Quando olhamos o horizonte sentimos que ele nos atrai e nos mobiliza a caminharmos ainda mais. O horizonte é aquilo que normalmente olhamos de frente, contemplando a beleza e vendo onde termina um dia e por onde outro dia é iniciado. Acredito que olhar para as realidades que se apresentam a nós não é uma experiência diferente. Enquanto alguns voltam as costas para o que se apresenta, para os desafios, para as propostas ou para aquilo que nos deveria mobilizar, outros sentem um apelo de prosseguir, de ir mais longe, ou pensando na perspectiva de Jesus a beira do lago ” ir para águas mais profundas” (cf. Lucas 5,4) em busca daquilo que ainda não se pescou, não se alcançou.
Assim todo trabalho assumido nos traz o conforto do que já foi conquistado e construído, e o desafio do que ainda está por vir. Os trabalhos que envolvem a promoção e a defesa, tanto da vida como da família, não são diferentes. Mas no âmbito religioso o trabalho com a vida e a família transcende aspectos meramente sociológicos e culturais, e nos leva a pensar num cuidado de pastor a exemplo daquele que ao criar a família humana delegou a ela, no homem e mulher primordiais, o trabalho do cuidado um com o outro, de ambos com o mundo, com a natureza, com o ser criado.
O tempo que vivemos nos apresenta desafios muito claros em relação à missão pastoral de todos aqueles que se percebem e se assumem dentro deste projeto criador e salvador, da vida e dos relacionamentos que fazem a vida ter sabor, alegria e sentido, no âmbito de uma família. Somos desafiados a identificar e combater as forças que militam contra a vida, disfarçadas em “pseudo-humanismo” moderno, feminismo ou outros “ismos” que são criados para confundir e iludir as pessoas bem intencionadas e a própria sociedade. Desafiados a perceber os artifícios que buscam desestruturar a compreensão dos valores humanos e familiares que, são também por definição, evangélicos, uma vez que o “Evangelho” é a boa notícia para o homem e para o mundo. Boa notícia que Aquele que nos chamou à vida, que nos quis felizes e salvos, que nos favoreceu uma existência pautada pelo relacionamento, pelo acolhimento, pelo cuidado, pelo estar na vida do outro, não nos abandona, mas continua nos acompanhando e nos livrando das “ciladas” propostas pelos reducionismos humanos.
Vida e Família são os horizontes que contemplamos a partir do que somos, do que cremos, do que sonhamos e do que buscamos… Estas duas realidades entrelaçadas nos chamam a posicionamentos e atividades para que o mundo se torne segundo o sonho de Deus, lugar de relacionamentos saudáveis, verdadeiros, onde, através do outro que amamos humanamente, chegamos Àquele que nos ama e nos chama.
É preciso reconhecer o valor da vida e da família. Só assim perceberemos como vale a pena lutar, trabalhar, esforçar-se em favor de ambas. Aproxima-se, neste segundo semestre, dois momentos fortes: Semana Nacional da Família (em agosto) e Semana Nacional da Vida (em outubro). Duas oportunidades de demonstrarmos, como Igreja e como cidadãos, não só aquilo que cremos, mas também aquilo que desejamos para nossas famílias, para nossas cidades e para nosso País. Lugares onde a vida é acolhida, valorizada, respeitada e protegida, não importa como aconteça. Se a vida aconteceu, o dom de Deus está se concretizando no meio de nós.
Aproveitemos para valorizar nosso viver e nossa família. Não sejamos como aquele homem distraído que passeando pela praia encontrou uma pequena bolsa de couro. Descobriu dentro dela algumas pedrinhas brilhantes que pensou serem apenas pedras. Distraidamente foi jogando-as na água e desfazendo-se delas. Restando-lhe apenas uma, guardou-a e, mais tarde, mostrou a um amigo e, assustado ouviu dele: “Você achou um diamante!”. No seu desespero ele dizia: “Joguei fora uma fortuna incalculável, por não saber o que tinha em minhas mãos e o seu verdadeiro valor!” Que conosco não seja assim.
Olhe atentamente o que é a vida, dom precioso de Deus. Reflita o que realmente é a família. Dois dons preciosos, dois presentes que Deus concede. A vida é um presente para o mundo, pois uma pessoa nascida pode mudar tanta coisa no mundo. A família é um presente para a pessoa, pois uma família abençoada dá à pessoa as condições de crescer ou de se transformar.
É com este pensamento que eu entro neste novo tempo de minha vida, de meu sacerdócio e de meu serviço dentro deste Projeto de cuidado pastoral com a Vida e a Família, na CEPVF e na CNPF.
Padre Moacir Silva Arantes
Assessor nacional da Comissão para a Vida e a Família da CNBB
Comissão Nacional da Pastoral Familiar (CNPF)