O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) iniciou a divulgação dos primeiros resultados do Censo 2022. Os dados revelam que a população brasileira é de 203 milhões de pessoas e que a taxa de crescimento anual foi de 0,52%. O doutor em Ciências da Religião e professor da Universidade Federal do Espírito Santo, Edebrande Cavalieri, escreveu para o site da arquidiocese de Vitória (ES) e indicou pontos que devem ser observados para as lideranças que atuam com pastoral familiar.
“Estamos diante da menor taxa de crescimento populacional. Isso significa que não se repõe nem mesmo o número atual da população. Estimava-se que a população do Brasil chegasse a 213 milhões de pessoas, mas na verdade chegamos apenas a 203 milhões. A taxa de crescimento decaiu de 1,17% em 2010 para 0,52%”, sublinhou o professor.
Os números revelam várias questões que deverão nortear os cuidados nas diversas ações de planejamento e educação, além da questão relacionada ao cuidado pastoral das famílias.
“Com esses dados, vai desaparecendo aquela imagem de se entrar numa casa e encontrar muitas pessoas morando. Eram famílias com elevado número de filhos. Algumas questões podem ser feitas e refletidas e colocadas sobre a mesa de diversas organizações principalmente as Igrejas. Como iremos pensar a pastoral familiar nesse novo contexto social?”, questiona.
Ele coloca sob análise o crescente número de casais que fizeram a opção de não ter filhos, a preocupação do Papa Francisco com a presença dos avós e dos idosos nas famílias, as residências com apenas um morador e as doenças mentais decorrentes da solidão.
“O que está levando as pessoas, os casais, as famílias a reduzirem o número de filhos, levando a essa situação de decrescimento populacional? Será que se trata apenas de uma escolha subjetiva, baseada num comodismo? Estamos atentos mesmo com a realidade social de nossas cidades? Ou estamos colocando a pobreza debaixo do tapete e olhando apenas a violência das armas de fogo atingindo prédios mais próximos?”, provoca.
Diante dos questionamento, Cavaliere propõe a ampliação da análise dos dados demográficos para observar o conjunto de fatores que estão interferindo diretamente no modo de organização da sociedade e sua geração. Entre os fatores, ele cita a crise econômica aliada com a dificuldade de mercado de trabalho; o crescimento dos custos com educação dos filhos e com saúde; os cenários de violência nas escolas.
Segundo o professor, a Igreja terá nesse novo cenário demográfico resultante da pesquisa “o desafio de pensar um projeto pastoral afastando posturas românticas ou abstratas, desligadas da realidade concreta”.
Ele cita a proposta do Pacto Global pela Família para aproveitar os estudos e pesquisas desenvolvidos nas universidades a respeito das temáticas familiares em diálogo com o trabalho pastoral, de modo a favorecer a cultura da família e da vida na sociedade. “Tais estudos deveriam servir para ajudar as novas gerações em tempos de carestia de esperança a estimar o matrimônio, a vida familiar com seus recursos e desafios, a beleza de gerar e proteger a vida humana”, sublinha.