneira como enfrenta os desafios da existência. Assim, a liturgia se torna um eixo central na formação de lares cristãos autênticos, nos quais a fé não é apenas professada, mas vivida em sua plenitude.[5]
O Papa Francisco, em Amoris Laetitia, salienta que a preparação pastoral precisa ser personalizada, considerando as diferentes realidades dos jovens. Ele afirma que a Igreja deve ser acolhedora, oferecendo um acompanhamento contínuo e uma orientação prática para os jovens, de forma a prepará-los para os desafios e alegrias do matrimônio. Segundo o Papa, a pastoral matrimonial deve levar em consideração o contexto cultural e social dos casais, para que eles possam viver plenamente a vocação ao matrimônio.
Nesse sentido, a liturgia se torna um canal de evangelização contínua dentro da família, pois incentiva a prática da oração, a leitura das Escrituras e a vivência dos ensinamentos de Cristo na rotina diária. Os momentos de celebração favorecem a interiorização dos valores cristãos, permitindo que os pais assumam o papel de primeiros catequistas de seus filhos. Assim, a casa se transforma em uma “igreja doméstica”, onde a presença de Deus é cultivada e testemunhada por meio das relações familiares.
Além disso, a participação na liturgia reforça a importância da comunhão e da unidade dentro do lar. Quando a família reza e celebra unida, fortalece os vínculos afetivos e espirituais entre seus membros, criando um ambiente de paz e harmonia. Os ensinamentos transmitidos na celebração litúrgica estimulam a prática da caridade, do respeito mútuo e do diálogo, elementos essenciais para uma convivência familiar saudável e cristã.
Conforme destaca Guardini:
A liturgia possui um valor formativo profundo, pois educa o ser humano para uma vivência autêntica da fé. Ela não apenas ensina doutrinas, mas imprime no coração dos fiéis um modo de ser e agir em conformidade com o Evangelho. Quando a família se envolve na celebração litúrgica, experimenta uma renovação interior que se reflete na vida cotidiana, transformando o lar em um ambiente de oração, amor e comunhão.[6]
Outro aspecto relevante é a influência da liturgia na educação moral dos filhos. Ao presenciarem os ritos e ouvirem a Palavra de Deus, as crianças e os jovens assimilam princípios éticos que guiarão suas escolhas e comportamentos ao longo da vida. A prática litúrgica, portanto, contribui para a formação de cidadãos comprometidos com a justiça, a solidariedade e o bem comum, refletindo o compromisso cristão com a transformação da sociedade.
A celebração litúrgica também auxilia as famílias a enfrentarem desafios e crises com esperança e resiliência. Nos momentos de dificuldade, a oração comunitária e a vivência dos sacramentos oferecem conforto espiritual e força para superar adversidades. A fé, alimentada pela liturgia, proporciona uma perspectiva mais ampla sobre a vida, incentivando a confiança na providência divina e na ação do Espírito Santo na caminhada familiar.
Nesse contexto, é essencial que a Igreja promova iniciativas que incentivem a participação familiar na liturgia, por meio de catequeses, encontros pastorais e formações litúrgicas. Quanto mais as famílias compreenderem a riqueza da celebração litúrgica, mais estarão dispostas a integrar seus ensinamentos no cotidiano, tornando a fé um elemento vivo e atuante na dinâmica familiar.
Desafios e Perspectivas para a Evangelização por meio da Liturgia
A evangelização por meio da liturgia enfrenta diversos desafios na contemporaneidade, especialmente diante das mudanças socioculturais que impactam a vivência da fé nas famílias. A secularização, a influência das novas tecnologias e a falta de tempo devido ao ritmo acelerado da vida moderna são fatores que dificultam a participação ativa dos fiéis nas celebrações litúrgicas. Diante desse cenário, é fundamental que a Igreja repense estratégias para tornar a liturgia mais acessível e significativa, promovendo um reencontro das famílias com a riqueza espiritual que ela oferece.
Um dos principais desafios é a falta de compreensão do significado profundo dos ritos litúrgicos. Muitas vezes, os fiéis participam das celebrações de maneira mecânica, sem plena consciência do valor espiritual e evangelizador da liturgia. Para Guardini:
A liturgia não é um espetáculo a ser assistido passivamente, mas um mistério a ser vivido intensamente. Somente quando os fiéis compreendem sua dimensão sagrada e participam ativamente dela, a liturgia se torna fonte de transformação espiritual.[7]
A citação de Guardini destaca a necessidade de uma catequese litúrgica contínua, que auxilie os fiéis a assimilarem o verdadeiro significado da celebração. Para isso, é importante que as paróquias ofereçam momentos de estudo e reflexão sobre a liturgia, incentivando um envolvimento mais consciente e frutuoso por parte das famílias.
Outro desafio relevante é a dificuldade de atrair os jovens para a vivência litúrgica. Muitas vezes, as novas gerações percebem as celebrações como algo distante de sua realidade, o que pode levar ao afastamento da Igreja. Para superar esse obstáculo, é essencial adaptar a linguagem e as formas de celebração sem comprometer a essência da liturgia, tornando-a mais dinâmica e significativa para os jovens.
Além disso, a pandemia de COVID-19 trouxe novos desafios para a evangelização por meio da liturgia, obrigando as comunidades a adotarem transmissões online das celebrações. Embora essa medida tenha permitido a continuidade da prática litúrgica, também revelou a importância da participação presencial na construção da comunhão e do senso de pertencimento à comunidade. O retorno gradual às celebrações presenciais exige da Igreja um esforço para reacender nos fiéis o desejo de vivenciar a liturgia em comunidade.
