A pandemia da Covid-19, com a necessidade de isolamento e distanciamento social, pôs em evidência os problemas causados pela solidão. Sobre essa temática, a Federação das Associações de Famílias Católicas na Europa (FAFCE) realizou na última quinta-feira, 13 de maio, um webinário sobre o tema “A Família: antídoto para a solidão, além da pandemia”.
O evento gerou uma discussão sobre a importância da família como uma força de coesão, unidade e paz. Os palestrantes da Europa e do Oriente Médio falaram sobre a versatilidade da família e sobre sua capacidade única de satisfazer a necessidade universal das pessoas por amor, intimidade e pertencimento.
O presidente da FAFCE, Vincenzo Bassi, falou do contexto da pandemia, em que o sofrimento e a exclusão são proporcionais à solidão, como evidenciado pelas experiências daquelas pessoas que tiveram que ficar longe da família e amigos. “A solidão é a verdadeira e generalizada pandemia dos nossos tempos, que só foi trazida à luz pela pandemia da covid”, disse.
Bassi destacou uma dupla separação: entre indivíduos e famílias e entre famílias e sua comunidade. “Essas separações intensificam a experiência de solidão e exigem atenção imediata”, segundo Vincenzo. Nesse sentido, as associações familiares constituem o melhor meio de fazer a ponte entre essas separações e inserir indivíduos e famílias no tecido de suas comunidades.
Esperança às comunidades perseguidas
A chefe do Escritório da UE para Ajuda à Igreja que Sofre, Marcela Szymanski, ressaltou um sinal de esperança diante das comunidades cristãs perseguidas e em luta em todo o mundo. Nesse cenário, a esperança é ver Deus prover o florescimento de comunidades e culturas em circunstâncias inesperadas. Szymanski partilhou a história de uma família palestina em Gaza.
“Num Natal, quando uma família palestina em Gaza, que é governada pelo Hamas desde 2007, se sentou para jantar, o pai fez um anúncio surpreendente. Ele havia se convertido ao cristianismo, disse ele, e esperou pelo Natal para compartilhar sua alegria em sua nova fé, independentemente do perigo de fazê-lo e das dificuldades que tal decisão poderia causar. Ao observar as reações de sua família, uma de suas filhas ergueu os olhos e disse: “Eu também”. Então sua esposa fez o mesmo. Em seguida, sua segunda filha. Em seguida, sua terceira filha. Descobriu-se que suas três filhas e esposa também haviam se convertido secretamente.“
contou Marcela Szymanski
Em uma área onde a punição para a conversão é de pelo menos seis anos de prisão, Marcela destacou que esse pai, sua esposa e suas três filhas encontraram consolo e aceitação. “Eles não foram rejeitados como esperavam. Em tempos de medo e perseguição, e certamente de solidão, todos pensaram que estavam sozinhos, mas não foi o caso ”, resumiu Szymanski. Milhões de experiências como essa acontecem todos os dias graças à intimidade única da família.
O casamento que é a base da sociedade
Maria Steen, representante da Family Solidarity Ireland, seguiu esta intervenção comovente com uma crítica igualmente poderosa da tendência cada vez mais utilitária na cultura europeia e uma afirmação do papel inestimável das crianças e famílias na reintrodução desta cultura para o amor. Ela observou que, à medida que aumenta a idade média das mulheres que se tornam mães pela primeira vez, grande parte da resistência ao casamento e à formação de uma família decorre do fato de que “muitos jovens foram afetados por experiências negativas de casamento dentro de suas próprias famílias”.
“Os jovens têm que carregar essa bagagem emocional, além de uma denúncia implacável da sociedade das crianças como ambientalmente problemáticas. “Mas as crianças são boas, independentemente do que os ‘contadores de feijão’ possam dizer”.
Maria Steen
“Apesar do que o mundo nos diz, é o casamento que é a base da sociedade, e o casamento para o qual devemos dedicar nossa atenção. Família é a vida íntima de uma vida em comum … Ela precisa de um compromisso para sempre em sua essência”.
O casal Najwa e Nizar Halasah apresentou as atividades e a história das Equipes de Nossa Senhora na Jordânia. O movimento familiar, partilharam, começou com a exortação aos casais para “nutrirem a fé no todo-poderoso carinho de Nossa Senhora e que cada casal experimente a confiança e a segurança que os filhos pequenos sentem na presença da mãe”.
Sua participação nas Equipes de Nossa Senhora está relacionada ao compromisso que inclui encontrar-se com vários outros casais para orações semanais, reuniões mensais e retiros anuais, entre outras atividades com efeito positivo no casamento e na vida familiar.
Outra partilha do webinário, a partir da Hungria, apresentou o trabalho do movimento 72 Discíulos e referiu-se a essa ‘grande família’ como “o melhor seguro para uma vida cristã!”. Nesse sentido, as famílias devem testemunhar sua fé como meio de evangelização e de aproximação com outras pessoas na mesma fé.
A família diante da solidão
O Vigário para a Jordânia e bispo auxiliar do Patriarcado Latino de Jerusalém, Dom William Shomali, concluiu o encontro destacando a “Importância da família diante da solidão”. Esse problema existia com o primeiro homem, segundo o bispo, quando “o Senhor viu que Adão estava triste porque estava sozinho”.
Dom William destacou o aumento de suicídios durante a pandemia como prova da necessidade humana arraigada de comunhão e intimidade. Ele também refletiu sobre sua própria experiência de recuperação da Covid-19, período no qual passou um mês sozinho em um quarto e se comunicava apenas por telefone ou por porta fechada. Disse que essa experiência o sintonizou com o sofrimento daqueles para quem a solidão é uma condição permanente e reafirmou sua convicção de que a Igreja deve ir ao encontro dos solitários como puder.
Sua intervenção também fez referência ao recente surto de violência na Terra Santa, que ele vinculou ao tema do webinário: “Assim como as organizações cristãs geralmente contribuem para a reconstrução de áreas danificadas pela violência e pela guerra, também as organizações cristãs devem reconstruir as almas devastadas pela solidão”.
Com informações do Monitor Internacional da Família e da Federação das Associações de Famílias Católicas na Europa Foto de capa: reprodução/FAFCE