O Papa Francisco falou, nesta sexta-feira, aos participantes da Assembleia Plenária da Congregação para a Doutrina da Fé do Vaticano. Entre os presentes, o arcebispo de Belo Horizonte (MG) e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Walmor Oliveira de Azevedo. Em seu discurso, o Papa partilhou uma reflexão em torno de três palavras: dignidade, discernimento e fé.
Dignidade
Francisco recordou a encíclica Fratelli Tutti para destacar que o reconhecimento da dignidade de cada pessoa humana é o “caminho principal” para alcançar a fraternidade humana.
“Em nossa época, porém, marcada por tantas tensões sociais, políticas e até sanitárias, cresce a tentação de considerar o outro como um estranho ou um inimigo, negando-lhe uma real dignidade. Por isso, especialmente neste momento, somos chamados a recordar, “em todas as ocasiões oportunas e não oportunas” (2 Tm 4,2), e seguindo fielmente um ensinamento eclesial milenar, que a dignidade de cada ser humano tem um caráter intrínseco e é válido desde o momento de sua concepção até sua morte natural.“
Papa Francisco
A afirmação da dignidade humana é, segundo o Papa, “a condição indispensável para a proteção da existência pessoal e social, e também a condição necessária para que a fraternidade e a amizade social se realizem entre todos os povos da terra”.
Discernimento
Ao falar do discernimento, Francisco contextualizou a “mudança de época que atravessamos”. Nessa realidade, “se por um lado os crentes se encontram diante de questões novas e complexas, por outro, aumenta uma necessidade de espiritualidade que nem sempre encontra seu ponto de referência no Evangelho”.
Nesse sentido, “o exercício do discernimento encontra então um campo de aplicação necessária na luta contra os abusos de todo tipo”, disse, recordando o compromisso da Igreja “em fazer justiça às vítimas dos abusos cometidos pelos seus membros”.
Francisco destacou o discernimento também para a realidade da família. Ele sublinhou os casos de “dissolução do vínculo matrimonial em favorem fidei“.
“Quando, em virtude do poder petrino, a Igreja concede a dissolução do vínculo matrimonial não sacramental, não se trata apenas de pôr termo canônico a um matrimônio, que de fato já fracassou, mas, na realidade, por meio deste ato eminentemente pastoral, quero dizer sempre favorecer a fé católica – in favorem fidei! – na nova união e na família, da qual este novo casamento será o núcleo”.
Papa Francisco
Ainda sobre o discernimento, Francisco relacionou com o processo sinodal.
“É necessário – no processo sinodal – discernir continuamente opiniões, pontos de vista, reflexões. Não se pode percorrer o caminho sinodal sem discernir. Este discernimento é o que fará do Sínodo um verdadeiro Sínodo, do qual a pessoa mais importante – digamos – é o Espírito Santo, e não um parlamento ou um inquérito de opiniões que a mídia pode fazer. Por isso sublinho: o discernimento no processo sinodal é importante.”
Papa Francisco
A fé
Por fim, ao refletir sobre a fé, cuja Congregação tem a função de defender e promover, Francisco disse que sem ela, “a presença de crentes no mundo seria reduzida à de uma agência humanitária”.
“A fé deve ser o coração da vida e da ação de cada batizado. E não uma fé genérica ou vaga, como se fosse um vinho aguado que perde valor; mas uma fé genuína e sincera”.
“Não fiquemos satisfeitos com uma fé morna, habitual, de livro didático. Colaboremos com o Espírito Santo e colaboremos para que o fogo que Jesus veio trazer ao mundo continue queimando e inflamando os corações de todos”, afirmou o Papa.
Foto de capa: Vatican News