A família desempenha um papel central na superação desses desafios, pois é no ambiente doméstico que se constrói a base para a vivência da fé. Quando os pais incentivam a participação ativa na liturgia e testemunham a importância da oração e dos sacramentos, fortalecem o compromisso cristão de seus filhos. Nesse sentido, a pastoral familiar pode ser um grande apoio na promoção de ações que integrem a liturgia à rotina das famílias, ajudando-as a compreender seu valor evangelizador.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As celebrações litúrgicas desempenham um papel essencial na evangelização, especialmente no contexto familiar. A liturgia, por meio da música, da arte sacra e dos ritos simbólicos, permite uma experiência profunda do sagrado e contribui para a formação espiritual dos fiéis. Ao longo deste estudo, verificou-se que a liturgia não é apenas um conjunto de rituais, mas um meio eficaz de transmitir a fé, fortalecendo a identidade cristã e incentivando uma participação mais ativa da família na vida eclesial.
No entanto, a evangelização por meio da liturgia enfrenta desafios significativos na contemporaneidade. A secularização da cultura e a superficialidade estética presentes em algumas celebrações litúrgicas podem comprometer a eficácia da transmissão da fé. É necessário um esforço contínuo para manter a autenticidade e a profundidade da liturgia, garantindo que os elementos musicais e artísticos sejam utilizados de maneira coerente com a espiritualidade cristã.
Outro desafio diz respeito à participação ativa das famílias na liturgia. Muitas vezes, a vida moderna impõe um ritmo acelerado que dificulta o envolvimento dos fiéis na comunidade eclesial. Para superar esse obstáculo, é essencial que a Igreja promova uma pastoral litúrgica acolhedora e formativa, incentivando as famílias a vivenciarem a fé não apenas no templo, mas também em seu cotidiano.
Apesar dos desafios, há perspectivas promissoras para a evangelização por meio da liturgia. O resgate de tradições litúrgicas, o incentivo à formação de músicos e artistas sacros e a valorização da participação ativa da comunidade são estratégias que podem fortalecer a vivência da fé e tornar as celebrações mais significativas. A Igreja, ao reconhecer a importância da liturgia como fonte de evangelização, pode impulsionar um renovado ardor missionário entre os fiéis.
Nesse sentido, conclui-se que a liturgia não apenas celebra a fé, mas a transmite e fortalece. Quando bem orientada, ela se torna um poderoso instrumento de evangelização, capaz de sensibilizar os corações e transformar vidas. Cabe à Igreja e às famílias promoverem uma vivência litúrgica autêntica, que não se limite ao cumprimento de ritos, mas que conduza a uma verdadeira experiência de Deus.
Por fim, a evangelização por meio da liturgia depende do comprometimento da comunidade eclesial em preservar a riqueza desses elementos e em oferecer aos fiéis celebrações que verdadeiramente expressem o mistério da fé cristã.
REFERÊNCIAS
ASSUNÇÃO, Carlos. A música litúrgica na tradição da Igreja: fundamentos e aplicações pastorais. São Paulo: Paulinas, 2018.
BORDONI, Mariano. Arte sacra e espiritualidade: um caminho para a contemplação do mistério cristão. Roma: Libreria Editrice Vaticana, 2017.
CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. 2. ed. São Paulo: Loyola, 2000.
FRANCISCO. Carta Apostólica Desiderio Desideravi sobre a formação litúrgica do povo de Deus. Vaticano, 29 de junho de 2022. Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/apost_letters/documents/20220629-lettera-ap-desiderio-desideravi.html. Acesso em: [data de acesso].
GUARDINI, Romano. O Espírito da Liturgia. 2. ed. São Paulo: Loyola, 2011.
JOÃO PAULO II. Carta Encíclica Ecclesia de Eucharistia. Vaticano, 2003.
RATZINGER, Joseph. Introdução ao Espírito da Liturgia. São Paulo: Loyola, 2005.
SOUZA, Maria Clara. Evangelização e Liturgia: desafios e perspectivas no século XXI. Belo Horizonte: O Lutador, 2019.
VIGIL, Diego. Símbolos e Ritos na Tradição Cristã: uma abordagem litúrgico-teológica. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2020.
[1] Mestrando em Teologia Sistemático Pastoral, PUC-Rio (Rio de Janeiro). Especialista em Pastoral pela Faculdade Jesuíta de Belo Horizonte. Bacharel em Comunicação-Publicidade e Propaganda pela FANORPI. Graduado em Filosofia pelo Seminário Rainha da Paz e Teologia pelo Seminário Divino Mestre, ambos Diocese de Jacarezinho-PR. Atualmente Assessor da Comissão Episcopal para a Vida e a Família da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e Secretário Executivo Nacional da Pastoral Familiar.
[2] BOUYER, Louis. Introdução à Vida Espiritual: Baseada na Liturgia e na Teologia dos Padres da Igreja. São Paulo: Editora Paulus, 2010, p. 112.
[3] CANTALAMESSA, Raniero. A Liturgia como Fonte de Vida Cristã. São Paulo: Editora Loyola, 2012, p. 89.
[4] JUNGMANN, Josef A. Teologia da Liturgia Cristã: A Liturgia como Fonte de Evangelização. São Paulo: Editora Paulus, 2014, p. 175.
[5] GUARDINI, Romano. O Espírito da Liturgia. São Paulo: Editora Loyola, 2011, p. 110.
[6] GUARDINI, Romano. O Espírito da Liturgia. São Paulo: Editora Loyola, 2011, p. 92.
[7] GUARDINI, Romano. O Espírito da Liturgia. São Paulo: Editora Loyola, 2011, p. 57.
*Foto: Banco de Imagens/Unplash